“Os velhos sonhos eram bons sonhos. Não se realizaram, mas estou feliz por tê-los tido.” Essas duas frases – retiradas do filme – podem resumir a história contada em As Pontes de Madison. Durante quatro dias, Francesca, uma italiana, interpretada por Meryl Streep, tem um romance com um fotógrafo – Robert Kincaid (Clint Eastwood). Francesca é uma típica dona de casa. Ela vive em função dos seus dois filhos e marido, razão pela qual também largou o seu trabalho. Enquanto faz tudo por estas pessoas, como aprendeu que deveria, pouco recebe em troca. Ela é uma mulher sonhadora e apaixonada pela vida, mas ficou confinada a ter um dia-a-dia pacato e se doou em prol da família. Ela era feliz? Possivelmente, não. Na verdade, a vida que levava não era aquela com a qual sonhou. Então, por que não largar tudo e começar uma nova? Essa é uma pergunta fácil de ser formulada e difícil de ser respondida. De fato, para o contexto social em que vivia, esse não era um caminho simples para ser tomado.
Inesperadamente, nestes quatro dias, Francesca se envolve com este homem que traz à tona todos os desejos que ela guardou por mais de vinte anos. Ela viu em Robert a chance de realizar tudo aquilo que sempre almejou. Conhecer pessoas, ter novas vivências, viajar e descobrir um mundo que só conhecia através de relatos e de leituras. Para os olhares moralistas, esta é uma história de traição. No entanto, para os menos hipócritas, é um relato sobre descobrimento e auto-estima. Contra toda a história de amor vivida, em menos de uma semana, uma mulher resolve abrir mão de sua suposta felicidade para continuar na sua vida de detalhes. Com filhos que mal falam com ela e que não respeitam seu espaço (vide a cena que a filha tira o rádio da sintonia colocada pela mãe). Este é um bom filme para pensarmos sobre nossas próprias vidas e nosso relacionamento com nossos pais.
Além disso, há uma estupenda atuação do casal Streep e Eastwood. No entanto, não é possível dizer o mesmo do casal que representa os filhos da Francesca. Os dois atores principais estão em total sintonia e dão uma performance daquelas inesquecíveis. Estão, com certeza, na lista dos melhores casais já vistos na história do cinema. Meryl Streep com toda ternura e vivacidade, mostrando ao mesmo tempo uma mulher sonhadora e fiel à sua família. Por outro lado, o Clint Eastwood, que também dirige a película, mostra um homem viajado e conhecedor de outras culturas, que descobre a mulher com quem gostaria de passar o resto dos seus dias. Sendo um pouco menos utópico, de fato, não se sabe até quando esse romance se sustentaria. A mudança é algo muito difícil, ainda mais, quando envolve várias outras pessoas, como seria neste caso. Todavia, como mostrar coisas belas e nos fazer imaginar é um dos objetivos da sétima arte, o desfecho do longa é satisfatório e o mais provável de acontecer. Lembro de ter visto, pela primeira vez o longa, num final de semana, à noite, quando tinha por volta dos 12 anos, desde então me emociono cada vez que o vejo. Na época, nem sabia da grandeza dos seus atores, porém, aquelas atuações e história ficaram gravadas na minha memória.
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The Bridges of Madison County (As Pontes de Madison), Estados Unidos, 1995. Dirigido por Clint Eastwood. Com: Clint Eastwood, Meryl Streep. 135 minutos. Gênero: Drama, Romance.
Nota: 8.5