segunda-feira, 14 de março de 2011

Salò o le 120 giornate di Sodoma (1976)

Foto 1 - Cena do filme Salò o le 120 giornate di Sodoma

Numa Itália em pleno regime totalitário, Pasolini disserta sobre o descontrole do poder em um verdadeiro ‘teatro dos horrores’. Um grupo de importantes personalidades da sociedade italiana ligadas à Igreja e ao Estado se une para realizar os seus desejos mais íntimos e indizíveis. Esse é um filme que desperta no espectador sensações – as mais diversas e imagináveis - associado ao fato que Pasolini filma tudo com realismo extremo. É verdade, qualquer um poderia classificar o filme como nojento, sádico, repugnante ou adjetivos que os valham. E certamente, você não estaria errado/a. A verdade é que o diretor - sempre crítico nas suas produções - tem uma mensagem por trás de toda essa encenação. Não à toa, a película se passa em pleno regime de Mussolini, e os protagonistas são figuras ligadas a altos escalões do governo e à Igreja Católica Romana.

Após ver o filme, surgem questões: Existem instintos? O que é o poder absoluto de uns sobre outros? O que pode causar o poder quando não controlado? Fantoches é isso que se torna uma pessoa em uma situação caótica, como a mostrada em '120 dias de Sodoma'. Ressalva é necessária porque há alguns ‘fantoches’ que dependendo do cenário proposto pelo executor, também sente prazer. Há algumas cenas que evidenciam essa realidade. Contudo, em algumas das discussões fala-se que o prazer não está na morte dos indivíduos, mas na possibilidade de repetir determinada ação infinitas vezes. Ou seja, o sofrimento do outro é um elemento fundamental para a realização dos desejos dos executores.

Além disso, e o mais importante, ela é uma película que nunca ficará datada. Afinal de contas, ela trata da hipocrisia tão bem disfarçada naquela sociedade, sociedade que tem como alicerces a moral, a religião e os bons costumes. Não é um filme para todos os estômagos, quem quer vê-lo por pensar na excitação que as cenas de nudez podem proporcionar irá se decepcionar, principalmente, à medida que o longa se desenvolve e juntamente as perversões. O que é preciso enfatizar é que o diretor desenvolve uma alegoria do momento político que a Itália, em particular, e o mundo, em geral, viviam. O filme é um espetáculo de torturas, humilhações e morte que se confunde perfeitamente com a barbárie para além dos muros do Cinema – cujo espectador vivia. Não é sem propósito que dentro da casa apenas o sexo forçado é aceito. Assim, o sadomasoquismo é a expressão máxima da opressão/imposição e, portanto, qualquer relação que fuja a esse princípio torna-se discriminável e passível à morte. Ao ver ‘120 dias de Sodoma’, tentem esquecer o escatológico, e reflitam sobre o mundo nos idos dos anos de 1940, você verá que a película fará bem mais sentido.
-------------------------------------------------------------------------------------------------
Salò o le 120 giornate di Sodoma (Saló ou os 120 Dias de Sodoma), França/Itália - 1976. Dirigido por Pier Paolo Pasolini. Com: Paolo Bonacelli, Giorgio Cataldi, Umberto Paolo Quintavalle, Aldo Valletti. 117 minutos. Gênero: Drama.

Nota: 9.0

0 comentários:

Postar um comentário