sábado, 17 de abril de 2010

Shutter Island (2010)

Curar alguém considerado socialmente louco é possível? Realmente, não faço a mínima ideia. No entanto, transformar alguém em louco, é totalmente razoável. E se a intenção do Martin Scorsese era essa, ele conseguiu, pelo menos comigo. Há muito tempo não ficava confuso ao ver um filme. Explico-me melhor. Às vezes a confusão acontece porque não se compreende a trama, como quando vi The Doom Generation do Gregg Araki, outras vezes, a confusão significa imersão total na obra, ou seja, a “mão invisível” do diretor atua sobre o espectador, e ele fica atordoado, com dúvidas. Essa última descrição cabe perfeitamente em Shutter Island, o novo longa do Scorsese.

Quem está em teste, quem está sendo procurado, quem é que precisa decifrar o “enigma da esfinge”, nós ou o Teddy Daniels (Leonardo DiCaprio)? Scorsese retrata a psique humana como há muito tempo eu não via, para ser mais preciso, desde Persona do Ingmar Bergman. Acredito que a fonte inicial do diretor, recém premiado com o Prêmio Cecil B. DeMille da HFPA, foi um filme dos anos de 1960 – The Manchurian Candidate – se puderem, dêem uma espiada nele. Além disso, que trabalho de cinematografia, posso citar a cena inicial com o barco saindo do nevoeiro, e aquela ilha rochosa ao fundo, beira ao poético, fora o acompanhamento sonoro. No mais, várias são as leituras sobre a película (Shutter Island), visto que vemos, ao menos, dois filmes diferentes, com dois protagonistas distintos. Inicialmente, pensamos em manipulação, em seguida, que os loucos são ótimos atores. E nesse contexto não há espaço para juízos de valores ou regras morais, além de que, o que é moral para os viventes naquele manicômio?

Não sei se o DiCaprio poderá evoluir mais do que isso, mas que ele já não é mais o mesmo de Diamante de Sangue, isso ele não é. Você o viu atuando neste filme? Nessa época sim, ele era um desastre! Isso confirma a minha hipótese de que um bom diretor exerce uma influência inimaginável sobre o ator. Em nenhum outro momento da sua carreira, eu o vi adentrando tão profundamente em um labirinto tal qual o do minotauro. Ele percorre um caminho que por mais cartesiano que queira ser, não consigo descrever linearmente. Quer dizer, até consigo, mas as nuances narrativas só o ator consegue nos transmitir, e acredito que ele consegue fazer isso. Se ele era o mais indicado para o papel, ai já é outra discussão.

Sobre o final que alguns julgam previsível, eu digo: previsível é uma ova! Aquele desfecho é o que explica o que de fato aconteceu durante todo o tempo sem que percebêssemos. De fato, eu estava tanto quanto o Teddy no mundo dos sonhos. Os parâmetros iniciais que para nós pareciam ser verdadeiros, viram poeira tal como na cena em que DiCaprio abraça a esposa e ela vira cinzas. Chega um momento que perdemos as referências do que é lucidez ou delírio no protagonista. Estamos presos com Teddy em um horror psicológico onde o real é apenas um detalhe, e o imaginado ou a loucura - como preferirem - é o predominante. Não sei se fui ingênuo, só sei que em mim os mistérios da ilha surtiram efeito.

Para ver o site oficial do filme, clique aqui.
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Shutter Island (Ilha do Medo), Estados Unidos - 2010. Dirigido por Martin Scorsese. Com: Leonardo DiCaprio, Mark Ruffalo, Ben Kingsley, Max von Sydow, Michelle Williams, Patricia Clarkson. 138 minutos. Gênero: Drama, Suspense.
Nota: 9.4

8 comentários:

Wally disse...

Filmaço do Scorsese. Não chegaria ao ponto de dar 5 estrelas, mas é virtuoso, sem sombra de dúvida.

Elton Telles disse...

"Sobre o final que alguns julgam previsível, eu digo: previsível é uma ova!"
HAHAHAHAA!

Olá, Santiago!
Pretendo fazer uma resenha de "Ilha do Medo" no meu blog em breve. Gostei muito do filme do Scorsese, também me senti uma marionente durante a projeção. Concordo "levemente" sobre a previsibilidade do filme, mas somos bombardeados posteriormente com tantas possibilidades que passamos até a duvidas das nossas suspeitas.

Filmaço!
E Leonardo DiCaprio em sua melhor forma, assim como as pontas de Max von Sydow e Patricia Clarkson. Elenco de ouro (e de dar medo).


grande abraço!

Paulo Soares disse...

Sou suspeitíssimo para falar algo sobre algum filme do mestre Scorsa, pois amo esse senhor incondicionalmente. Meu the best!
Agora, mesmo se eu não tivesse o mínimo de amor por ele, não teria como não achar absurdo o que ele entregou com a Ilha do Medo. Uma trabalho primoroso em toda a concepção da palavra. Trabalho que só gênios como ele conseguiria realizar.
Tudo nesse filme é magnífico, desde da técnica, até a atuação soberba de todo o elenco. De secundários a principais.

Desde de já uma Obra Prima absoluta, mais uma para a coleção do mestre Scorsa.

Abraço Santiago! Adorei os comentários.

Matheus Pannebecker disse...

Eu, sinceramente, não sei o que viram de tão excepcional em "Ilha do Medo". O filme tem ótimos momentos (os momentos com Michelle Williams são esteticamente lindos e DiCaprio está ótimo), mas não chega a ser grande coisa. Não para mim.

Fernando disse...

Boa Santiago! Uma ova que o final era previsível, eu pelo menos fiquei muito impressionado com o desenrolar da história. Torço para que ele consiga vida longa e tenha chances de ser indicado às premiações.

bruno knott disse...

Não tem como não gostar, né?

Tb não achei prevísivel o final...

Robson Saldanha disse...

Achei um filme interessante, inteligente, com bastante ação. Impossível não achar bom. E uma coisa é fato: jamais se deve vê-lo só uma vez. Ele deve ser revisto, com certeza encontramos mais respostas.

Santiago. disse...

Valeu a todos pelos comentários, e pelo visto, grande parte também gostou do filme, e não o achou previsível. E pegando a deixa do Robson, quem ainda acredita na obviedade da película que o veja novamente.

Abraço a todos!

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