terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Sangue Negro (2007)

"I drink your milkshake!"

Clichê, antiquado, mais do mesmo? Será que essas são palavras e expressões adequadas para definir o filme dirigido pelo Paul Thomas Anderson? Afinal de contas, insanidade e ganância são temas para lá de batidos no cinema, principalmente, o norte-americano. No momento, lembro de dois clássicos que retratam bem essas questões, a saber, Cidadão Kane de 1941 e Assim Caminha a Humanidade de 1956. Sendo que a semelhança deste último é maior ainda, visto que a sua trama também se passa no oeste americano e também em torno do petróleo.

No entanto, uma coisa me chama atenção no longa Sangue Negro (2007). Normalmente, uma coisa que me deixa ligado nos filmes são as atuações femininas, coisa que não é possível nessa película em específico. Não estou aqui para falar do enredo do filme, que de fato não é original, original é a sua direção e a atuação do Daniel Day-Lewis. Sigo esse ator há algum tempo, para ser preciso, desde do longa A insustentável leveza do ser de 1988, mesmo ele já tendo atuado muito antes de 88. Assim, não é surpresa nenhuma para mim sua perfomance dessa vez como Daniel Plainview. E é sobre isso que quero discutir.

Acho que desde o Hannibal do Anthony Hopkins que eu não via um ator refletindo o tumultuoso interior de um personagem de maneira tão brilhante. Além disso, no caso do Day-Lewis, o Plainview não é mostrado por completo desde o início, pelo contrário, o ator vai descobrindo o personagem aos poucos, suas transformações, suas pertubações. Pertubações porque ele é um poço de contradições, tão profundas quanto os poços de petróleo que perfura. Ao mesmo tempo, ele é fascinante, charmoso, astuto, inteligente, consegue convencer a todos que é a melhor opção para a extração do petróleo da localidade. Mas também é inescrupuloso, é capaz de utilizar uma criança como meio para conquistar a simpatia das pessoas nas suas investidas. O desejo pelo poder é outra de suas características e Plainview demonstra fazer qualquer coisa para consegui-lo, apesar que neste aspecto, ele também é bem contraditório. Claro, poder é uma de suas ambições, mas também aparenta ser um Robbin Wood, no sentido de mostrar claramente a personalidade do pastor Eli. Só uma observação, as aparições do Paul Dano são bem convincentes e dignas de comentário. Confundiria-o, sem dúvida, com algum desses pastores que se pode ver nas madrugadas da tv brasileira.

Acredito que o diálogo travado por ele (Plainview) e seu suposto irmão, transcrito abaixo, é o código definitivo para desvendá-lo.

"Não gosto de dar explicações. Sou competitivo por natureza. Não quero que ninguém tenha sucesso. Odeio a maioria das pessoas. Às vezes, olho para elas e não vejo nada de agradável. Quero ganhar o suficiente para me isolar de todos. Vejo o que de pior as pessoas tem. Não preciso conhecê-las para saber disso. Desenvolvi o meu ódio ao longo dos anos, pouco a pouco."

Daniel Plainview

Tudo isso tem uma razão. As pessoas que sofrem para conseguir um objetivo, geralmente, tornam-se reclusas, até porque enquanto você não é ninguém, as pessoas ao redor o tratam como tal. No começo era ele e a sorte, tanto é que se percebe seu desapego pela vida, isso fica claro no início do filme, quando ele acende as dinamites no local onde trabalha, e sai de lá como se estivesse soltando traque de massa. Ou seja, foi um cara que conviveu com a morte e o perigo de perto. Trabalhou noite e dia no melhor estilo do americano capitalista. Plainview é um homem destrutivo, que luta pelo monopólio e pelo poder constantemente, e como se sabe, essa busca desenfreada tem um preço caro. E tudo isso pode ser apreciado num magnífico filme do Paul Thomas Anderson, e num incrível momento do Daniel Day-Lewis, que recebeu merecidamente seu segundo Oscar por essa atuação.

P.S.: Diferentemente do que tem acontecido, nos últimos tempos, salvo exceções, na categoria de melhor atriz, a Academia tem premiado bem os melhores atores, essa constatação vale um post.

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There Will Be Blood (Sangue Negro), Estados Unidos - 2007. Dirigido por Paul Thomas Anderson. Com: Daniel Day-Lewis, Paul Dano. 158 minutos. Gênero: Drama.
Nota: 10.0

4 comentários:

Vinícius P. disse...

Esse certamente é um dos meus filmes favoritos da década e que só confirma que o Paul Thomas Anderson é um dos melhores diretores de todos os tempos.

O Cara da Locadora disse...

Concordo com o Vinícius ali em cima, um dos meus favoritos... Um filme realmente de tirar o fôlego...

Fernando disse...

Você tb não achou uma influência " de leve" de Kubrick no final do filme? Adorei "Sangue Negro", pra mim, era ele que deveria levar o Oscar 2008 e não "Onde Os Fracos Não Tem Vez", mas...
Daniel Del-Lewis está incrível mesmo. Agora contando os dias para vê-lo novamente em Nine.

Santiago. disse...

Vinícius,

você tem meu apoio nisso que você disse.

Abraço.


O cara da locadora,

também concordo contigo, a cada momento que passa no longa, o clima fica mais tenso e melhor.

Abraço.


Fernando,

exato, se eu votasse no prêmio da Academia, com certeza, o meu voto de melhor filme iria para Sangue Negro. E sem dúvida, a influência (Kubrick) existe, e fica bem perceptível no desfecho do longa. E estou contando os dias para ver Nine, por conta dele (Day-Lewis), da Penélope e da Sophia Loren.

Abraço!

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