quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

The Bridges of Madison County (1995)

Foto 1 - Meryl Streep e Clint Eastwood em As Pontes de Madison

“Os velhos sonhos eram bons sonhos. Não se realizaram, mas estou feliz por tê-los tido.” Essas duas frases – retiradas do filme – podem resumir a história contada em As Pontes de Madison. Durante quatro dias, Francesca, uma italiana, interpretada por Meryl Streep, tem um romance com um fotógrafo – Robert Kincaid (Clint Eastwood). Francesca é uma típica dona de casa. Ela vive em função dos seus dois filhos e marido, razão pela qual também largou o seu trabalho. Enquanto faz tudo por estas pessoas, como aprendeu que deveria, pouco recebe em troca. Ela é uma mulher sonhadora e apaixonada pela vida, mas ficou confinada a ter um dia-a-dia pacato e se doou em prol da família. Ela era feliz? Possivelmente, não. Na verdade, a vida que levava não era aquela com a qual sonhou. Então, por que não largar tudo e começar uma nova? Essa é uma pergunta fácil de ser formulada e difícil de ser respondida. De fato, para o contexto social em que vivia, esse não era um caminho simples para ser tomado.

Inesperadamente, nestes quatro dias, Francesca se envolve com este homem que traz à tona todos os desejos que ela guardou por mais de vinte anos. Ela viu em Robert a chance de realizar tudo aquilo que sempre almejou. Conhecer pessoas, ter novas vivências, viajar e descobrir um mundo que só conhecia através de relatos e de leituras. Para os olhares moralistas, esta é uma história de traição. No entanto, para os menos hipócritas, é um relato sobre descobrimento e auto-estima. Contra toda a história de amor vivida, em menos de uma semana, uma mulher resolve abrir mão de sua suposta felicidade para continuar na sua vida de detalhes. Com filhos que mal falam com ela e que não respeitam seu espaço (vide a cena que a filha tira o rádio da sintonia colocada pela mãe). Este é um bom filme para pensarmos sobre nossas próprias vidas e nosso relacionamento com nossos pais.

Além disso, há uma estupenda atuação do casal Streep e Eastwood. No entanto, não é possível dizer o mesmo do casal que representa os filhos da Francesca. Os dois atores principais estão em total sintonia e dão uma performance daquelas inesquecíveis. Estão, com certeza, na lista dos melhores casais já vistos na história do cinema. Meryl Streep com toda ternura e vivacidade, mostrando ao mesmo tempo uma mulher sonhadora e fiel à sua família. Por outro lado, o Clint Eastwood, que também dirige a película, mostra um homem viajado e conhecedor de outras culturas, que descobre a mulher com quem gostaria de passar o resto dos seus dias. Sendo um pouco menos utópico, de fato, não se sabe até quando esse romance se sustentaria. A mudança é algo muito difícil, ainda mais, quando envolve várias outras pessoas, como seria neste caso. Todavia, como mostrar coisas belas e nos fazer imaginar é um dos objetivos da sétima arte, o desfecho do longa é satisfatório e o mais provável de acontecer. Lembro de ter visto, pela primeira vez o longa, num final de semana, à noite, quando tinha por volta dos 12 anos, desde então me emociono cada vez que o vejo. Na época, nem sabia da grandeza dos seus atores, porém, aquelas atuações e história ficaram gravadas na minha memória.
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The Bridges of Madison County (As Pontes de Madison), Estados Unidos, 1995. Dirigido por Clint Eastwood. Com: Clint Eastwood, Meryl Streep. 135 minutos. Gênero: Drama, Romance.

Nota: 8.5

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Apenas Meryl Streep...

Foto 1 - Streep no Oscar de 2012

O mundo cinéfilo acordará mais feliz nesta segunda-feira. Após 29 anos e 12 tentativas, Meryl Streep conseguiu a sua terceira estatueta do Oscar. Não sei se coincidência, mas ao vencer na mesma categoria pela Escolha de Sofia, a atriz também vestia dourado. Misticismo a parte, o importante foi presenciar esse momento histórico, e que nem uma criança, não se conter de emoção.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Panorama pré-Oscar 2012

Todos os anos, o período que antecede a entrega do Oscar meche com os amantes do cinema e a mídia especializada. Em 2012, a temporada de premiações será encerrada no dia 26 de fevereiro com mais um Academy Awards. Como todo prêmio que se preze, expectativas e nomes de possíveis vencedores são lançados e comentados nos círculos de amizade e convívio. Para além da torcida, uma forma inteligente de indicar possíveis vencedores é através da análise da trajetória dos filmes em premiações que precedem o Oscar. Os prêmios entregues no pré-Academy Awards, servem de baliza para se prever aquilo que ocorrerá na entrega da estatueta mais cobiçada da sétima arte. Importantes prêmios já foram dados desde janeiro, alguns com maior relevância, outros com menos. Os longas, diretores e atores vencedores dos seus respectivos sindicatos aumentam a sua chance de sair com o prêmio da AMPAS. Isso porque a maioria dos votantes dos sindicatos votam no Academy Awards, e, por isso, há um alto índice de semelhança dos resultados dessas premiações.

Nas tabelas abaixo, foram elencados os vencedores dos prêmios das seguintes entidades: 1) SAG - Screen Actors Guild; 2) DGA - Directors Guild of America; 3) PGA - Producers Guild of America; 4) WGA - Writers Guild of America; 5) Golden Globe; 6) BAFTA - The British Academy of Film and Television Arts; e 7) Critics' Choice Movie. A tabulação dos dados pode ser vista a seguir (clicando nas tabelas é possível vê-las ampliadas):


1. Na categoria de Melhor Filme o vencedor deve mesmo ser O Artista que tem levado uma série de importantes prêmios. A vitória de Os Descendentes no Globo de Ouro, a esta altura do campeonato, não parece ser tão relevante. No entanto, é bom ficar atento ao filme Histórias Cruzadas que levou o SAG e o Critics' Choice pelo melhor elenco, e que ganhou a simpatia do público americano.

2. Na categoria de Melhor Ator apesar do George Clooney ter vencido dois prêmios - dentre eles, o Critics' Choice - provavelmente, não impedirá o Jean Dujardin de levar o Oscar, afinal de contas, ele foi o vencedor do SAG.

3. Como nos dois anos anteriores, a categoria de Melhor Ator Coadjuvante tem sido uma barbada. Não há dúvidas que o vitorioso será o Christopher Plummer.

4. Na categoria de Melhor Atriz temos novamente o dilema Meryl Streep. Até o momento, a Viola Davis tem bastante vantagem por ter vencido os dois mais importantes prêmios em solo americano nesta categoria. No entanto, algo me faz pensar na vitória da Meryl Streep, diferentemente daquilo que eu dizia em 2010.



5. Na categoria de Melhor Atriz Coadjuvante, da mesma forma que nos dois últimos anos, todos já sabem quem será a vencedora. Com absoluta certeza, ouviremos The Oscar goes to... Octavia Spencer.

6. Na categoria de Melhor Direção o vitorioso deverá ser o francês Michel Hazanavicius. Ele que levou o importante prêmio do Directors Guild of America não deverá sair de mãos abanando do Kodak Theatre.

7. Na categoria de Melhor Roteiro Original, apesar do Woody Allen ser avesso a premiações do tipo Oscar, o seu filme Meia-noite em Paris deverá se sagrar vencedor do próximo Academy Awards.

8. Na categoria de Melhor Roteiro Adaptado, mesmo com o aparente embrolho, e a estatueta sendo disputada por três filmes, o vencedor deverá ser Os Descendentes (apesar da minha antipatia pelo longa).

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

The Iron Lady (2011)

Foto 1 - Meryl Streep como Margaret Thatcher

Acho que as pessoas que andam falando mal de ‘A dama de ferro’ estavam na verdade querendo um documentário. Um daqueles que tratasse detalhadamente sobre a deflagração da Guerra das Malvinas e do modelo neoliberal implementado pelo governo Thatcher. Mesmo esses sendo temas importantíssimos da agenda política dos anos de 1980, tal como a queda do muro de Berlin, eles não são o foco da película. Da mesma maneira, que quem não conhece um pouco sobre sistemas de governo e sistemas eleitorais, também não conseguirá entender como foi que ela chegou ao poder sendo a líder do partido conservador. E por isso o roteiro deveria incluir uma aula de ciência política para suprir essa falta de informação? Não! Na verdade, o filme é maior do que essas coisas. Há um aspecto mais relevante para mim. É a ênfase constante, mesmo que não de maneira enfática, na ambição e no desejo dela de fazer algo em um mundo dominado apenas por homens. Pode-se discordar dos seus feitos, legado e maneira de agir, mas não há como negar a relevância que teve uma mulher ocupar o cargo de primeiro-ministro e, ainda mais, pelo partido conservador britânico. Nesse aspecto, ela foi tão ou mais progressista do que uma Simone de Beauvoir.

Talvez tenha faltado um pouco ao filme, não propriamente uma contextualização histórica, a que foi feita me deixou satisfeito. Quem sabe uma melhor abordagem dos bastidores do poder. Isso foi feito, mas de maneira superficial. Ela que sofria de um duplo preconceito, primeiro por ser mulher e, segundo, por ter se originado de uma família não muito abastada. Assim, o seu enfrentamento diário e sistemático para firmar posição nesse ambiente fosse mais instigante e rendesse uma película mais interessante. Tratar mais desses aspectos e menos do seu relacionamento com o marido morto, nas suas crises de ‘loucura’, renderia um trabalho de melhor nível. Afinal de contas, todos nós estamos sujeitos a envelhecer e, quiçá, passar pelos mesmos devaneios, no entanto, fincar o nome na história é para poucos e, isso sim é admirável e merece discussão!

Outro argumento que anda circulando nas críticas é que se a Streep não estivesse no filme, ele seria pior do que já é, como também, o fato de que alguns atores estão subaproveitados. Ora, o longa é sobre a Thatcher, queria-se o quê? Que o seu marido se sobressaísse na trama? Palmas para a diretora e os produtores que escolheram a Meryl Streep e deram a ela, se não o melhor papel em termos próprios, mas o melhor que ela interpretou nos últimos dez anos. Precisa, convincente, humana e incisiva (quando necessário), impecável. Sou um dos que advoga pela repercussão da Viola Davis, mas a Streep em termos de papel e atuação de atriz principal leva bastante vantagem. Parece que o filme foi feito sob encomenda para ela brilhar, e ela o faz. Dentre todas as oportunidades que a Streep teve de levar o Oscar nesses últimos dez anos, se ela não o levar esse ano, será o caso de maior injustiça já feito na história da premiação contra ela. Tirando o lado de fã (aliás, a análise feita é bastante racional), em todos os aspectos ela está surpreendente, seja com a ajuda da boa maquiagem para interpretar a ex-primeira-ministra no avançar da idade, seja ela na sua batalha diária no Parlamento. Que mulher, que atriz, que atuação!
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The Iron Lady (A Dama de Ferro), Reino Unido, 2011. Dirigido por Phyllida Lloyd. Com: Meryl Streep, Jim Broadbent. 105 minutos. Gênero: Biográfico, Drama.

Nota: 7.5

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

The Girl with the Dragon Tattoo (2011)

Foto 1 - Rooney Mara e Daniel Craig

Devo admitir que The Girl with the Dragon Tattoo não seria um filme que me faria sair de casa para ir ao cinema. No entanto, apesar dessa minha indisposição, acabei vendo o filme e, contra as minhas expectativas, até que ele me surpreendeu. E o início do filme já é muito bom com a versão que eles utilizam de Immigrant Song do Led Zeppelin. Só acho que os serial killers dos filmes deveriam se reinventar, ainda mais, quando se trata do mesmo diretor. Ter suas mortes inspiradas por passagens bíblicas (ou algo que o valha) não tem mais graça, desde Seven, inclusive, do mesmo diretor de Millennium.

Todos os atores estão muito bem, a propósito, o Christopher Plummer aparece bem melhor nesse longa quando comparado ao seu premiado papel em Beginners. Com personagens fortes e bem interpretados unido aos mistérios e segredos de família, Fincher consegue produzir uma trama tensa e inquietante. Além disso, há uma miscelânea de temas tocados que são para todos os gostos. Desde violência (no sentido mais amplo que houver) contra mulheres, ao nazismo, assassinato e um quê de jornalismo investigativo. Cenas impactantes tomam conta da película e, o diretor não faz questão de escondê-las.

Apesar da história não cansar em nenhum momento, acredito que ela poderia ser reduzida. O diretor poderia muito bem ter focado na investigação dos crimes e, esquecido a vida pregressa do Mikael Blomkvist (Daniel Craig), bem como o que a Lisbeth Salander (Rooney Mara) faz depois de desvendar o crime. Aliás, a tentativa de prender o expectador com a transformação dela na mocinha que se apaixona pelo galã-garanhão não está com nada. Tenho certeza que todos a preferiam do jeito enigmático, sarcástico e vingativo que nos é apresentado no início. Diferentemente, do L'Homme qui Aimait les Femmes (O Homem que amava as mulheres), do Truffaut, não se ver um conquistador que conta os seus inúmeros casos e paixões, mas vê-se o desvendar de um mistério familiar que envolve mulheres torturadas e violentadas.
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The Girl with the Dragon Tattoo (Millennium - Os Homens que Não Amavam as Mulheres), Alemanha/Estados Unidos/Reino Unido/Suécia, 2011. Dirigido por David Fincher. Com: Daniel Craig, Rooney Mara, Christopher Plummer, Stellan Skarsgård. 158 minutos. Gênero: Policial, Suspense.

Nota: 7.5

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

We Need to Talk About Kevin (2011)

Foto 1 - Tilda Swinton e os vários Kevins

Não sei precisamente qual o argumento defendido por ‘Precisamos falar sobre o Kevin’. Na verdade, talvez até tenha entendido a linha de raciocínio do roteiro, o problema é que discordo completamente dele. Aparentemente, ele quer reforçar a tese de que as pessoas já nascem predestinadas a algo. Que existe um ‘instinto assassino’ inerente ao ser humano e, incontrolavelmente forte, em alguns indivíduos. Pois bem, não acredito nem em coisas predestinadas, nem em instintos. Tenho convicção que da mesma forma que escolhemos uma religião, um partido político, um time de futebol, etc, somos levados socialmente, pelo pertencimento a determinados grupos sociais a assumir certas preferências e não outras. Não se trata de uma necessidade biológica, não há um gene que predetermine esse comportamento, tal qual há naqueles com diabetes e sua deficiência em quebrar a molécula de glicose, ou entre os daltônicos e seu problema em distinguir o verde do vermelho.

Por outro lado, em que mundo vivia a família e, especificamente, a mãe do Kevin? Será que ela nunca ouviu falar em terapia, em psicólogos? Talvez o longa sirva para chamar atenção no tocante a responsabilidade dos pais sobre as futuras atitudes dos filhos. Muitas vezes, durante o filme, eu fiquei em conflito, em certos momentos, achava que a mãe tinha culpa, em outros, pensava, coitada dessa pobre mulher. A verdade é que o filho a manipulava e conseguia ser roteirista, ator principal e diretor de todos os momentos naquela família. Aparenta conservadorismo, mas sem respeito a determinadas regras, não há como pessoas coexistirem. Quando se vive em um ambiente mais harmônico, essas regras são menos enfatizadas, no entanto, na situação vivida no filme, elas precisam ser permanentemente reiteradas e reforçadas.

Tilda Swinton está perfeitamente incrível e simetricamente desempolgante. É aquele tipo de papel onde a atriz controla a personagem nos mínimos detalhes, mostra-se totalmente imersa na história, mas não consegue ser avassaladora e arrebatadora. De fato, ela me convence e eu consigo entender o deserto que sua vida se transforma a partir do desenrolar da trama. Vejo uma comunidade que nunca mais irá aceitá-la e, a repercussão disso no seu cotidiano. Nunca mais, o estigma e o vermelho tão presente durante toda a película irá desaparecer da sua memória e da sua existência. A Swinton consegue, muito bem, nos transmitir todos essas nuances, mas não nos entusiasma. Em suma, é um bom filme, com boas atuações e que merece ser visto, apesar do seu desfecho pouco convincente.
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We Need to Talk About Kevin (Precisamos Falar Sobre o Kevin), Estados Unidos/Reino Unido, 2011. Dirigido por Lynne Ramsay. Com: Tilda Swinton, John C. Reilly, Ezra Miller. 112 minutos. Gênero: Drama, Suspense.

Nota: 7.5