quinta-feira, 23 de setembro de 2010

The Reader (2008)

Foto 1 - Kate Winslet como Hanna Schmitz

O Leitor tenta levar o espectador ao choro através de uma estratégia já utilizada por Cinema Paradiso. No primeiro, as lembranças são reavivadas com fitas que contém histórias lidas no passado, no último, passagens de filmes censurados são reunidos e dão movimento a fatos e imagens presentes no imaginário do personagem principal. Bom, é verdade que ambas as passagens tiveram, em mim, o efeito pretendido pelo roteirista e diretor dos filmes. No entanto, o impacto sentido em O Leitor já não foi o de surpresa, nem de embasbacamento, visto que em Cinema Paradiso víamos uma ode ao Cinema, ao que em mim tocou mais profundamente.

O tema “memória” é algo recorrente na cinematografia, e é a esse mote que O Leitor se agarra. Tratando a vida como repleta de acasos e encontros casuais, o roteirista David Hare, o mesmo de As Horas, monta um quebra-cabeças inicialmente amoroso e por fim trágico. Ao passar mal, Michael (David Kross) conhece Hanna Schmitz (Kate Winslet), uma mulher que com o passar do tempo, superficialmente, aparenta não possuir sentimentos, a não ser, quando é inserida no mundo da literatura. Ela possui uma “estranha” paixão pelas histórias, e descobre em Michael a oportunidade de vivenciar aquilo que nunca poderia fazer sozinha. Em contrapartida, o jovem Michael beirava os 15/16 anos, estava com os hormônios em alta, então o incentivo encontrado por Hanna foi iniciar o garoto no sexo. A cada nova leitura, o rapaz tinha “direito” a uma nova transa. Enfim, grande parte do filme concentra-se nesse momento. No entanto, o “casal” se separa da mesma forma como se formou, abruptamente. Anos mais tarde, se encontram, só que de uma maneira não muito agradável.

Kate Winslet demonstra toda a sua técnica ao construir uma personagem claramente marcada pelo “moinho da vida”. Uma mulher que visivelmente sofreu e sofre com a vida. Incisiva, enfática, dura, tão complexa e multifacetada que um garoto de 15 anos não seria capaz de entender, e muito menos ajudar. Contudo, ficam duas questões: Kate Winslet ao interpretar Hanna beirando seus 60/70 anos, é uma senhora ou apenas uma senhora com maquiagem, com jeitão de 30 anos? E a segunda que já não tem a ver com a interpretação dela: Será que ela é a personagem principal do longa? O Oscar de melhor atriz foi justo? Não lhe caberia um Oscar de atriz coadjuvante? Mas apesar disso, sem dúvidas é um prazer vê-la em cena.

Sobre o filme vários temas são abordados, mas será que eles são tratados apropriadamente? A primeira parte eu acho que sim, a relação e os encontros amorosos dos dois são perfeitos, percebe-se uma sinergia positiva nas atuações. Entretanto, na outra metade do filme, há um problema ao se tratar uma questão tão complexa como dos crimes nazistas de forma tão abrupta e como gancho para realizar o link entre o passado e o futuro dos personagens. A sorte é que nas cenas vemos uma atriz gabaritada, caso contrário, o longa estaria fadado ao fracasso. Pela Kate Winslet vale a indicação da película!
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The Reader (O Leitor), Alemanha/Estados Unidos - 2008. Dirigido por Stephen Daldry. Com: Kate Winslet, Ralph Fiennes, David Kros. 124 minutos. Gênero: Drama, Romance.

Nota: 8.5

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Far From Heaven (2002)

Foto 1 - Julianne Moore como Cathy Whitaker

Presteza que beira ao conformismo define bem Cathy Whitaker (Julianne Moore)? Seria Cathy a Amélia de Ataulpho Alves e Mário Lago? Em uma sociedade totalmente pautada pelas aparências, onde os resultados do sucesso dependiam únicos e exclusivamente, da sua reputação, Cathy para além da síndrome de Amélia, não era apenas uma mulher fútil e afetada, como muitas da sua classe social. No entanto, em pouco tempo, sua vida desmorona. Antes presente na coluna social de sua cidade, tida como possuindo o modelo ideal de família, acaba sem ninguém a sua volta.

Nos momentos iniciais de “Longe do Paraíso”, escrito e dirigido por Todd Haynes, tive a impressão de estar em um dos épicos de Tennessee Williams, filmado por Elia Kazan. Ninguém melhor que esse dramaturgo americano retratou nas páginas dos livros as tensões vividas pelos homossexuais. E o homossexualismo é um dos elementos com que Cathy se depara. Mãe de duas crianças, e casada com Frank Whitaker (Dennis Quaid), descobre que seu marido é gay. Em busca de uma correção desse comportamento “desviante”, ele procura terapia tentando se livrar do “mal” que o faz se interessar por homens.

Outro tema tratado no longa é a questão racial. Cathy que se interessava por arte moderna, também era defensora dos direitos civis dos negros, uma mulher bastante avançada para a sociedade conservadora dos anos de 1950. Com seu casamento já em declínio, ela passa a conviver com seu jardineiro (Dennis Haysbert) e isso terá profundas conseqüências tanto para a própria Cathy, quanto para o próprio jardineiro.

Esteticamente o filme é belíssimo, a fotografia é de um primor que enche os olhos a cada tomada. A película foi feita para ter um clima de perdido no tempo, como se fosse uma miragem ou um sonho. Nada melhor então do que filmar nos cenários de outono, onde a paisagem do hemisfério norte é tomada por tons amarelados e alaranjados, e por folhas que caem das árvores caducifólias.

Cathy não era uma Amélia, puro e simplesmente. Era uma mulher dedicada a sua família, que, no entanto, vivia entre dois mundos. O falso e vazio mundo das aparências do ambiente que socialmente frequentava, visto que pertencia a uma elite local, e aquele mundo que acreditava. Acho que na verdade ela era uma sonhadora, para ela não havia obstáculos incapazes de serem transpostos, é verdade que isso beira a ingenuidade. Mas ela conseguiu ver no seu contato com o jardineiro a possibilidade de realização dessa utopia em plenos anos 50. Vivendo essa ambigüidade e, com certeza, angustiante condição está a Julianne Moore. E é preciso dizer, que performance inesquecível ela entrega aos espectadores. Sutil e delicada como as cores do outono, convincente como os ideais que acreditava, mas também ambivalente e confusa quando o mundo que vivia e que acreditava são postos em xeque. Por tratar de temas tão relevantes ainda nos tempos atuais, por ter uma cadência que a ambientação do filme se propõe, e pela atuação multifacetada e, por isso, brilhante da Julianne Moore, Longe do Paraíso é um longa que eu recomendo.
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Far from Heaven (Longe do Paraíso), Estados Unidos - 2002. Dirigido por Todd Haynes. Com: Julianne Moore, Dennis Quaid, Dennis Haysbert, Patricia Clarkson, Viola Davis. 107 minutos. Gênero: Drama.

Nota: 9,5