sábado, 30 de julho de 2011

El Secreto de sus Ojos (2009)

Foto 1 - Soledad Villamil e Ricardo Darín em 'O Segredo dos seus Olhos'

Eu tenho pequenos e bons comentários acerca da película. Interessante como o diretor com um ótimo argumento prende o espectador numa mescla de romance e thriller. Além disso, paira no ar uma dimensão cômica. E nisso vale destacar o papel fundamental da bela e competente atriz Soledad Villamil que interpreta a eupátrida Irene. Há muitos diálogos interessantes e inteligentes, e mais admirável ainda é o time do elenco para o elemento cômico das conversas.

Este é um daqueles filmes que retratam bem o cotidiano de um personagem, e por isso mesmo, a época em que viveu. O fascínio e obsessão do Espósito pela morte de uma garota, faz o roteiro passear, mesmo que de forma rápida, pela ditadura argentina, pela paixão que se tem nesse país pelo futebol, além de alertar para as artimanhas suboficiais que permeiam/permeavam o sistema de justiça. É uma película extremamente recomendável, seja pela maestria pela qual o diretor a conduz, seja pela beleza da sua fotografia muito bem realizada. Tem um enredo astuto, belo e perspicaz combinado com um elenco de primeira, desde os principais até os de apoio.

Não há muito que falar sobre esse filme. Parece que a análise feita no futebol serve para ele. Diz-se que quanto menos se fala da atuação do juiz em uma partida, melhor foi a sua atuação. E é exatamente assim que me sinto, e que penso em relação ao longa do Juan José Campanella.
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El Secreto de sus Ojos (O Segredo dos seus Olhos), Argentina/Espanha - 2009. Dirigido por Juan José Campanella. Com: Ricardo Darín, Soledad Villamil, Guillermo Francella. 127 minutos. Gênero: Drama, Policial, Romance.

Nota: 9.0

sábado, 23 de julho de 2011

A crônica da tragédia anunciada


“Wish I could say it breaks my heart”. Para quem viu o show da Amy Winehouse no começo do ano, e agora há pouco, ouviu a notícia da sua morte, fica o pensamento: Foi-se mais um talento, muito antes da hora! Levando em consideração que fora também aos 27 anos que morreram o Jimi Hendrix, Jim Morrison, Janis Joplin e o Kurt Cobain. Como era bom vê-la sorrindo e soltando aquela puta voz. Lembro que no post que falei sobre a sua passagem aqui pelo Recife, foi comentado o fato dela causar, fazer show bêbada, o que às vezes a fazia cair no palco. Tudo isso era o que muita gente esperava em suas apresentações, e é ainda o que se ler nos comentários a cerca do seu falecimento. Mas o importante é que fica um legado, e uma lembrança. Ela, mesmo estando presente no cenário musical só há oito anos, foi capaz de causar todo esse burburinho quando da sua morte. Na verdade, e todos sabem, isso foi a crônica da tragédia anunciada. É aquilo, a gente imagina que vai acontecer, só não quer acreditar que aconteceu ou que acontecerá. Que, nós e os que virão, possámos/possam curtir e conhecer uma das vozes que mais marcou durante quase uma década.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Boas cenas, belas músicas

O David Lynch, para mim, é mestre em transformar situações graciosas, repentinamente, em medonhas. Como ultimamente tenho revisto/visto alguns dos filmes desse diretor, nada melhor do que ressuscitar as postagens que levam o título ‘Boas cenas, belas músicas’ com duas cenas dele. Há mais de um ano que não posto nada relativo a isso, e, veja a coincidência, a última vez que o fiz, foi justamente com um filme do Lynch – Cidade dos Sonhos – que nem lembrava ter sido a última desse tipo de postagem. Apenas uma observação: Apesar de muitas vezes, e eu digo, muitas mesmo, a construção do diretor parecer e ser sem ordem, o que dificulta o entendimento do que está acontecendo, não dá para tirar os olhos das suas películas, incrivelmente, o espectador não perde o seu interesse. Os seus filmes são hipnóticos! Até porque levantar questões, abrir lacunas e criar enigmas e suspense também faz parte da arte cinematográfica.

A primeira cena que me chama bastante atenção na filmografia do Lynch é a que se passa em ‘Veludo Azul’. Ela retrata, ironicamente, o modo de viver norte-americano. É a autocrítica de um cidadão que sempre que possível mostra para o mundo quão patética e superficial é aquela sociedade. O que literalmente o diretor quer indagar na cena a seguir é: O que se esconde por detrás de um lindo gramado verde? E ele não apenas sugere como dá de forma alegórica uma resposta. E o melhor de tudo, a cena mesmo sendo caótica, torna-se bela! A música é a Blue Velvet cantada pelo Bobby Vinton.


Já a outra cena ocorre em ‘Coração Selvagem’. Os dois principais personagens têm duas manias/interesses singulares, enquanto a Lula adora ‘O Mágico de Oz’, Sailor é fã de Elvis Presley – daí a cena a seguir. Eu só não vou dizer a razão pela qual ele canta essa música para a Lula. Apenas um parêntese, para não deixar passar em branco, o Lynch nesse mesmo filme continua com a sua vertente crítica, e em uma das cenas deixa claro o seu descontentamento com o tipo de notícias a que somos bombardeados diariamente pelos meios de comunicação. Mas voltando ao espírito da publicação, ainda cito, além da música tema da cena – Love me Tender - Be-Bop a Lula, Wicked Game e Baby Please Don't Go, que também ajudam a deixar o longa melhor.

Não é possível incorporar o vídeo no blog. Para vê-lo no youtube, clique aqui.

Para ler uma pequena matéria que saiu na Revista da Cultura em setembro de 2008 sobre o diretor, clique aqui.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Midnight in Paris (2011)

Foto 1 - Marion Cotillard e Owen Wilson em 'Meia-noite em Paris'

Nas informações sobre ‘Meia-noite em Paris’ tem-se que o gênero do filme é: ‘comédia-romântica’, talvez isso explique, pelo menos em parte, o público presente na minha sessão. A película está longe de ser romântica ou engraçada – no sentido puro e simples de provocar risos banais – mas possui uma carga de cinismo e sarcasmo. O que se ver é uma ode à beleza de Paris, à arte e à vida.

Gil (Owen Wilson) é um apaixonado pela noite e beleza de Paris, sua chuva, suas luzes, suas ruas. Para ele, a cidade transpira e respira o ar do que melhor se produziu em termos de cultura no início do século passado. Em certo momento, não interessa necessariamente como, ele começa a ter contato com a intelectualidade boêmia que habitava a cidade nos anos de 1920. A viagem ao tempo do protagonista é repleta de encontros com pessoas interessantes e cheia de conversas instigantes, tudo o que ele não tinha no ‘mundo real’ – onde convive com dois tipos de esnobes e pedantes, o intelectual e o econômico.

O culto ao passado (onde se diz que o tempo atual é menos interessante comparado ao que já passou) que é um sentimento bem comum a muitas pessoas é um dos grandes motes do longa. Contudo, com o passar do filme, percebe-se que o argumento defendido é que é preciso conhecer o que foi produzido no passado, mas é um desperdício viver nele, pois o presente é o único tempo que se tem. Assim, você pode aproveitá-lo não o perdendo com os tipos caricatos – para não dizer patéticos dos esnobes e pedantes – que se ver no próprio filme, e ainda, tentando ressignificar aquilo que se acha fenomenal e que foi feito anteriormente, e procurando companhias que possam acrescentar algo. O jogo é: ter o passado como baliza, não como fim em si mesmo. O que é importante notar é que quem idealiza isso, é um homem com mais de 70 anos, que vê nessas pessoas clássicas o ponto de partida para a sua produção cinematográfica.

Devo ainda falar sobre as atuações. O Owen Wilson, realmente, me surpreendeu. Ele que sempre interpreta papeis onde ele e o resto da produção do filme nunca o leva a sério, encontra-se bem. Para dizer a verdade, fez-me lembrar em vários gestos o próprio Woody Allen e o ‘time’ cômico do mesmo, e essa memória fica mais viva, depois de ter visto recentemente ‘Dirigindo no Escuro’. Para dizer a verdade, o Allen escreveu o papel para ele mesmo atuar, só que, ele não tem mais a idade que o papel parece exigir. E todo o resto do elenco está perfeito, a Rachel McAdams como a noivinha irritante, a Marion Cotillard irradiando seu talento e beleza, a Kathy Bates como a aglutinadora de vários artistas e o Adrien Brody como o Dalí aparentemente louco, mas genial.

‘Meia-noite em Paris’ é uma crítica a apatia e falta de criatividade dos tempos atuais, mostrando o diretor e roteirista que a busca do passado que pode ser o ponto de partida, também não pode ser encarado como o intangível e sacro. Da mesma forma que de forma causal se diz que há uma relação direta entre nível de educação e renda, também posso dizer que quanto maior o conhecimento do espectador, em termos de arte e literatura, maior será a sua estima pela película. Digo isso, pois, há várias nuances no filme, que só consegue perceber quem conhece alguns aspectos das obras dos citados, ou os seus trejeitos. Nesse sentido, vê-se o Gil sugerindo ao Buñuel o enredo de ‘O Anjo Exterminador’, a rispidez do Ernest Hemingway que viveu e cobriu a Guerra Civil Espanhola, o relacionamento entre os Fitzgeralds, e a genialidade dos pais do cubismo e do surrealismo, respectivamente, Picasso e Dalí. E cabe aqui, o que já escrevi em um post sobre ‘Os dez mandamentos’ do Cecil B. DeMille. Para toda discussão sobre saudosismo, e o legado dos antecessores, vale as palavras do Calvino (1993, p. 15), "É clássico aquilo que persiste como rumor mesmo onde predomina a atualidade mais incompatível." E todos esses nomes citados continuam sendo ‘rumores’, mesmo estando mortos há muitos anos.

Referência Bibliográfica:
CALVINO, I. (1993). Por que ler os clássicos. (trad) Nilson Moulin, Companhia das Letras, SP.
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Midnight in Paris (Meia-noite em Paris), Espanha/Estados Unidos - 2011. Dirigido por Woody Allen. Com: Owen Wilson, Marion Cotillard, Rachel McAdams, Carla Bruni, Kathy Bates, Adrien Brody. 100 minutos. Gênero: Fantasia.

Nota: 8.5