O que Ismael Silva, João da Baiana, Pixinguinha, Nelson Sargento, Xangô da Mangueira, Donga, Carlos Cachaça, Tia Ciata, Nelson Cavaquinho, Heitor dos Prazeres, Aracy de Almeida, Elizeth Cardoso, Elza Soares, Zé Keti, Nara Leão, Clementina de Jesus, Paulinho da Viola, Beth Carvalho e Hermínio Belo de Carvalho, apenas para citar alguns, tem a ver? Qualquer um que conhece minimamente a música popular brasileira sabe a resposta. Quem não sabe, que fique sabendo, é o amor pelo samba. E mais do que isso, foram nomes que fizeram parte da vida do Cartola de alguma forma.
Todas essas pessoas são citadas no documentário,
Cartola: música para os olhos, que conta a história de vida do sambista mangueirense, ao mesmo tempo em que vários sambas e sambistas são apresentados. A estratégia do diretor talvez se justifique pelo fato de que a vida do Cartola se confunde com a própria história do surgimento e consolidação do samba enquanto elemento cultural brasileiro. Nesse sentido, defende-se a tese de que a história do ethos carioca equivale ao desenvolvimento do samba, seja ele o jeito boêmio ou malandro. Sem falar do fato das escolas de samba, os berços dos bambas, terem contado a história do Brasil em uma época em que se buscava uma identidade para o país. Um exemplo disso são os enredos sobre história do Brasil tratados pela ótica dos negros, vide, por exemplo, os desfiles do Salgueiro do final dos anos de 1950 e início de 1960.
No entanto, no filme também tem espaço, claro, para o protagonista Cartola. A película que é “regada” pelas belíssimas composições de sua autoria, narra entre outras coisas da sua vida, o seu encontro com Dona Zica. Fato marcante também é a passagem pela casa de samba ZiCartola que reuniu, na década de 1960, a nata dos sambistas cariocas. Enfim, são contados momentos desde o seu nascimento até a sua morte em 1980. O ostracismo vivido nos anos de 1950 e o ressurgimento do poeta que foi um dos fundadores da Mangueira nos idos de 1960.
Com relação a críticas negativas, tenho duas. A primeira é sobre o áudio. É verdade que a história é muitas vezes contada pelos próprios personagens da trama, e isso foi conseguido através de arquivos pessoais, e de gravações feitas há muitos anos. No entanto, não são justificativas para a má qualidade sonora, muitas vezes o que está sendo dito não é compreensível. E a segunda, é sobre a estratégia não muito boa de utilizar trechos de outros filmes para ilustrar momentos da história brasileira, achei que eles mais atrapalham do que ajudam. Entretanto, nada disso tira o brilho da produção, aliás, com relação à primeira crítica, chama atenção para uma melhor conservação do acervo cultural brasileiro. Enfim, é esse é um daqueles filmes essenciais para quem gosta de música brasileira. É a história de um brasileiro comum, que por uma daquelas coisas inexplicáveis tornou-se um dos maiores poetas populares, para alguns, o maior.
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Cartola - Música para os olhos, Brasil - 2006. Dirigido por Lírio Ferreira e Hilton Lacerda. 85 minutos. Gênero: Documentário, Biografia.
Nota: 8.0