terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Philomena (2013)

Foto 1 - Judi Dench como Philomena

Nessas últimas dez premiações do Oscar, em pelo menos seis delas, havia um filme britânico*  no pálio. Foram eles: A Rainha (2006)**, Desejo e Reparação (2007)***, Quem Quer Ser um Milionário (2008),  Educação (2009), O Discurso do Rei (2010) e Os Miseráveis (2012). Neste ano, o feito se repete, dessa vez, com Philomena (2013). Ou seja, essa é uma tendência bastante comum, inclusive, alguns desses títulos ganharam a estatueta de melhor filme. E mais do que isso, normalmente, eles são interessantes, e fogem do padrão da indústria americana. Esse é o caso do longa protagonizado pela Judi Dench e motivo deste post.

Se uma palavra pudesse resumir a ótima performance de Dench seria sutileza. Ela é uma senhora (Philomena Lee) que teve uma educação traumática e que viu momentos importantes da sua vida serem subtraídos. No entanto, não se tornou áspera, nem nutriu ódio. Alguns poderiam classificá-la como simplória, mas eu diria que ela possui a vivacidade, leveza e tranquilidade – que fará a diferença durante o filme – própria de quem já viveu, suportou e guardou um segredo por cinquenta anos.

Diferentemente da tecnicidade dos tempos recentes mostrada em Avatar (2009) e enfatizada em Gravidade (2013), Philomena (2013) ressalta a importância dos ‘filmes artesanais’. Ou seja, películas que baseadas em uma boa história, direção, atuação e fotografia, rende momentos singulares ao espectador.  Com um desenrolar interessante, ele não nos faz cair em um ‘melodrama sentimentalóide’, o que não significa ausência de emoção. Aliás, isso não falta. Minha sugestão: esteja aberto e sem amarras para ela.

*Não foram levados em consideração, para esta contagem, aqueles onde os britânicos não protagonizaram a produção. Como por ex. nos casos de: Gravidade (2013), 12 Anos de Escravidão (2013), Frost/Nixon (2008), 127 Horas (2010) e A Origem (2010). 
**Com parceria, mas sendo os britânicos os principais.
***Com parceria, mas sendo os britânicos os principais.
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Philomena (Philomena), Reino Unido/EUA/França, 2013. Dirigido por Stephen Frears. Com: Judi Dench, Steve Coogan. 98 minutos. Gênero: Drama.


Nota: 8.0 

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Blue Jasmine (2013)

Foto 1 - Cate Blanchett como Jasmine em Blue Jasmine


O que falar de um filme leve, bem dirigido, envolvente e com excelentes atuações – principalmente, daquela que deveria brilhar mesmo? Pois bem, Blue Jasmine é tudo isso. Jasmine (Cate Blanchett) é uma socialite casada com Hal (Alec Baldwin) um fanfarrão-enrolador. A partir de complicações financeiras e amorosas, Jasmine se verá obrigada a morar com sua irmã – que tem modos e gostos discutíveis – Ginger (Sally Hawkins). A verdade é que o longa não possui nenhuma questão filosófica, transcendental ou nunca discutida. O fato é que Woody Allen tem se especializado nesse segmento de filmes – desde Match Point ou Vicky Cristina Barcelona, pelo menos. Desde que entrei numa sala de cinema comercial, para ver uma de suas criações, e a vi lotada – como quando assisti Meia-Noite em Paris – comecei a pensar assim. E olhe que o longa que se passava em Paris era de bem mais difícil compreensão do que Blue Jasmine. Mas enfim, quem também disse que toda película precisa ser ‘cabeça’? Ela precisa entreter, e nisso, Allen é um gênio primoroso – ou tem sido desde então. Ainda mais, quando conta com a participação da Cate Blanchett – chegou ao ponto que eu queria. Posso dizer que ela está apaixonante, incrível, linda, perfeita, neurótica? Blanchett segura a trama de ponta a ponta, todas as nuances de uma personagem em colapso mental, apoiada, diga-se de passagem, por um talentoso elenco secundário – os que já citei mais o Peter Sarsgaard. Minha crítica foi escrita em apenas um parágrafo, como se tivesse sido feita com um único suspiro. O único que sobrou após ver uma Cate Blanchett magistral, se dependesse de mim, o Oscar já estaria em sua sala de estar.
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Blue Jasmine (Blue Jasmine), Estados Unidos, 2013. Dirigido por Woody Allen. Com: Cate Blanchett, Alec Baldwin, Sally Hawkins, Peter Sarsgaard. 98 minutos. Gênero: Comédia, Drama.

Nota: 9.0 

domingo, 12 de janeiro de 2014

12 Years a Slave (2013)

Foto 1 - Chiwetel Ejiofor como Solomon em 12 Anos de Escravidão

Se na temporada passada, em Lincoln, nos foi mostrada a batalha do então presidente americano pela promulgação da 13ª emenda, em 2013, novamente, um tema histórico focando na condição do negro surge. 12 Anos de Escravidão conta a saga real de Solomon Northup (Chiwetel Ejiofor), negro nascido livre que é transformado em escravo. No entanto, o novo enfoque está em como isso acontece. Solomon vive em Nova Iorque com sua família, e ostenta uma boa qualidade de vida, juntamente, com uma capacidade invejável de articular ideias e persuadir, contudo, uma viagem à Washington, D.C., mudará sua vida.

Tirando esse aspecto novo, o restante do longa é cheio de lugares comuns que todos nós já conhecemos, principalmente, por sermos brasileiros e também termos um passado escravocrata. Entretanto, se aqui os negros produziram, dentre outras, a riquíssima manifestação cultural que chamamos samba, lá, o fruto do trabalho pesado, das chicotadas, dos maus tratos, enfim, das péssimas condições de vida, deram origem ao blues. Estilo esse que seria importantíssimo para o desenvolvimento do jazz e do rock and roll, por exemplo. Mostrar essa nuance é um ponto positivo do roteiro.

Apesar de nos fazer pensar sobre a ‘criatividade’ humana para burlar leis, acredito que 12 Anos de Escravidão não seja o melhor filme do ano passado. E que também não possui o melhor elenco da temporada – visto que ele foi indicado ao SAG nessa categoria. Chiwetel Ejiofor apesar de não atrapalhar o desenrolar da trama, também não se destaca. Sua performance pode ser classificada como morna, mesmo que o seu personagem exigisse maiores arroubos dramáticos. Ainda não vi a atuação dos outros atores cotados ao Oscar, mas diante mão, ele não me empolgou. Por outro lado, a Lupita Nyong'o que interpreta a Patsey e que sofre os abusos do seu senhor e da esposa dele, me chamou a atenção, olho nela! Por fim, como eu acredito que algumas coisas sempre precisem ser discutidas e mostradas, eu recomendo o filme, mas saiba que você não terá grandes surpresas.
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12 Years a Slave (12 Anos de Escravidão), Estados Unidos, 2013. Dirigido por Steve McQueen (II). Com: Chiwetel Ejiofor, Michael Fassbender, Lupita Nyong'o, Paul Dano, Brad Pitt. 133 minutos. Gênero: Biografia, Drama, Histórico.
Nota: 7.5 

sábado, 4 de janeiro de 2014

Gravity (2013)

Foto 1 - Sandra Bullock em Gravidade

Ryan Stone (Sandra Bullock) é a estrela do filme Gravidade. Ela interpreta uma astronauta que juntamente com Matt Kowalsky (George Clooney) trabalham no conserto do telescópio Hubble. Tudo vai bem, até que estilhaços de um equipamento russo passam a colidir com outros objetos e a causar uma série de estragos, explosões e mortes. Daí em diante, o longa centra-se na tentativa de sobrevivência da Dra. Ryan.

Não vi a trama em 3D, nem em IMAX e, provavelmente, com estes recursos deve-se ter sensações diferentes daquelas que experimentei. Não sou um técnico, mas sem dúvida, a película deve ter trazido novas tecnologias de captação de imagens, efeitos especiais e tem uma excelente fotografia, não há como negar isso. No entanto, a técnica em si nunca me encheu os olhos – basta ler a minha crítica sobre Avatar.

Se por um lado, meu conhecimento é rasteiro no aspecto da técnica, por outro, sei apreciar bem um bom argumento, trama e diálogos. E nesse campo, o filme deixa, e muito, a desejar. O filme Gravidade é tão raso que só consigo escrever um parágrafo de cinco linhas sobre seu enredo. E, diga-se de passagem, apenas de forma descritiva, visto que ele não possui um propósito ou questão. Na minha inocência, pensei que ele trouxesse algum mote à la Solaris ou 2001, ledo sonho e engano. Mas mesmo raso nesse sentido, ele ainda poderia ser um bom suspense, mas nem isso. Situações esperadas são as únicas coisas que os roteiristas conseguem nos entregar.

Para mim, é um filme demasiadamente valorizado. Sandra Bullock – que provavelmente será indicada ao Oscar de Melhor Atriz, não sei como – tem apenas uma expressão facial o filme todo, a de desespero, que inclusive lembra muito a ‘emoção’ transmitida pela Leigh Anne Touhy de Um Sonho Possível. Em suma, a contar o burburinho positivo de várias pessoas, os deuses devem estar realmente loucos. Que filme algum se preocupe com essa gravidade que não atrai nada.
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Gravity (Gravidade), Estados Unidos, 2013. Dirigido por Alfonso Cuarón. Com: Sandra Bullock e George Clooney. 90 minutos. Gênero: Drama, Ficção Científica, Suspense. 
Nota: 6.0

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

August: Osage County (2013)

Foto 1 - Meryl Streep e Julia Roberts em Álbum de Família

Uma família percebe o seu grau de desunião depois da morte do seu patriarca. Aparentemente, uma história banal, pois não é o primeiro filme a se utilizar desse enredo, depois, porque poderia ser a casa de qualquer um. A não ser pelo fato dela ser habitada por Meryl Streep (Violet Weston/Vi) e Julia Roberts (Barbara Weston). Streep interpreta uma mãe complexa, ao mesmo tempo, irônica e dominadora, cômica e autoritária, frágil e controladora. Carrega consigo uma infância problemática, segredos e aquilo que há de mais sujo e vulgar no relacionamento com seu marido, irmã e filhas. Por outro lado, Roberts passa por uma situação familiar complicada. Enfrenta uma separação simbólica e uma filha adolescente que não possui bons exemplos caseiros.

Em suma, é um lar habitado por “mulheres à beira de um ataque de nervos”, e isso, porque nem mencionei as histórias de vida dos outros personagens que acabam de dar o tempero nesse molho emocional. O longa é repleto de diálogos tensos, desafiadores e de indiretas. Apenas em uma única tomada – a da refeição pós-enterro, por exemplo, Vi(bora), consegue perturbar mentalmente todos à mesa. Com sua aguçada percepção, ela capta as entrelinhas das falas dos seus interlocutores e consegue se munir de fatos que, com certeza, logo em seguida serão utilizados contra quem quer que seja. À primeira vista, é um filme bem pesado, pois conta os dramas e esmiúça os podres de uma típica família – norte-americana –, entretanto, é possível dar muitas e boas gargalhas durante seu desenrolar. A propósito, não achei que a Meryl passou do ponto, tom ou seja lá o que for. Você já discutiu com a sua mãe por razões bem mais banais que aquelas tratadas no filme e sabe como ela reagiu, não sabe? Então você concorda comigo.

Sou suspeito para falar, visto que sempre acho de bom grado ver a Streep, ainda mais, quando ela é acompanhada várias vezes pelo som do Eric Clapton. Não sei se vale um Oscar, mas com certeza, mais uma indicação, a sua décima oitava. Também não sei como, pois achei que nunca escreveria isso, mas a Julia Roberts cumpre muito bem com o papel de primogênita. É a típica filha preferida dos pais, aquela que tem o poder de tomar as rédeas nos momentos difíceis, que será ouvida, sendo as outras irmãs apenas meras observadoras. No Brasil, a película recebeu o nome de “Álbum de Família”, mas “Casos de Família” – programa produzido e exibido pelo SBT – também lhe cairia muito bem. Atire a primeira pedra aquele que não conseguir se colocar em alguma situação do longa, ou identificar algum parente que se assemelhe aos personagens. Este foi o melhor programa que eu poderia ter feito nesse penúltimo dia do ano.
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August: Osage County (Álbum de Família), Estados Unidos, 2013. Dirigido por John Wells. Com: Meryl Streep, Julia Roberts, Chris Cooper, Margo Martindale, Ewan McGregor, Abigail Breslin, Juliette Lewis, Sam Shepard. 121 minutos. Gênero: Comédia, Drama.
Nota: 8.5