segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Forrest Gump (1994)

Foto 1 - Tom Hanks como Forrest Gump

A história política e cultural de um país, durante mais ou menos três décadas, é contada e vivenciada por um personagem. Esse personagem é Forrest Gump. Ingênuo, bobão, pouco ambicioso, talvez sejam adjetivos que possam defini-lo, mas uma coisa é certa, sua experiência, seus momentos, os lugares que conheceu, pouquíssimos tiveram a chance de apreciar ou experimentar. Ele que tinha como lema que “a vida é como uma caixa de chocolate, você nunca sabe o que vai encontrar”.

Alguns temas são tocados no longa, tais como os frequentes atentados aos presidentes dos Estados Unidos, a questão da segregação racial e do grupo Ku Klux Klan, a Guerra do Vietnã, o movimento hippie, os panteras negras, a era disco, o caso Watergate, a luta americana contra o Comunismo. Também artistas e marcas mundialmente conhecidas como o Elvis Presley, a Joan Baez, o John Lennon e a Apple são lembradas. Enfim, de forma leve e pouco engajada, os roteiristas conseguem deixar um recado, por exemplo, ao se referir a KKK é dito que é preciso lembrar que às vezes nós fazemos coisas sem nenhum sentido.

O roteiro tinha tudo para ser monótono, visto que seu alicerce está na descrição dos fatos com o ator principal sentado em um ponto de ônibus. No entanto, todos os fatos que vivenciou, e onde em alguns foi determinante, evitam a mesmice e as mais de duas horas passam voando! Outro aspecto, é que esse é o filme que deve ter a melhor seleção de músicas de todos os tempos. Realmente, ouvir várias músicas bacanas ao longo da película me fez sentir bem.

Forrest mostra que o menos é mais. A vida do protagonista nunca foi um parque de diversões. Com um QI abaixo da média, sempre foi discriminado, mas em variados graus teve o apoio de quatro pessoas: sua mãe, Jenny, Bubba e do Coronel Ten. Na verdade, o filme é um jogo com os próprios espectadores. Nossos valores são constantemente questionados sem que percebamos. A forma como vemos e encaramos a vida é contrastada com a do protagonista – que segundo nossa concepção possui certa incapacidade mental. Forrest Gump – O Contador de Histórias, mostra que estamos sujeitos a situações imprevistas, por vezes curiosas, mas que são nelas que encontramos pessoas especiais. Tal como o Almodóvar gosta de fazer, é a vida entrelaçando várias biografias, de uma maneira admirável e sem explicações.
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Forrest Gump (Forrest Gump - O Contador de Histórias), Estados Unidos, 1994. Dirigido por Robert Zemeckis. Com: Tom Hanks, Sally Field, Robin Wright, Gary Sinise, Haley Joel Osment. 142 minutos. Gênero: Comédia, Drama.

LinkNota: 10.0

sábado, 26 de novembro de 2011

Cazá, cazá, cazá!!!

O vídeo já diz tudo! Vamos, vamos, meu Leão, agora na 1ª divisão!!!

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Trailer do filme 'The Iron Lady'

Vendo o trailer, deu uma vontade imensa de ver o filme imediatamente!


quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Simonal - Ninguém Sabe o Duro que Dei (2008)

Foto 1 - Wilson Simonal

A emergência e o declínio de uma estrela é disso que trata Ninguém sabe o duro que dei. No entanto, nas entrelinhas, é tocado no tema do racismo – fenômeno tão característico da sociedade brasileira –, e na sua vida desregrada, de uma pessoa que ascendeu de uma classe popular para ter vários fãs, carros, mulheres e uma cobertura em Ipanema. Certa vez o Addison DeWitt - personagem do George Sanders em All About Eve – disse para Eve que: Era chegada a hora dela se desfazer um pouco da sua humanidade. Que todos eram vaidosos, e não fazer nenhum alarde era tão falso quanto o fazer em excesso. Se você estende o argumento para alguém que acredita dominar públicos e estar acima de tudo e todos, você consegue entender a personalidade artística do Simonal.

O seu declínio, aliado a supostas perseguições de várias ordens (políticas, raciais, artística), foi ajudada e muito por suas próprias atitudes. Artista brasileiro com inúmeros shows durante o seu apogeu, contabilizando quase um por dia no final dos anos de 1960, que cantou com a Elis Regina e a Sarah Vaughan – esta última, considerada por muitos, junto com a Billie Holiday e a Ella Fitzgerald, integrante da ‘santíssima trindade’ do jazz – teve os seus últimos dias relegado ao anonimato. Numa época de forte confronto ideológico, onde visões reducionistas da realidade era moda – e que por incrível que pareça continua na cabeça tacanha de alguns – dividia os artistas engajados, dos alienados, e mais que isso, os associavam à ditadura.

Não acredito que o não engajamento o tenha feito cair no esquecimento, vários outros não seguiram por esse caminho e nem por isso foram levados ao ostracismo, o caso mais exemplar que me vem à cabeça é o da Rita Lee – que pouco estava se interessando pelo momento político do País, e mais queria saber das drogas. Cada um com as suas opções. Acho na verdade que o principal problema do Simonal foi achar que estava acima do bem e do mal, e ter dado pronunciamentos dizendo ser ‘amigo’ do regime militar. Além disso, a entrevista com o suposto contador que teria desviado seu dinheiro, se verdade, é chocante, e o final do Simonal justificável. Nesse sentido, ele mesmo potencializou toda raiva, inveja (ou como queiram chamar) das pessoas que estavam predispostas ao ver na ruína.

Com inegável talento, mas pouco disciplinado na condução da sua vida artística, Simonal torna-se um exemplo dos resultados de uma vida sem planejamento e pior, do fato de se achar intocável, um deus - 'malandragem' tem limite. Acabou os seus últimos dias tentando se justificar, sem conseguir ter êxito. Morreu ainda jovem (62 anos), esquecido, e com certeza, bastante debilitado por conta de problemas no fígado, reflexo de suas angústias e de escolhas tomadas no passado.

Quem se interessar pelo documentário pode vê-lo na íntegra a seguir:

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Simonal - Ninguém Sabe o Duro que Dei, Brasil, 2008. Dirigido por Claudio Manoel, Micael Langer e Calvito Leal. Com: Chico Anysio, Tony Tornado, Sérgio Cabral, Simoninha, Bárbara Heliodora, Luís Carlos Miele, Nelson Motta, Ziraldo. 84 minutos. Gênero: Documentário.

Nota: 10.0

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

The Letter (1940)

Foto 1 - Bette Davis implacável como Leslie Crosbie em 'A Carta'

A partir dos interesses envolvidos, a história de um assassinato, pode ter muitas versões. No entanto, a existência de uma carta altera todo o desenrolar dos fatos, e aponta para um único caminho, o da verdade. ‘A Carta’ é a terceira parceria do diretor William Wyler com a atriz Bette Davis. Nele, a atriz interpreta a Leslie Crosbie, uma mulher que desde a primeira cena mostra-se calculista e autocentrada – sendo esse estereótipo reforçado pelo hábito da personagem de fazer clochê. Além disso, a primeira cena já é bastante impactante e pouco convencional para um filme produzido em 1940 pelo fato de ser realizada por uma mulher. Estou me referindo ao momento da morte do Jeff Hammond e aos momentos que seguem, onde ela conta o que ocorreu ao marido e a outros personagens.

A partir daí inicia-se um procedimento legal que caminha para que a ré seja inocentada, pois ela teria cometido o assassinato em legítima defesa. Até que um evento inesperado acontece. Junto ao corpo havia uma carta da Leslie que contradizia o álibi de que há muito ela não mantinha contato com o Jeff. Inclusive, a cena em que a Leslie é colocada contra a parede pelo seu advogado é ótima. É aquele tipo de situação em que se dá corda para a pessoa se enforcar e onde a pessoa mente descaradamente, até o momento que a verdade surge, e o mentiroso fica procurando um buraco para se esconder.

Entre chantagens, compra de provas e envolvimento direto do advogado nesses crimes, Leslie consegue ser inocentada. Mesmo conseguindo o perdão de todos, inclusive do marido, ela mesma não consegue esquecer a motivação do crime. Bette Davis tem uma ótima atuação, sempre precisa e bastante controlada em seus gestos e nas suas falas. Ela consegue fazer muito bem esses papéis que normalmente não tem a simpatia do público. Não é nada que se compare à Regina Giddens de The Little Foxes, mas Leslie Crosbie em menor dose também é manipuladora, simulada, egocêntrica e egoísta.

O longa não chega a entrar no hall dos memoráveis, mas está cheio de bons momentos da Bette Davis. Com ele, ela conseguiu sua quinta indicação ao Oscar, figurando na lista de melhor atriz pelo terceiro ano consecutivo. Com um forte caráter de thriller, Bette Davis conseguiu mostrar seu total domínio sob os papéis que executava. Não falta nada, sua postura, seus gestos e inflexões são tão precisas quanto deve ser o ato de matar alguém sem deixar rastros. Há exatos 22 anos, a atriz que foi considerada a ‘The First Lady of Film’ nos deixava, e essa é a forma que o chá de poejo tem de homenageá-la.
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The Letter (A Carta), Estados Unidos, 1940. Dirigido por William Wyler. Com: Bette Davis, James Stephenson, Herbert Marshall. 95 minutos. Gênero: Drama.

Nota: 8.0

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Hearts and Minds (1974)

Foto 1 - Cena clássica que vem a memória quando se fala da Guerra do Vietnã. A criança nua, no centro da imagem, é Phan Thi Kim Phuc que fugia do seu povoado que acabara de ser bombardeado por Napalm.

A Guerra do Vietnã é um tema recorrente na filmografia norte-americana. Ela está presente em filmes direcionados apenas ao assunto, como é o caso de Platoon (1986), Nascido para Matar (1987), Apocalypse Now (1979) – de onde não sai da minha cabeça aquela cena com a Cavalgada das Valquírias -, ou longas que tocam no acontecimento histórico, como Hair (1979) e Forrest Gump (1994), apenas para citar alguns. No entanto, este post é dedicado a ‘Corações e Mentes’, um documentário premiado com o Oscar de 1975.

Mais uma vez, a sociedade ‘guardiã’ da democracia é mostrada manchada por seus atos irresponsáveis e criminosos. Na dinâmica da Guerra Fria, os EUA passam a intervir no Vietnã com medo de que a ‘teoria do dominó’ se concretizasse. Essa teoria imaginava que o sudeste asiático estava enfileirado tal como peças de um dominó, e que se apenas uma peça cedesse ao comunismo, todas as outras seriam abaladas. Diante da eminente vitória do líder comunista Ho Chi Minh, via pleito eleitoral em 1956, o governo do presidente Eisenhower deu respaldo a um governo ditatorial, mas com pretensões capitalistas no Vietnã do Sul, ante um governo comunista no Norte.

É incrível como o documentário consegue captar o grau de alienação da população estadunidense. Em uma dada entrevista, alguns não conseguem nem ao menos indicar qual dos dois ‘vietnãs’ é o de tendência comunista ou capitalista. Na verdade, a lógica de dominação das mentes pela ideologia da grandiosidade americana é uma constante na película. Alguns nem mesmo sabem o porquê de ir à guerra, apenas vão porque foram ensinados a ir. Mães que se orgulham de ter um filho morto na guerra quando na verdade não há motivo para tanto, já que a verdadeira razão de orgulho já não existe mais. Estima-se que pelo lado americano foram 58 mil baixas, sem contar o número de mutilados, e pelo lado vietnamita, o valor é impreciso, mas fica entre os aterradores 1 e 3 milhões.

Outro elemento impressionante é o discurso de superioridade dos combatentes e da população dos Estados Unidos, onde o adversário era tratado como inferior, primitivo e irracional. E ainda havia os que diziam não se importar com o que ocorria no país asiático, pois o seu estilo de vida não tinha sido afetado e que aquilo não o atingia. Bem, o que essas pessoas diriam após o 11 de setembro?! Além disso, fica candente o afastamento dos combatentes que por realizarem um trabalho totalmente afastado do resultado final, nem imaginavam as consequências dos seus feitos, até serem deparados com a realidade. Vale salientar, que os mais modernos e cruéis meios de destruição, para a época, foram utilizados pelo exército americano, tais como, as bombas de napalm e fósforo branco, além de armas químicas como o agente laranja.

‘Corações e Mentes’ é um excelente documentário que mostra desde a introdução da ideologia americana (leia-se ideologia como crença incutida e tida como única e, por isso, verdadeira), principalmente, pelos discursos feitos pelo George Coker, ex-prisioneiro de guerra, passando pela apatia e desconhecimento da população, até o cinismo dos presidentes americanos que governaram o país durante a guerra. Além disso, mostra a perspectiva e o ponto de vista dos vietnamitas, coisa rara em produções americanas, mostrando inclusive, com cenas fortes, o pesadelo que eles viveram, mas sempre resistindo e no final, saindo vencedores. É um pedaço da história que sempre precisa ser revisitado e ver o documentário é uma experiência que vale a pena.
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Hearts and Minds (Corações e Mentes), Estados Unidos, 1974. Dirigido por Peter Davis. Com: J. William Fulbright, Georges Bidault, Clark Clifford, George Coker. 112 minutos. Gênero: Documentário/Histórico.

Nota: 10.0

domingo, 11 de setembro de 2011

Good Night, and Good Luck. (2005)

Foto 1 - David Strathairn como Edward R. Murrow

Essa semana, após uma aula de apresentação da disciplina, o professor que falava das variações institucionais entre vários países pelo mundo, resolveu falar sobre os cargos mais importantes dos Estados Unidos. Ele citou, em ordem de importância, o Presidente da República, o Presidente da House of Representatives, e em seguida, os Presidentes das Comissões Permanentes (Committee) da House of Representatives. Em seguida, ele olha para mim, aponta para mim, e pergunta: Qual a primeira coisa que vem na sua mente, quando alguém lhe fala sobre o Macartismo? Após um breve delay, e dele reafirmar, que estava falando comigo, e eu responder que sabia disso, eu disse: ‘a política de caça aos comunistas nos E.U.A.’.

Esse fato fez um amigo perguntar-me se eu já tinha visto um filme, recente, que tinha essa temática, e eu disse que não. No momento, ele não se lembrou do nome, apenas um pouco depois, quando já conversávamos com uma amiga. Eis que o filme era o ‘Good Night, and Good Luck.’. Uma opinião precipitada, principalmente, advinda de pessoas simpatizantes de filmes com muitos efeitos especiais e uma carga insuportável de ação, logo pensaria: Que filme chato, monótono e, além disso, em preto e branco! No entanto, eu diria que essa é uma definição impensada e simplista de um longa que se sustenta pelo seu roteiro, e nos seus diálogos rápidos (às vezes até demais) e interessantes.

É muito bem explorada na película a histeria anticomunista que tomava conta dos Estados Unidos no pós-2ª guerra mundial. Em muitos casos, como fica evidenciado, as acusações eram feitas sem nem mesmo haver provas definitivas do envolvimento de cidadãos americanos com Moscou. No filme, essa paranóia fica resumida na sua figura mais candente – a do senador Joseph McCarthy. Ao se considerar um cidadão traidor, já que o possível ato era considerado antipatriótico – as pessoas eram submetidas à inquéritos, e tinham suas vidas devassadas. Além disso, muitos eram levados ao exílio, condenados à pena de morte, à miséria ou ao suicídio (como se mostra no filme).

Com um elenco que conta com atores/atrizes interessantes, o destaque vai mesmo para o David Strathairn que interpreta muito bem o jornalista Edward R. Murrow. Ele que foi um ferrenho opositor das táticas empregadas pelo Senador que estimulava a delação, e o desrespeito às liberdades constitucionais dos indivíduos. Após uma série de críticas, e a indignação da população americana (que demorou muito), McCarthy teve seus últimos dias no ostracismo, e representava uma vergonha para a opinião pública do país. Ele é um exemplo, do que a manipulação de mentes pode ocasionar, mesmo em um Estado, onde os indivíduos se orgulhavam dos seus direitos políticos e civis idealizados como invioláveis e sacros.
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Good Night, and Good Luck. (Boa Noite, e Boa Sorte.), Estados Unidos, 2005. Dirigido por George Clooney. Com: David Strathairn, George Clooney, Robert Downey Jr., Patricia Clarkson, Frank Langella, Jeff Daniels, Thomas McCarthy. 93 minutos. Gênero: Drama/Histórico.

Nota: 9.0

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Gotan Project no MIMO 2011


Conheci o Gotan Project em uma viagem que fiz há um ano a Buenos Aires, e ontem, tive a oportunidade de presenciar um bom show da banda na Mostra Internacional de Música em Olinda. Banda idealizada por um suíço, um francês e um argentino que tem como proposta reiventar o tradicional tango com arranjos eletrônicos. Interessante que o grupo também investe em uma identidade visual marcante, seja nos shows, seja nos seus videoclipes. A apresentação de ontem contou com sucessos como: "Una Musica Brutal", "Epoca", “Queremos Paz”, “Diferente”, “Santa Maria” e “Mi Confesión”.

sábado, 30 de julho de 2011

El Secreto de sus Ojos (2009)

Foto 1 - Soledad Villamil e Ricardo Darín em 'O Segredo dos seus Olhos'

Eu tenho pequenos e bons comentários acerca da película. Interessante como o diretor com um ótimo argumento prende o espectador numa mescla de romance e thriller. Além disso, paira no ar uma dimensão cômica. E nisso vale destacar o papel fundamental da bela e competente atriz Soledad Villamil que interpreta a eupátrida Irene. Há muitos diálogos interessantes e inteligentes, e mais admirável ainda é o time do elenco para o elemento cômico das conversas.

Este é um daqueles filmes que retratam bem o cotidiano de um personagem, e por isso mesmo, a época em que viveu. O fascínio e obsessão do Espósito pela morte de uma garota, faz o roteiro passear, mesmo que de forma rápida, pela ditadura argentina, pela paixão que se tem nesse país pelo futebol, além de alertar para as artimanhas suboficiais que permeiam/permeavam o sistema de justiça. É uma película extremamente recomendável, seja pela maestria pela qual o diretor a conduz, seja pela beleza da sua fotografia muito bem realizada. Tem um enredo astuto, belo e perspicaz combinado com um elenco de primeira, desde os principais até os de apoio.

Não há muito que falar sobre esse filme. Parece que a análise feita no futebol serve para ele. Diz-se que quanto menos se fala da atuação do juiz em uma partida, melhor foi a sua atuação. E é exatamente assim que me sinto, e que penso em relação ao longa do Juan José Campanella.
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El Secreto de sus Ojos (O Segredo dos seus Olhos), Argentina/Espanha - 2009. Dirigido por Juan José Campanella. Com: Ricardo Darín, Soledad Villamil, Guillermo Francella. 127 minutos. Gênero: Drama, Policial, Romance.

Nota: 9.0

sábado, 23 de julho de 2011

A crônica da tragédia anunciada


“Wish I could say it breaks my heart”. Para quem viu o show da Amy Winehouse no começo do ano, e agora há pouco, ouviu a notícia da sua morte, fica o pensamento: Foi-se mais um talento, muito antes da hora! Levando em consideração que fora também aos 27 anos que morreram o Jimi Hendrix, Jim Morrison, Janis Joplin e o Kurt Cobain. Como era bom vê-la sorrindo e soltando aquela puta voz. Lembro que no post que falei sobre a sua passagem aqui pelo Recife, foi comentado o fato dela causar, fazer show bêbada, o que às vezes a fazia cair no palco. Tudo isso era o que muita gente esperava em suas apresentações, e é ainda o que se ler nos comentários a cerca do seu falecimento. Mas o importante é que fica um legado, e uma lembrança. Ela, mesmo estando presente no cenário musical só há oito anos, foi capaz de causar todo esse burburinho quando da sua morte. Na verdade, e todos sabem, isso foi a crônica da tragédia anunciada. É aquilo, a gente imagina que vai acontecer, só não quer acreditar que aconteceu ou que acontecerá. Que, nós e os que virão, possámos/possam curtir e conhecer uma das vozes que mais marcou durante quase uma década.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Boas cenas, belas músicas

O David Lynch, para mim, é mestre em transformar situações graciosas, repentinamente, em medonhas. Como ultimamente tenho revisto/visto alguns dos filmes desse diretor, nada melhor do que ressuscitar as postagens que levam o título ‘Boas cenas, belas músicas’ com duas cenas dele. Há mais de um ano que não posto nada relativo a isso, e, veja a coincidência, a última vez que o fiz, foi justamente com um filme do Lynch – Cidade dos Sonhos – que nem lembrava ter sido a última desse tipo de postagem. Apenas uma observação: Apesar de muitas vezes, e eu digo, muitas mesmo, a construção do diretor parecer e ser sem ordem, o que dificulta o entendimento do que está acontecendo, não dá para tirar os olhos das suas películas, incrivelmente, o espectador não perde o seu interesse. Os seus filmes são hipnóticos! Até porque levantar questões, abrir lacunas e criar enigmas e suspense também faz parte da arte cinematográfica.

A primeira cena que me chama bastante atenção na filmografia do Lynch é a que se passa em ‘Veludo Azul’. Ela retrata, ironicamente, o modo de viver norte-americano. É a autocrítica de um cidadão que sempre que possível mostra para o mundo quão patética e superficial é aquela sociedade. O que literalmente o diretor quer indagar na cena a seguir é: O que se esconde por detrás de um lindo gramado verde? E ele não apenas sugere como dá de forma alegórica uma resposta. E o melhor de tudo, a cena mesmo sendo caótica, torna-se bela! A música é a Blue Velvet cantada pelo Bobby Vinton.


Já a outra cena ocorre em ‘Coração Selvagem’. Os dois principais personagens têm duas manias/interesses singulares, enquanto a Lula adora ‘O Mágico de Oz’, Sailor é fã de Elvis Presley – daí a cena a seguir. Eu só não vou dizer a razão pela qual ele canta essa música para a Lula. Apenas um parêntese, para não deixar passar em branco, o Lynch nesse mesmo filme continua com a sua vertente crítica, e em uma das cenas deixa claro o seu descontentamento com o tipo de notícias a que somos bombardeados diariamente pelos meios de comunicação. Mas voltando ao espírito da publicação, ainda cito, além da música tema da cena – Love me Tender - Be-Bop a Lula, Wicked Game e Baby Please Don't Go, que também ajudam a deixar o longa melhor.

Não é possível incorporar o vídeo no blog. Para vê-lo no youtube, clique aqui.

Para ler uma pequena matéria que saiu na Revista da Cultura em setembro de 2008 sobre o diretor, clique aqui.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Midnight in Paris (2011)

Foto 1 - Marion Cotillard e Owen Wilson em 'Meia-noite em Paris'

Nas informações sobre ‘Meia-noite em Paris’ tem-se que o gênero do filme é: ‘comédia-romântica’, talvez isso explique, pelo menos em parte, o público presente na minha sessão. A película está longe de ser romântica ou engraçada – no sentido puro e simples de provocar risos banais – mas possui uma carga de cinismo e sarcasmo. O que se ver é uma ode à beleza de Paris, à arte e à vida.

Gil (Owen Wilson) é um apaixonado pela noite e beleza de Paris, sua chuva, suas luzes, suas ruas. Para ele, a cidade transpira e respira o ar do que melhor se produziu em termos de cultura no início do século passado. Em certo momento, não interessa necessariamente como, ele começa a ter contato com a intelectualidade boêmia que habitava a cidade nos anos de 1920. A viagem ao tempo do protagonista é repleta de encontros com pessoas interessantes e cheia de conversas instigantes, tudo o que ele não tinha no ‘mundo real’ – onde convive com dois tipos de esnobes e pedantes, o intelectual e o econômico.

O culto ao passado (onde se diz que o tempo atual é menos interessante comparado ao que já passou) que é um sentimento bem comum a muitas pessoas é um dos grandes motes do longa. Contudo, com o passar do filme, percebe-se que o argumento defendido é que é preciso conhecer o que foi produzido no passado, mas é um desperdício viver nele, pois o presente é o único tempo que se tem. Assim, você pode aproveitá-lo não o perdendo com os tipos caricatos – para não dizer patéticos dos esnobes e pedantes – que se ver no próprio filme, e ainda, tentando ressignificar aquilo que se acha fenomenal e que foi feito anteriormente, e procurando companhias que possam acrescentar algo. O jogo é: ter o passado como baliza, não como fim em si mesmo. O que é importante notar é que quem idealiza isso, é um homem com mais de 70 anos, que vê nessas pessoas clássicas o ponto de partida para a sua produção cinematográfica.

Devo ainda falar sobre as atuações. O Owen Wilson, realmente, me surpreendeu. Ele que sempre interpreta papeis onde ele e o resto da produção do filme nunca o leva a sério, encontra-se bem. Para dizer a verdade, fez-me lembrar em vários gestos o próprio Woody Allen e o ‘time’ cômico do mesmo, e essa memória fica mais viva, depois de ter visto recentemente ‘Dirigindo no Escuro’. Para dizer a verdade, o Allen escreveu o papel para ele mesmo atuar, só que, ele não tem mais a idade que o papel parece exigir. E todo o resto do elenco está perfeito, a Rachel McAdams como a noivinha irritante, a Marion Cotillard irradiando seu talento e beleza, a Kathy Bates como a aglutinadora de vários artistas e o Adrien Brody como o Dalí aparentemente louco, mas genial.

‘Meia-noite em Paris’ é uma crítica a apatia e falta de criatividade dos tempos atuais, mostrando o diretor e roteirista que a busca do passado que pode ser o ponto de partida, também não pode ser encarado como o intangível e sacro. Da mesma forma que de forma causal se diz que há uma relação direta entre nível de educação e renda, também posso dizer que quanto maior o conhecimento do espectador, em termos de arte e literatura, maior será a sua estima pela película. Digo isso, pois, há várias nuances no filme, que só consegue perceber quem conhece alguns aspectos das obras dos citados, ou os seus trejeitos. Nesse sentido, vê-se o Gil sugerindo ao Buñuel o enredo de ‘O Anjo Exterminador’, a rispidez do Ernest Hemingway que viveu e cobriu a Guerra Civil Espanhola, o relacionamento entre os Fitzgeralds, e a genialidade dos pais do cubismo e do surrealismo, respectivamente, Picasso e Dalí. E cabe aqui, o que já escrevi em um post sobre ‘Os dez mandamentos’ do Cecil B. DeMille. Para toda discussão sobre saudosismo, e o legado dos antecessores, vale as palavras do Calvino (1993, p. 15), "É clássico aquilo que persiste como rumor mesmo onde predomina a atualidade mais incompatível." E todos esses nomes citados continuam sendo ‘rumores’, mesmo estando mortos há muitos anos.

Referência Bibliográfica:
CALVINO, I. (1993). Por que ler os clássicos. (trad) Nilson Moulin, Companhia das Letras, SP.
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Midnight in Paris (Meia-noite em Paris), Espanha/Estados Unidos - 2011. Dirigido por Woody Allen. Com: Owen Wilson, Marion Cotillard, Rachel McAdams, Carla Bruni, Kathy Bates, Adrien Brody. 100 minutos. Gênero: Fantasia.

Nota: 8.5

terça-feira, 7 de junho de 2011

Eu estudo essa grande invenção que é a sociedade

Foto 1 - Deus inventando o homem segundo Michelangelo

Resolvi escrever esse texto para tentar encerrar de uma vez por todas aquele assunto que sempre emerge quando eu conheço alguém novo. Uma pergunta clichê é saber o que diabos a nova pessoa faz da vida, e quando eu digo que estudo Ciência Política, e que sou formado em Ciências Sociais, várias reações nascem. A principal e imediata é perguntar o que uma pessoa que estuda isso faz, mas na verdade, o que se queria perguntar era: Qual a importância disso? E a pergunta fica sempre sem resposta, porque não vou usar o meu latim com isso no meio de uma festa. Pois bem, vou contar uma historinha.

Como esse texto não tem finalidades acadêmicas, vou furtar-me ao direito de ir direto ao ponto. A sociedade não é o reino de fatos concretos e brutos. Na verdade, ela é a manifestação de crenças e visões de mundo. Ela é regida por idéias e formas imaginárias de organização e convivência. A verdade é que a sociedade é uma grande invenção. Normalmente, a palavra invenção é empregada com bastante facilidade para o domínio da técnica, da engenharia. Então se sabe que Santos Dumont inventou o avião, que Thomas Edison inventou a lâmpada elétrica; e que Antonio Meucci inventou o telefone. No entanto, a palavra invenção tem lugar fundamental no domínio das coisas culturais, políticas e sociais.

Vamos pegar um exemplo da história, como a Revolução Americana de 1776. Ela representou uma ruptura dos colonos americanos com a Coroa britânica, não necessariamente por motivações nativistas, mas pela existência de uma sobrecarga de impostos. O anseio dos membros das treze colônias era por uma maior participação nas tomadas de decisões que vinham de Londres. A idéia era mais ou menos essa: sem representação/participação política não há taxação. Findada a revolução, e ocorrida a separação, os agora, americanos, precisavam inventar novas instituições para controlar a desordem que estava instalada no nascente País. Diante disso, sabia-se o que não se desejava criar: 1. Um sistema absolutista, contra o qual tinham acabado de lutar; e 2. Uma democracia, que no séc. XVIII não possuía um significado positivo como atualmente. A grande sacada dos ‘pais da nação americana’, em especial Madison, é a invenção de um sistema onde a maioria escolhe a minoria que vai governá-la. Essa idéia que hoje parece trivial, na época era genuína e inédita, ou seja, a escolha de representantes era algo sem nenhum tipo de precedência na história.

Nesse sentido, a ‘representação política’ não é um dado da natureza, como é a gravidade, que existe independentemente da vontade humana. A idéia de representação foi inventada, possui um inventor, da mesma forma que os direitos humanos também o tem, e assim por diante. Um cientista social preocupa-se com essas invenções, seu surgimento, suas características, conseqüências e mutabilidade. Nos interessa, por exemplo, as instituições políticas, a criação do Estado, as relações de trabalho, de gênero e raciais, a religião e a economia, dentre vários outros campos de atividade humana. Assim, o efeito dessas invenções é a configuração de formas de organização da sociedade. E a depender dessa configuração política, cultural, ideológica, ela terá uma formatação específica.

Por isso, da próxima vez que indagado sobre o que você faz, meu caro colega, cientista social, responda, sem modéstia: Eu estudo essa grande invenção que é a sociedade.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Central do Brasil (1998)

Foto 1 - Fernanda Montenegro e Vinícius de Oliveira em Central do Brasil

Em ‘Central do Brasil’, Fernanda Montenegro que interpreta Dora, mostra como se transformar em um mesmo filme, um ‘anti-heroi’ em uma mulher doce, que de tão maltratada pela vida, torna-se áspera e seca. Dora escreve cartas, na Central do Brasil, no Rio de Janeiro, e apesar das várias histórias simples, e por isso mesmo, tocantes que redige todos os dias, não consegue sentir nenhum tipo de sentimento. Há nisso um contraponto, Irene (Marília Pera), que apesar de não ser nenhuma flor que se cheire, funciona como o superego de Dora, dotando-a de compaixão pelo próximo e senso de limite nas suas atitudes.

A fotografia do filme é ótima, sem pudor, a produção mostra um Brasil através das estradas, palavrões, transporte público caótico, um clima angustiante e uma violência desnecessária, mas real. Então você pensa... Como um roteiro extremamente simples e controverso conseguiu tamanho êxito? E eu digo, mas são nas coisas simples que reside a beleza. A história tem caráter totalmente universal. Trata-se: 1) da busca de um parente por um garoto só no mundo, 2) um garoto ansioso por encontrar um familiar que mesmo desconhecido é a sua razão para viver, e 3) no reencontro de uma mulher consigo mesma. Mas é preciso dizer, mesmo com esse enredo com bastante apelo emotivo, em momento algum, o longa beira o piegas, e isso devido a força das interpretações vistas.

É estranho, para mim, ter que ver, nas novelas, uma performance abaixo daquela que já foi (e ainda é) uma atriz aclamada por muitos. Se Fernanda Montenegro para você é apenas a Bia Falcão, meu caro, Central do Brasil e Eles Não Usam Black-Tie são os filmes certos para você. Indubitavelmente, nesses filmes estão uma das melhores atuações que eu já pude ver. Eu sou um daqueles que acha que Fernanda Montenegro deveria ter ganhado de lavada, da sem-graça e aguada, Gwyneth Paltrow no Oscar de 1999. Fernanda junto com o Vinícius de Oliveira consegue ser tocante ao extremo, prendendo a atenção do espectador desde os primeiros minutos de filme. Central do Brasil é um filmaço pelas interpretações e por mostrar o Brasil na sua forma mais crua!
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Central do Brasil, Brasil - 1998. Dirigido por Walter Salles. Com: Fernanda Montenegro, Vinícius de Oliveira, Marília Pêra. 113 minutos. Gênero: Drama.

Nota: 10,0

quarta-feira, 18 de maio de 2011

10 músicas para os apaixonados de plantão

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sexta-feira, 13 de maio de 2011

Aos 106 anos do Sport Club do Recife

O Sport Club do Recife foi fundado por um pernambucano chamado Guilherme de Aquino em 13 de maio de 1905. E o fundador da nação rubro-negra proclamou: "O Sport será um autêntico campeão, pois nasceu sob o signo da valentia e dele jamais se apartará."

O Sport, que hoje completa 106 anos, é repleto de histórias e glórias, entre elas a conquista do título de Leão do Norte, em 1919. Troféu conquistado na bola e na tapa, em Belém do Pará. E desde então, o Leão é o símbolo máximo da torcida rubro-negra.

O clube tem momentos memoráveis, como o gol de Haroldo Praça, responsável pela vitória do Sport contra o Santa Cruz, na inauguração da Ilha do Retiro, em 1937.

O Sport sempre teve jogadores históricos, que atuaram em outras grandes equipes do futebol nacional, internacional e na seleção brasileira, como: Ademir Menezes - o ‘Queixada’, Traçaia, Roberto Coração de Leão, Bosco, Leomar, Leonardo, Juninho Pernambucano.

Meu time tem um patrimônio físico de dar inveja a muitos ditos “grandes” times do país.

O Sport Club do Recife detém três títulos nacionais de futebol: 1 brasileiro da série A (1987); 1 Copa do Brasil (2008) e 1 brasileiro da série B (1990), além de duas participações em Libertadores da América (1988 e 2009). Tem ainda 2 Copas do Nordeste (1994 e 2000) e 39 títulos pernambucanos, além de dois vice-campeonatos, 1 vice-campeonato da Copa do Brasil (1989) e 1 vice-campeonato da Copa dos Campeões (2000).

Meu time faz parte da elite do futebol nacional, o Clube dos Treze (União dos Grandes Clubes Brasileiros), sendo respeitado como uma força do futebol do Brasil.

Meu time tem uma torcida grande e que está entre as maiores do Brasil, conta com o apoio de cerca de 3,3 milhões de fanáticos e apaixonados torcedores, inclusive na frente de torcidas de outros times campeões brasileiros como Botafogo, Bahia, Fluminense e Atlético Paranaense.

O Leão sempre mostrou luta e garra nos confrontos pelo Brasil, e na sua casa, a Ilha do Retiro, sempre se mostrou competitivo e quase imbatível. Sempre conquistou títulos sob forte pressão, contra tudo e todos. Meu time conquista títulos brigando com raça e dentro dos gramados. O Sport representa a força rubro-negra pernambucana. É um time arretado! Não à toa é considerado um time clássico pela FIFA (ver aqui), ao lado do, Arsenal, Cruzeiro, Barcelona, São Paulo e outros.

Parabéns ao Sport Club do Recife por ser esse clube que ‘encanta, enobrece e dá prazer’ e que apesar das suas limitações é ‘uma razão para viver’. Porque esse é o ‘Sport que emociona, é o Sport que a gente ama’!

domingo, 8 de maio de 2011

Bibi Ferreira e o monólogo das mãos


O que é bom deve ser mostrado e valorizado! Bravo, Bibi, bravo!!

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Mississipi em chamas, direitos inalienáveis e união homoafetiva

La Liberté guidant le peuple (A Liberdade guiando o povo) de Delacroix

“O que é ‘direito inalienável’ se você é um negro? O que significa ‘igual tratamento diante da lei’ se você é um negro? O que significa ‘liberdade e justiça para todos’ se você é um negro?” Essas são indagações feitas no filme ‘Mississipi em Chamas’ e que se encaixam perfeitamente nesse texto. Ontem, 05 de maio de 2011 os Ministros do Supremo Tribunal Federal do Brasil decidiram por equiparar os relacionamentos entre os homossexuais ao dos heterossexuais, dando-lhes status de união estável, com propósito de criar uma família. No entanto, para além da vitória de um dado segmento populacional, estamos falando da vitória da dignidade humana, algo geral, e que transcende o fato de se ser branco ou negro, homem ou mulher, rico ou pobre, gay ou não.

Apesar de tão antiga, essa ideia geral, de opor-se a intolerância não é um fato estabelecido nas sociedades. Filmes ainda da era do cinema mudo já atentavam para isso. D.W. Griffith em um de seus épicos de nome justamente – Intolerância – aborda a questão a partir de quatro histórias: 1) Na Babilônia, onde o ódio religioso é o estopim para a queda de um império; 2) Na Judéia, onde a inveja e o medo de perder o status quo estabelecido fazem com que Fariseus levem Jesus à morte; 3) Em Paris, na noite de São Bartolomeu, em 1572, onde a rainha Catarina de Médici ordena a execução de milhares de protestantes; e 4) Nos Estados Unidos, onde puritanos reformadores acabam com a união e felicidade de dois jovens.

Mas o que intolerância tem a ver com isso? Ela é um dos grandes obstáculos a consolidação e extensão de direitos nas sociedades, em especial, os direitos civis. Os direitos civis englobam os direitos fundamentais à vida, à liberdade, à propriedade, à igualdade perante a lei. Sabe o Iluminismo, lembra disso? Pois bem, foi no século XVIII que esses temas começaram a ser tratados sistematicamente. E, posteriormente, na Revolução Americana e na Francesa de 1789, eles foram confirmados como fundamentais, e desde então, muitas Constituições ocidentais, inclusive a brasileira, incorporam essas cláusulas como pétreas. Esses direitos fundamentais ainda se desdobram na garantia de ir e vir, de escolher o trabalho, de manifestar o pensamento, de organizar-se, de ter respeitada a inviolabilidade do lar e da correspondência, de não ser preso a não ser pela autoridade competente e de acordo com as leis e de não ser condenado sem processo legal regular. Enfim, estamos falando da liberdade individual.

Mas, mesmo com esse marco regulatório, muitos grupos vivem sofrendo Discriminação*, Preconceito** e Racismo***. E em muitos casos, para reverter a situação, precisa-se da intervenção de poderes do âmbito federal, tal como se passa em Mississipi em Chamas. Em uma pequena cidade a segregação divide a população em brancos e negros e a violência contra os negros é uma constante. Neste contexto, dois agentes do FBI investigam as supostas relações das mortes com a Ku Klux Klan (KKK) que atua deliberadamente na localidade, inclusive com a conivência dos poderes públicos. Essa mesma Ku Klux Klan é retrata em outro filme do mesmo D. W. Griffith – O Nascimento de uma Nação – que em linhas gerais exalta a escravidão e justifica a existência da segregação racial. Nesse controverso longa, explica-se que a KKK surgiu para ir contra os abolicionistas, mulatos e republicanos. Por ser algo bastante arraigado na sociedade estadunidense (o racismo), é apenas no período entre 1961 e 1968, nos governos de John Kennedy e Lyndon Johnson, que o governo federal dos Estados Unidos, adota medidas contra a segregação racial com o apoio da Corte Suprema. Porém, como esperado, houve grande resistência às medidas nos estados sulistas. Nessa época, é válida a atuação de Martin Luther King, em especial, com a Marcha sobre Washington de 1963. Estas ações levaram o Estado norte-americano a sancionar o Ato dos Direitos Civis (igualdade racial de direitos) e o Ato dos Direitos do Voto (proibição de medidas que invalidassem o direito de voto dos negros). Por outro lado, vale a nota de que o primeiro homossexual abertamente assumido (Harvey Milk), a ocupar um cargo público ocorreu apenas nos anos de 1970, no importante Estado da Califórnia, no mesmo EUA.

Dessa forma, os dois casos, o dos casais homoafetivos no Brasil, e dos negros nos Estados Unidos, mostram-se emblemáticos por serem acontecimentos decididos a partir da intervenção da instância máxima do Poder Judiciário, e acima de tudo, da vitória da herança Iluminista pautada em direitos inalienáveis. Pense que a defesa de uma atitude discriminatória ou preconceituosa frente a um grupo, justifica o mesmo tipo de comportamento perante outros grupos. A aplicação de direitos não é algo que existe na natureza, como um dado, mas é um construto social, e tal como a amizade, vive a partir de laços de confiança. Como esses laços são muito voláteis, flexíveis e com baixo poder de tensionamento, todos os esforços para a sua manutenção são ainda pouco satisfatórios. Ou seja, para além das leis, é preciso vigilância da população, visto que qualquer pessoa que vê episódios de discriminação e ignora, é tão culpado pelo quadro geral existente na sociedade, quanto aquele que puxa o ‘gatilho’.

Finalizo esse texto com uma fala da atriz Frances McDormand (Sra. Pell) que faz o papel de esposa de um dos responsáveis pelos assassinatos dos negros na cidade, e peça chave para o desvendamento dos crimes em Mississipi em Chamas.

- É feio.
- Esta coisa toda é tão feia.
- Você sabe o que é conviver com tudo isto?
- As pessoas nos vêem como fanáticos e racistas.
- O ódio não nasce com as pessoas.
- Ele é ensinado.
- No colégio, diziam que a segregação estava na Bíblia.
- Gênesis 9, versículo 27.
- Aos 7 anos você já ouviu o bastante, e passa a acreditar.
- Você acredita no ódio.
- Você vive o ódio, respira o ódio.
- Você se casa com ele.

Boa reflexão!
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*tratamento injusto de pessoas devido ao seu pertencimento a determinado grupo;
**atitude de se julgar uma pessoa com base nas características reais ou imaginárias de seu grupo;
***crença segundo a qual uma característica visível de um grupo, como por exemplo, a cor da pele, indica sua inferioridade e justifica a sua discriminação.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Ferreira Gullar pode nos ajudar a escrever críticas de cinema

"Você acha que exposição que nos mostra larvas de mosca é arte? Pode até ser muito interessante, mas não tem nada a ver com arte. A arte existe porque a vida não basta, a vida é pouca. E a arte nos traz coisas belas, fascinantes, atordoantes, maravilhosas. É para isso que existe. Não serve para mostrar larva de mosca. Eu sou o único crítico que diz essas coisas. Todo mundo fica com medo de parecer retrógrado. Todo mundo é avançado, moderno. Eu estou cagando para a modernidade." Ferreira Gullar

Definitivamente isso pode nos ajudar nas nossas críticas cinematográficas. Quem se interessar pela matéria completa, só é clicar aqui. Ela está publicada na: Revista de História da Biblioteca Nacional, ano 5, nº 59, Agosto 2010.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Nuovo Cinema Paradiso (1988)

Foto 1 - Totó e Alfredo no Cinema Paradiso

Cinema Paradiso personifica perfeitamente o verso da canção Celluloid Heroes do The Kinks:
I wish my life was a non-stop Hollywood movie show / A fantasy world of celluloid villains and heroes / Because celluloid heroes never feel any pain / And celluloid heroes never really die.
Cinema Paradiso é um filme sobre recordações e amor ao cinema. É como diz a música, ‘os heróis do cinema nunca sentem dor e nunca morrem realmente’, eles de fato permanecem no imaginário das pessoas, tornando-se imortais. É interessante notar como Giuseppe Tornatore mostra a paixão das pessoas pela grande tela, seja por parte de Totó, ou dos outros personagens que utilizam o espaço para infinitas atividades. No entanto, o impressionante é como a sétima arte passa a ser um elemento constitutivo e essencial ao convívio social daquela comunidade. Cinema Paradiso é uma verdadeira ode aos artistas da era de ouro do cinema, é a homenagem de um diretor a outros diretores como Pasolini e Renoir. É em suma, um tipo de intertextualidade, é o cinema falando dele próprio, sua evolução, seus nomes clássicos e sua receptividade no grande público.

O filme que possui três horas de duração pode ser facilmente dividido em três partes. O primeiro terço de Cinema Paradiso é uma obra-prima. Com elementos do neo-realismo italiano é capaz de momentos comoventes e divertidíssimos mesmo quando se busca representar a realidade social e econômica de uma época. Na primeira vez que vi o longa, achei que o ritmo narrativo era prejudicado no segundo terço dele. No entanto, vendo novamente a película, essa minha percepção mudou. A fase do Totó jovem, que se apaixona e acompanha um Alfredo cego, frágil e desiludido continua sendo repleto de diálogos inteligentes, sensíveis e universais. Como se não bastasse todos os ótimos momentos, ainda somos surpreendidos pelo final de Cinema Paradiso. Não irei nem contextualizar, para que quem ainda não assistiu, nem chegue a duvidar de nada, mas a cena é capaz de emocionar a qualquer um ao som da inesquecível trilha sonora do Enio Morricone. A homenagem que encontramos nessa película à sétima arte é impar, o que transforma "Cinema Paradiso" em um clássico. É, sem dúvida, obrigatório na memória de um bom fã do cinema.
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Nuovo Cinema Paradiso (Cinema Paradiso), França e Itália - 1988. Dirigido por Giuseppe Tornatore. Com: Philippe Noiret, Salvatore Cascio, Marco Leonardi, Jacques Perrin. 155 minutos. Gênero: Comédia, Drama e Romance.

Nota: 10.0

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Entre Tinieblas (1983)

Foto 1 - Irmãs Julia, Perdida e Rata de Beco, respectivamente, Julieta Serrano, Carmen Maura e Chus Lampreave

Pedro Almodóvar, realmente, consegue me surpreender e tirar boas gargalhadas de mim nos seus filmes totalmente mirabolantes. Eu que conhecia apenas suas produções recentes, realizadas a partir do ano de 1997, que, se diga de passagem, são, de fato, as suas melhores, me interessei pelos seus primeiros trabalhos produzidos nos anos de 1980. Destes, eu destaco o longa ‘Maus Hábitos’, que ao mostrar o dia a dia de um convento nada convencional consegue nos entreter. Entretenimento, eis a palavra de ordem, não veja a película pensando encontrar uma discussão profunda sobre a existência humana.

Almodóvar mostra que pode haver produções com essa finalidade sem que a inteligência do espectador seja colocada em cheque. Além disso, vemos um elenco formidável e conhecido – aliás, essa é uma das boas características do diretor – com um time muito bom para o cômico e o nonsense. Temos personagens pouco austeros para o ambiente que muitos julgam sagrado e sereno. E é engraçado como nada fica pesado ou ofensivo, quer dizer, talvez para mim, claro que os mais puritanos entrariam em choque com algumas passagens. Mesmo sendo em grande medida diversão, o filme tem um lado sério. Ele não satiriza apenas a religião, ele traz em si uma justificativa, e esse é um dos momentos, digamos, sério da película.

No cinema de Almodóvar é bem perceptível a existência de uma tensão com a igreja. Nascido em um país extremamente católico, e provavelmente, tendo tido uma educação que se valia dos princípios dessa religião, suas películas são reflexo desse seu conflito interior. Há uma passagem onde se argumenta exatamente o oposto do que nos é normalmente encucado. Há uma transgressão e inversão de raciocino que talvez seja a justificativa moral ou conforto espiritual do diretor para o seu estilo de vida que provavelmente não era dos mais ortodoxos. Justificativa porque mesmo não tendo uma vida comum, não consegue se desapegar das suas bases religiosas. Eis a passagem:
São nas criaturas imperfeitas que Deus encontra toda a sua grandeza. Jesus não morreu na cruz para salvar aos santos, e sim, para redimir os pecadores. Quando olho alguma destas mulheres (quem fala é Julia personagem de Julieta Serrano, e se refere a uma parede que há no seu quarto repleta de recortes de atrizes, dentre elas, Marilyn Monroe), sinto uma enorme gratidão, pois graças a elas, Deus segue vivendo e ressuscitado a cada dia.
O diretor espanhol que nos ensinou que o amor, na grande parte das vezes, é doentio, também nos fez/faz sorrir de situações pitorescas. Será que há uma identificação por conta de um ethos latino presente na formação ibérica e latino-americana? Provavelmente sim, mas de qualquer modo, suas cores vivas e pulsantes, seus enredos aparentemente confusos e seu humor escrachado são sempre elementos que nos fazem ir aos cinemas, tê-lo em nossas coleções, e sempre que possível, ver e rever seus personagens únicos.
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Entre Tinieblas (Maus Hábitos), Espanha - 1983. Dirigido por Pedro Almodóvar. Com: Cristina Sánchez Pascual, Carmen Maura, Marisa Paredes, Julieta Serrano, Chus Lampreave, Laura Cepeda, Lina Canalejas. 114 minutos. Gênero: Drama.

Nota: 8.0

quinta-feira, 31 de março de 2011

A cortina de ferro à moda brasileira

Em uma semana onde muitos se indignaram e discutiram temas como intolerância, preconceito, e reminiscências da ditadura de 64, parece que o episódio envolvendo o deputado Jair Bolsonaro foi feito sobre encomenda. Há exatos 47 anos, o Brasil entrava numa das suas fases mais conturbadas e difíceis politicamente e civilmente. Hoje, eu estou postando novamente um texto que escrevi em 13 de dezembro de 2008. Por quê? Essa semana foi prova de que o tema está mais vivo do que nunca, e que não se pode relaxar quando o tema é privação de direitos políticos e civis. Apresento, logo abaixo, uma tabela que, resumidamente, define o que, segundo José Murilo de Carvalho são os direitos civis, políticos e sociais. O texto não discute o início da ditadura, como a data de hoje marca, mas o AI-5, um dos atos mais obscuros e repressores dos 21 anos de regime militar.

Clique na imagem para vê-la em tamanho maior

Em 13 de dezembro de 1968, era promulgado o Ato Institucional número cinco, o famoso, AI-5. Neste ano, voltaram a ocorrer mobilizações contra o governo militar, sobretudo, entre operários e estudantes. Duas greves marcaram as manifestações operárias e os estudantes também saíram em marchas pela redemocratização. Numa dessas, o estudante Edson Luís fora morto. Para conter as manifestações de oposição, o general Costa e Silva decretou o AI-5, que dava poderes ao presidente para fechar o Congresso, as Assembléias Legislativas e as Câmaras Municipais. Além de poder cassar mandatos de parlamentares, suspender por dez anos os direitos políticos de qualquer pessoa, demitir funcionários públicos, decretar estado de sítio, e suspender garantias judiciais, como o habeas corpus, nos casos de crime contra a “segurança nacional”.

Desta maneira, o regime fechava todas as chances de expressão e oposição popular ao governo. Assim, a cortina de ferro à moda brasileira se constituía, estabelecendo um episódio de isolamento e extrema repressão, com relação a participação e mobilização política e cívica. Com o AI-5, a ditadura entrou em sua fase mais cruel, com perseguições, prisões, tortura e morte de opositores. Após quarenta anos, esse é um tema que sempre deve emergir do imaginário social. Este é um dos papéis da História, fazer surgir questões que não devem ser repetidas, além de contribuir para uma reflexão crítica. Mesmo vivendo em um Estado democrático de direito, ainda que formalmente, é fundamental que esta data, e o que ela significou para uma geração, seja sempre lembrada, e o seu significado debatido.
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*A imagem é uma adaptação minha, de uma famosa litografia do escultor estadunidense, Richard Serra. O original faz menção ao governo Bush, e ao invés de AI-5, tem escrito STOP BUSH.

**A parte histórica do texto foi construída a partir do Livro – CARVALHO, José Murilo. (2007). Cidadania no Brasil. São Paulo, Civilização Brasileira..

***Vale a pena conferir o programa da TV Brasil que será exibido a partir do dia 04 de abril. O nome: O dia que durou 21 anos, ver mais informações aqui.

quarta-feira, 30 de março de 2011

A qualidade da educação* explica o desenvolvimento econômico-social dos países?

Em fevereiro de 2009, eu escrevi um texto com esse mesmo título, para vê-lo, clique aqui. Hoje, depois de 2 anos, volto a escrever um novo artigo, com o mesmo título e debatendo o mesmo assunto. A questão agora é saber se as posições das Universidades brasileiras mudaram, e se os países que figuravam nas primeiras colocações, como detendo os melhores centros de pesquisa, ainda são os mesmos.

Periodicamente são divulgadas as listas das melhores universidades do mundo**. Para escolhê-las são levados em consideração diversos critérios. Citando um dos mais importantes, temos a forma como a Instituição de Ensino gera e comunica à sociedade seu conhecimento científico. O intuito de listas desta natureza é mensurar a atividade e a visibilidade das Instituições, tentando criar um indicador capaz de mostrar o impacto e o prestígio das Universidades.


A lista da “Webometrics Ranking of World Universities” consistiu num estudo de mais de 20.000 Universidades ao redor do mundo. E em seu site estão disponíveis os dados com as 500 melhores. Em sua classificação, o MIT (Massachusetts Institute of Technology – www.mit.edu) que era a número 1 em 2009, continua na mesma posição. No caso brasileiro, tivemos uma boa notícia. Em 2009, tínhamos 9 representantes, em 2011 esse número pulou para 12, onde figuram duas Universidades nordestinas. E, além disso, as colocações das Universidades brasileiras mudaram em relação a 2009. Nos quadros abaixo, se vê as melhores Universidades do mundo em 2011, segundo a pesquisa, e as Universidades brasileiras melhor classificadas em 2011 e 2009.

Da lista do Webometrics Ranking of World Universities, eu ainda destaco quantas Universidades são consideradas as melhores por continente, veja a informação no quadro 3. E, posteriormente, no quadro 4, estão elencados os países ao redor do mundo que detem as melhores Universidades.

Enfim, depois de tantas tabelas, e tantos números, para quê serviu esta postagem? A primeira coisa que pensei após olhar os resultados dessas pesquisas foi indagar sobre a questão das desigualdades existentes entre os países que possuem o melhor nível de educação superior do mundo e os outros, inclusive, o Brasil. Não precisa ser muito esperto para verificar que os dez primeiros países de cada ranking quase sempre são os mais desenvolvidos, tanto economicamente, quanto em qualidade de vida. Apenas ressaltando que mais de 4/5 das melhores Universidades se encontram em apenas 15 países. Ainda interpretando os dados, vejo que as desigualdades não se dão apenas entre países, mas também ocorre no âmbito regional. Basta observar quais são as melhores universidades brasileira, entre elas eu não vi a federal do Acre, por exemplo. Apesar de que este quadro parece mudar com a inclusão da UFBA e a UFPE, porém esta mudança precisa ser impulsionada em direção ao interior do Brasil. Dessa maneira, ainda há uma hegemonia de Instituições do eixo Sul-Sudeste. Neste post, não vou explicitar uma opinião fechada, vou apenas indagar: Será que a qualidade da educação explica o desenvolvimento econômico-social dos países? A resposta parece óbvia, mesmo havendo quem não “queira” ver.
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* O sentido de educação empregado aqui, é de produção de pesquisa, conhecimento e novas tecnologias.
** Mais informações, inclusive sobre a metodologia empregada na pesquisa, basta consultar o hiperlink indicado. Todos os rankings estão disponíveis no site do realizador da pesquisa.
P.S.: Todas as tabelas foram feitas com dados coletados do 'Webometrics Ranking of World Universities'.

sexta-feira, 25 de março de 2011

Who's Afraid of Virginia Woolf? (1966)

Foto 1 - Richard Burton e Elizabeth Taylor em 'Quem Tem Medo de Virginia Woolf?’

‘Quem Tem Medo de Virginia Woolf?’ é sarcasmo puro, do começo ao fim. Muito bem afinados e afiados, o casal Elizabeth Taylor e Richard Burton transforma o longa em uma experiência avassaladora. Provavelmente, o casal fez das suas brigas privadas/intimas um ótimo laboratório para poderem interpretar seus personagens. É difícil dizer em poucas palavras qual o fio condutor da trama, o roteiro é bastante complexo. Às vezes, pensamos que conseguimos captar a ideia principal, mas no momento seguinte, somos levados a questionar nossas convicções anteriores, e eis que o roteiro torna-se um enigma novamente.

O fato é que os inesquecíveis, George (Burton) e Martha (Taylor), são dois sádicos, que em jogos particulares acabam envolvendo terceiros, de forma a atingirem ou compartilhar seus problemas e desilusões pessoais. Em uma noite regada a bastante álcool e insultos, o casal começa a exteriorizar todas suas ilusões sem nenhum tipo de pudor. Dessa forma, somos totalmente levados a perceber o quanto de sujeira se esconde debaixo do tapete de casamentos por conveniência. Anos de hipocrisia vão aparecendo, até que a mais grave das ilusões é desvendada. Por outro lado, o casal convidado é uma replicação jovem do que já fora George e Martha um dia, e é claro que eles não vão deixar isso passar em branco. Afinal, a frase de ordem da noite é: Abaixo ao cinismo e meias-verdades!

A película já me ganha nos minutos iniciais quando os dois protagonistas discutem sobre uma fala: What a dump! Fala que é proferida por Bette Davis, no filme Beyond the Forest (1949). Além disso, há cenas espetaculares, como a que George ‘atira’ em Martha, ou as falas, ou melhor, as sacadas e a rapidez com que as falas são ditas no primeiro contato que temos entre o casal e os convidados. Por que não se fazem mais filmes fortemente baseados no roteiro e nas interpretações? Eu até tenho alguns palpites, talvez o James Cameron pudesse responder melhor a isso, ops... Esse longa é obrigatório em qualquer coleção, de qualquer cinéfilo, e falo isso sem titubear. Definitivamente, Elizabeth Taylor provou não ser apenas um rostinho e corpinho bonito na tela. No papel de Martha, ela aparece mais envelhecida e com muitos quilos a mais do que o público estava acostumado a ver. E o que ela faz? Dá um show, uma aula de como ser agressiva, megera, carente, frágil, fútil, estúpida e bêbada.
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Who's Afraid of Virginia Woolf? (Quem Tem Medo de Virginia Woolf?), Estados Unidos - 1966. Dirigido por Mike Nichols. Com: Elizabeth Taylor, Richard Burton, Sandy Dennis, George Segal. 131 minutos. Gênero: Drama.

Nota: 9.5

quinta-feira, 24 de março de 2011

Suddenly, Last Summer (1959)

Foto 1 - Katharine Hepburn, Montgomery Clift e Elizabeth Taylor em cena

Ver as atuações de Katharine Hepburn, Elizabeth Taylor e Montgomery Clift em uma mesma cena é ter a sensação de presenciar a ‘santíssima trindade’ tomando formas humanas perante seus olhos. Falar das qualidades artísticas da Hepburn é ser redundante, em 1959 já era reconhecidamente um dos maiores nomes do Cinema mundial. Sempre precisa e forte, momento algum hesitante ou superficial. E a Taylor? Jovem, sensual e dramática ao ponto de deixarmos de lado até os exageros do roteiro.

Na verdade toda a película anda sobre uma ‘corda bamba’. Diversos temas são tratados no longa, porém, o mais ‘controverso’ é o da homossexualidade. Desde o ano de 1934, o cinema norte-americano era observado de perto por entidades que julgavam serem as guardiãs da moralidade. De acordo com o documentário, ‘O outro lado de Hollywood’, o filme recebeu a seguinte crítica do The New York Time: "Filme de degenerados, trabalho de degenerados." Sobre a película, ainda saiu um comentário de Bosley Crowther, um respeitado crítico da época, “Se gostar do incesto, da violação, da sodomia, do canibalismo, da degeneração, isto é um filme para você, este filme é repugnante.”

Dessa forma, o que o diretor Joseph L. Mankiewicz conseguiu fazer com o roteiro – já que não era possível falar explicitamente de tudo – foi criar um ambiente em que o espectador é levado a imaginar, a criar algumas realidades. É óbvio que mesmo antes da cena final, nós já conseguimos ter ideia da natureza do Sebastian e do seu relacionamento com sua mãe e prima. O elemento que fará toda a história vir à tona é o médico interpretado pelo Clift. Não é possível dizer que este é o seu melhor trabalho, mas sua performance equilibrada e concisa, se não o torna inesquecível nesse papel, também não atrapalha em nada a continuidade do filme.

‘De repente, no último verão’ é isso, uma conjunção de grandes estrelas e excelentes diálogos à moda de Mankiewicz. Tema visto como doentio na época daí muitas metáforas e mensagens nas entrelinhas, tudo bem, às vezes o roteiro beira o dramalhão, mas nada que apague a qualidade da marca do Tennessee Williams na trama. Enfim, é irregular, mas nunca monótono, e se no final nada te agradar, você não pode negar a perfeição dos atores, afinal de contas, estou falando da ‘santíssima trindade’.
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Suddenly, Last Summer (De Repente, No Último Verão), Estados Unidos - 1959. Dirigido por Joseph L. Mankiewicz. Com: Katharine Hepburn, Elizabeth Taylor, Montgomery Clift, Mercedes McCambridge. 114 minutos. Gênero: Drama.

Nota: 7.5

quarta-feira, 23 de março de 2011

Morre Elizabeth Taylor

terça-feira, 22 de março de 2011

Funny Girl (1968)

Foto 1 - Barbra Streisand em 'Funny Girl'

Musicais, realmente, não me atraem. Sempre fico irritado pelo fato das pessoas começarem a cantar do nada. Sem motivo aparente, elas são tomadas por algum tipo de ‘entidade cantora’, e saem desembestadas saltitando e entoando canções – muitas vezes chatas, vale enfatizar. E sem fugir a regra, Funny Girl é mais um deles. O filme é bastante irregular, há uma mescla do melhor do William Wyler com o pior do gênero. Em minha opinião, os melhores momentos da Barbra Streisand são quando ela não está cantando. Ou seja, quando ela está ou encenando comicamente – ela consegue realmente extrair algumas gargalhadas do expectador – ou quando está atuando dramaticamente. Além disso, o carisma da Streisand é inegável e, por isso, ela consegue encantar qualquer um. Novo talento – era o que a atriz era naquele momento -, boa atuação unido a carisma, com a marca da direção do Wyler fazem o filme não cambalear para o piegas. É interessante a tomada do Wyler na cena em que se faz uma paródia do ‘O Lago dos Cisnes’. Esse mesmo estilo pode ser visto em Jezebel quando Bette Davis e Henry Fonda estão no baile dançando a valsa, é simplesmente sensacional! Para finalizar o comentário sobre a película, eu digo que não é um filme memorável, no entanto, questões conjunturais o fazem ser lembrado. Uma dessas coisas é o Oscar da Streisand que foi dividido com a grande estrela Katharine Hepburn, sendo as duas as vencedoras do ano.

Irei tomar liberdade, e escrever sobre o ‘comandante’ Wyler. Ele possui doze indicações ao Oscar, na categoria direção, tendo vencido em três oportunidades. Além de ter recebido o Irving G. Thalberg Memorial Award – prêmio concedido a produtores de cinema cujo trabalho reflete constantemente uma produção de filmes de qualidade. Uma característica marcante nesse diretor, eu acredito que seja a valorização dos seus atores nas suas películas. Sem dúvida alguma, ele prezava pelas atuações de qualidade, onde a Barbra Streisand se inclui com sua ‘Funny Girl’. De um rápido levantamento feito por mim – ou seja, a informação pode estar incompleta, outros atores podem fazer parte dessa lista – em nove filmes dirigidos pelo Wyler, treze atores receberam um Oscar por suas atuações, sendo que sete na categoria principal de melhor ator/atriz. Ver tabela abaixo.

Tabela 1 - Na tabela figuram vários nomes de peso da sétima arte, todos eles foram dirigidos pelo William Wyler.
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Funny Girl (Funny Girl - A Garota Genial), Estados Unidos - 1968. Dirigido por William Wyler. Com: Barbra Streisand, Omar Sharif, Frank Faylen. 151 minutos. Gênero: Drama, Musical.

Nota: 7.0

segunda-feira, 21 de março de 2011

Hævnen / In a Better World (2010)

Foto 1 - Os protagonistas do filme

Imaginem um mundo regido pela Lei de Talião: olho por olho e dente por dente. Imaginem um lugar onde os indivíduos pudessem fazer justiça com as próprias mãos. Imaginem a lógica hobbesiana do ‘homem é lobo do próprio homem’ sendo aplicada a você ou aos seus familiares. Mesmo que em muitas circunstâncias essas noções pareçam justas, será que são tão neutras e será que não trazem consequências nocivas para o convívio em sociedade?

‘Em um mundo melhor’ temos duas realidades. Um médico, provavelmente, participante de algum programa de ajuda humanitário na África procura, não só ensinar ao filho que agressão não se responde com agressão, como no exercício da sua função, ser ético, mesmo quando isso é difícil. Por outro lado, temos duas crianças com seus 10/11 anos que acreditam que valentões não podem sair ilesos, daí passam a tratar o mal com um mal ainda maior, no intuito de não serem confundidos com covardes.

Temos um ótimo filme com esses temas aparentemente ordinários. No entanto, a combinação de uma direção segura da Susanne Bier, com um excelente elenco nos proporciona momentos de tensão, drama e reflexão. A cada momento, diretora e atores vão ultrapassando os limites da violência numa escala, onde mesmo que indiretamente, outras vidas/pessoas são incluídas. Claro que não são dadas respostas para todas as questões levantadas, mas Bier consegue puxar literalmente o espectador para dentro da trama. Não sei se estou ficando bobo, mas me deixei levar pelo roteiro. Em certas cenas, sabemos o que vai acontecer, no entanto, não ficamos menos surpresos quando os fatos ocorrem.

Um pouco fora do filme, mais um desabafo. No longa, vivenciamos uma relação de amor e ódio. Há uma criança bem mimada, cujo pai não toma nenhuma atitude. São esses lugares ‘politicamente corretos’, não há castigos, o menino sai a hora que quer de casa, brinca com o que quer. Se há algum jurista lendo esse texto, os pais não podem ser responsabilizados pelas atitudes dos filhos? Ainda mais quando de grandes proporções como a que vemos na película? No mesmo sentido, na mesma onda de atitudes corretas, enquanto existe um impasse na direção da escola em resolver os problemas de bullying, as crianças tomam suas próprias providências, e posteriormente a coordenação não sofre nenhum tipo de punição. Enfim, são apenas algumas coisas que revoltam, e que poderiam acontecer com qualquer um na vida real. Por tocar em questões bem relevantes e todo o resto discutido, é um filme que vale muito a pena ver! Só um comentário extra, é patético o Brasil querer competir com um filme dessa magnitude, mandando para a competição seu candidato: ‘Lula, o filho do Brasil’. É de fazer rir!
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Hævnen (Em um mundo melhor), Dinamarca/Suécia - 2010. Dirigido por Susanne Bier. Com: Mikael Persbrandt, William Jøhnk Nielsen, Markus Rygaard, Ulrich Thomsen, Trine Dyrholm. 119 minutos. Gênero: Drama.

Nota: 9.5