domingo, 27 de setembro de 2009

Blade Runner, o caçador de andróides (1982)

Por conta da leitura que fiz no blog Rosebud é o Trenó! no post Top 10 - Os filmes da minha vida, tive o incentivo para ver o filme Blade Runner, o caçador de andróides (1982). E agora, estou aqui para escrever as minhas impressões a respeito dele. Sendo mais claro, quero analisar o seu conteúdo, em especial, quatro aspectos dele. Uma sinopse, pode ser lida aqui.

O primeiro refere-se ao poder do personagem Tyrell. Ele é o criador e idealizador dos andróides, ou seja, o similar ao Deus da sociedade ocidental. Daí, a foto acima. Ela na verdade representa duas coisas. A primeira, a clássica criação de Adão de Michelangelo, mostra o poder de decidir sobre a criação de outro ser. E a segunda, a prestação de contas da criatura perante o seu idealizador, cena do assassinato de Tyrell. Enquanto na primeira imagem, temos uma relação monovalente, na segunda, observamos a possibilidade de responsabilização do criador por suas atitudes. Nesse sentido, a pergunta é: É válido alguém ter o poder de criar e matar, além de privilegiar um dado estrato em detrimento de outro? Blade Runner não é o primeiro a tratar desse tema. Em um filme chamado Admirável Mundo Novo (1998), uma sociedade é organizada em grupos, onde cada um com a sua função, gera a ordem vigente perfeita. Entretanto, separada dela, está um grupo chamado de "selvagem" que possui um status diferente e direitos suprimidos. Até que um representante dos selvagens é levado para a sociedade que é considerada perfeita. A consequência disso é que o selvagem por possuir valores diferentes dos daquela cidade passa a questionar atitudes consideradas normais, e a exigir tratamento igual entre os grupos. Voltando a Blade Runner, a cena onde Roy Batty mata Tyrell é emblemática. É inevitável controlar a furia da criatura quando ela pode exigir direitos que só o criador possui. Vida limitada e a impossibilidade de aumentá-la é o grande estopim para provocar a fúria. O outro ponto é: O que distigue um humano de um replicante? Aqui, o poder de decisão de quem possui essa prerrogativa é imensa, e como evitar que ele se utilize dessa imcubência em benefício próprio? Essas são questões para pensar.

A segunda é a atualização do mito de Antígona. Esse é um dos mitos gregos mais presentes no nosso dia a dia. Em poucas palavras, ele mostra como é difícil fazer algo contra aqueles que temos algum tipo de laço afetivo. E esse é o paradoxo vivido por Deckard. Deckard mesmo sendo o caçador de andróides, apaixona-se por uma, seu nome, Rachael. Ela é uma replicante que pensa ser humana, devido a implantes de memórias desenvolvidos pela Tyrell Corporation. A questão central é: Mais vale seguir as recomendações e as leis de uma dada sociedade, ou infrigí-las, a fim de defender as pessoas próximas? Ou seja, o que é mais importante, os desejos públicos ou os privados? No filme, numa romantização, fica claro o desejo particularista, já que todos os andróides restantes são mortos, com exceção de Rachael que acaba fugindo com Deckard. Isso deixa em evidencia que as ambições particulares interessam mais naquela ocasião porque de fato todos morrerão um dia.

A terceira é o debate sobre a questão fundamental discutida há muito nas sociedades européias durante a Idade Moderna. No filme, o axioma, Penso, logo existo, é colocado em xeque. Em Blade Runner fica claro que não basta apenas pensar para existir. Os andróides em grande medida possuem uma autonomia cognitiva que os possibilitam realizar inúmeras atividade em paridade aos humanos. Entretanto, tudo o que eles pensam ter vivido, ou seja, sua memória, sua história precedente é implanta e não vivenciada. Acredito, então, que o diretor nos revela que a existência está bem mais atrelada à memória individual, do que ao pensamento em si. Assim, nem sempre as imagens mentais ou a razão são suficientes para explicar a existência, visto que ela está mais correlacionada às experiências materiais individuais.

Por fim, quero ressaltar apenas as referências ao jogo Atari e a Coca-Cola. E dizer o quão belo é o letreiro luminoso que aparece no filme. Como também a tomada onde um olho azul reflete as chamas do início do filme.

Enfim, o filme além dessas questões elencadas aqui, possui algumas outras referências que poderíamos discutir. Ou seja, a película é rica em problematizações daquilo que consideramos como elementos dados como normais. Entretanto, muitas vezes os problemas tratados neste post são subaproveitados por Ridley Scott e seus roteiristas. Não há um caminho proposto por eles, o que gera personagens incompletos, sem definições, e isso é bom até um certo ponto. Além disso, não temos boas atuações, dignas de comentários. Nesse sentido, o longa torna-se extremamente mediano. Outro furo na produção é que a intenção é que não identifiquemos o cenário como algo familiar, a intenção é que ele seja tão futurístico que se torne atemporal. Ok, até ai tudo bem, mas como explicar aquelas vastas paisagens/cenários tão sem vida/som, mesmo tendo sempre multidões transitando? Como uma miscelânea de povos emitem praticamente um mesmo som? No mais, tentei aprofundar um pouco as questões que me chamaram atenção, sem dúvida, como salientei, no longa temos uma bela produção de arte, mas isso para mim, não o classifica como um filme digno de entrar no hall da fama do cinema, mas também não o torna um pária entre seus pares, ele é apenas um filme mediano.

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