sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Retrospectiva 2010

Segue um vídeo feito pelo Vinícius Pereira da SBBC que traz uma retrospectiva dos filmes que estrearam no ano de 2010 no Brasil, e que estarão na disputa pelo Blog de Ouro 2011.


quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Velvet Goldmine (1998)


“Estávamos vivendo nossos sonhos”, isso é Velvet Goldmine, uma viagem onírica, um sonho curto, mas arrebatador. Em um filme periodizado na época do Glam Rock, Todd Haynes busca os conflitos dos astros e dos seus fãs. O mote para a história é a morte forjada por um dos ícones do Glam Rock - Brian Slade (interpretado por John Rhys-Meyers). Ao mesmo tempo, nos é apresentado Arthur Stuart (Christian Bale), nos anos 70, um jovem inglês que curtia o cenário musical, anos mais tarde, um jornalista que tenta desvendar o paradeiro de Slade.

Velvet Goldmine pode ser visto por vários ângulos, desde a ambientação do movimento numa Inglaterra ainda bastante puritana, ou através dos vieses da sexualidade, da fama e da busca de identidade. Para isso, Todd Haynes criou um universo decadente, de experimentação sexual, mergulhado em canções contagiantes, muita maquiagem e glitter. O espectador imerso em canções enérgicas e envolventes é apresentado a um trabalho de montagem admirável (James Lyons), assim como a uma bela fotografia (Maryse Alberti) e um guarda-roupa audaz (Sandy Powell). Velvet Goldmine coloca-se como uma obra excêntrica e precisa no que pretende.

Referências musicais como a T. Rex, David Bowie – qualquer semelhança com Ziggy Stardust, não é aleatória - e Iggy Pop não faltam, como também a Orson Welles. A partir daí nos é apresentada uma Londres que fervia nos anos de 1970 com muito glitter, sexo livre e rock’n’roll. Musical por definição, o longa conta com as atuações inspiradas de Ewan McGregor (como Curt Wild), Toni Collette (como Mandy Slade, a esposa de Brian Slade) e Christian Bale. Apesar de Velvet Goldmine não ser uma película que agrade a todos, ou livre de censura – ou seja, que todos possam assistir, é um filme inovador. Há nele uma excelente trilha sonora, ótimas atuações, visual e ambientação minimamente reconstituídos. Para quem curte ou quer conhecer um pouco do Glam Rock é uma boa pedida.
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Velvet Goldmine, Estados Unidos/Reino Unido - 1998. Dirigido por Todd Haynes. Com: Ewan McGregor, Christian Bale, Toni Collette, John Rhys-Meyers. 124 min. Gênero: Drama, Musical.

Nota: 8,0

sábado, 9 de outubro de 2010

Novo selo para o blog

Um amigo blogueiro me presenteou com um selo - Este blog faz a minha cabeça. Segue o selo:

Agradeço ao Clênio por essa lembrança, e aproveito para divulgar seus dois blogs que já fazem há bastante tempo parte dos meus prediletos.

Segue os links deles:

1. Lennys' Mind
2. Um filme por dia

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

40 anos sem...


Para ver um filme que trata da vida da Janis Joplin, clique aqui.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

The Reader (2008)

Foto 1 - Kate Winslet como Hanna Schmitz

O Leitor tenta levar o espectador ao choro através de uma estratégia já utilizada por Cinema Paradiso. No primeiro, as lembranças são reavivadas com fitas que contém histórias lidas no passado, no último, passagens de filmes censurados são reunidos e dão movimento a fatos e imagens presentes no imaginário do personagem principal. Bom, é verdade que ambas as passagens tiveram, em mim, o efeito pretendido pelo roteirista e diretor dos filmes. No entanto, o impacto sentido em O Leitor já não foi o de surpresa, nem de embasbacamento, visto que em Cinema Paradiso víamos uma ode ao Cinema, ao que em mim tocou mais profundamente.

O tema “memória” é algo recorrente na cinematografia, e é a esse mote que O Leitor se agarra. Tratando a vida como repleta de acasos e encontros casuais, o roteirista David Hare, o mesmo de As Horas, monta um quebra-cabeças inicialmente amoroso e por fim trágico. Ao passar mal, Michael (David Kross) conhece Hanna Schmitz (Kate Winslet), uma mulher que com o passar do tempo, superficialmente, aparenta não possuir sentimentos, a não ser, quando é inserida no mundo da literatura. Ela possui uma “estranha” paixão pelas histórias, e descobre em Michael a oportunidade de vivenciar aquilo que nunca poderia fazer sozinha. Em contrapartida, o jovem Michael beirava os 15/16 anos, estava com os hormônios em alta, então o incentivo encontrado por Hanna foi iniciar o garoto no sexo. A cada nova leitura, o rapaz tinha “direito” a uma nova transa. Enfim, grande parte do filme concentra-se nesse momento. No entanto, o “casal” se separa da mesma forma como se formou, abruptamente. Anos mais tarde, se encontram, só que de uma maneira não muito agradável.

Kate Winslet demonstra toda a sua técnica ao construir uma personagem claramente marcada pelo “moinho da vida”. Uma mulher que visivelmente sofreu e sofre com a vida. Incisiva, enfática, dura, tão complexa e multifacetada que um garoto de 15 anos não seria capaz de entender, e muito menos ajudar. Contudo, ficam duas questões: Kate Winslet ao interpretar Hanna beirando seus 60/70 anos, é uma senhora ou apenas uma senhora com maquiagem, com jeitão de 30 anos? E a segunda que já não tem a ver com a interpretação dela: Será que ela é a personagem principal do longa? O Oscar de melhor atriz foi justo? Não lhe caberia um Oscar de atriz coadjuvante? Mas apesar disso, sem dúvidas é um prazer vê-la em cena.

Sobre o filme vários temas são abordados, mas será que eles são tratados apropriadamente? A primeira parte eu acho que sim, a relação e os encontros amorosos dos dois são perfeitos, percebe-se uma sinergia positiva nas atuações. Entretanto, na outra metade do filme, há um problema ao se tratar uma questão tão complexa como dos crimes nazistas de forma tão abrupta e como gancho para realizar o link entre o passado e o futuro dos personagens. A sorte é que nas cenas vemos uma atriz gabaritada, caso contrário, o longa estaria fadado ao fracasso. Pela Kate Winslet vale a indicação da película!
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The Reader (O Leitor), Alemanha/Estados Unidos - 2008. Dirigido por Stephen Daldry. Com: Kate Winslet, Ralph Fiennes, David Kros. 124 minutos. Gênero: Drama, Romance.

Nota: 8.5

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Far From Heaven (2002)

Foto 1 - Julianne Moore como Cathy Whitaker

Presteza que beira ao conformismo define bem Cathy Whitaker (Julianne Moore)? Seria Cathy a Amélia de Ataulpho Alves e Mário Lago? Em uma sociedade totalmente pautada pelas aparências, onde os resultados do sucesso dependiam únicos e exclusivamente, da sua reputação, Cathy para além da síndrome de Amélia, não era apenas uma mulher fútil e afetada, como muitas da sua classe social. No entanto, em pouco tempo, sua vida desmorona. Antes presente na coluna social de sua cidade, tida como possuindo o modelo ideal de família, acaba sem ninguém a sua volta.

Nos momentos iniciais de “Longe do Paraíso”, escrito e dirigido por Todd Haynes, tive a impressão de estar em um dos épicos de Tennessee Williams, filmado por Elia Kazan. Ninguém melhor que esse dramaturgo americano retratou nas páginas dos livros as tensões vividas pelos homossexuais. E o homossexualismo é um dos elementos com que Cathy se depara. Mãe de duas crianças, e casada com Frank Whitaker (Dennis Quaid), descobre que seu marido é gay. Em busca de uma correção desse comportamento “desviante”, ele procura terapia tentando se livrar do “mal” que o faz se interessar por homens.

Outro tema tratado no longa é a questão racial. Cathy que se interessava por arte moderna, também era defensora dos direitos civis dos negros, uma mulher bastante avançada para a sociedade conservadora dos anos de 1950. Com seu casamento já em declínio, ela passa a conviver com seu jardineiro (Dennis Haysbert) e isso terá profundas conseqüências tanto para a própria Cathy, quanto para o próprio jardineiro.

Esteticamente o filme é belíssimo, a fotografia é de um primor que enche os olhos a cada tomada. A película foi feita para ter um clima de perdido no tempo, como se fosse uma miragem ou um sonho. Nada melhor então do que filmar nos cenários de outono, onde a paisagem do hemisfério norte é tomada por tons amarelados e alaranjados, e por folhas que caem das árvores caducifólias.

Cathy não era uma Amélia, puro e simplesmente. Era uma mulher dedicada a sua família, que, no entanto, vivia entre dois mundos. O falso e vazio mundo das aparências do ambiente que socialmente frequentava, visto que pertencia a uma elite local, e aquele mundo que acreditava. Acho que na verdade ela era uma sonhadora, para ela não havia obstáculos incapazes de serem transpostos, é verdade que isso beira a ingenuidade. Mas ela conseguiu ver no seu contato com o jardineiro a possibilidade de realização dessa utopia em plenos anos 50. Vivendo essa ambigüidade e, com certeza, angustiante condição está a Julianne Moore. E é preciso dizer, que performance inesquecível ela entrega aos espectadores. Sutil e delicada como as cores do outono, convincente como os ideais que acreditava, mas também ambivalente e confusa quando o mundo que vivia e que acreditava são postos em xeque. Por tratar de temas tão relevantes ainda nos tempos atuais, por ter uma cadência que a ambientação do filme se propõe, e pela atuação multifacetada e, por isso, brilhante da Julianne Moore, Longe do Paraíso é um longa que eu recomendo.
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Far from Heaven (Longe do Paraíso), Estados Unidos - 2002. Dirigido por Todd Haynes. Com: Julianne Moore, Dennis Quaid, Dennis Haysbert, Patricia Clarkson, Viola Davis. 107 minutos. Gênero: Drama.

Nota: 9,5

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Afrosambajazz

Recentemente ouvi alguém falar da desorganização sonora do samba quando comparado ao tango. Provavelmente essa pessoa nunca ouviu falar dos afrosambas de Baden Powell e Vinícius de Moraes. Neste trabalho, temos os mais diversos elementos da sonoridade africana, de atabaques e afoxés até agogôs. Para muitos, as composições deste álbum são divisoras de água da MPB. Numa dessas, eis que aporta aqui no Recife, o show de lançamento do álbum afrosambajazz, que é justamente uma releitura dos afrosambas de Baden Powell e Vinícius. Mario Adnet e Philippe Baden, acompanhados por uma ótima banda proporcionaram um verdadeiro espetáculo nesta noite de quinta-feira (22/07). A apresentação contou ainda com a belíssima participação especial da Mônica Salmaso. Esta que interpretou soberbamente canções como Canto de Yemanjá e Suite Yansan. O primeiro disco onde havia a influência africana foi combinada aos saxofones, pianos, trombones, bateria e arranjos de sanfona, isso tudo construindo uma harmonia musical, não apenas rica, como singular. Ouvi as conhecidas e clássicas Canto de Ossanha, Berimbau, Canto de Xangô, Lamento de Exu, apenas para citar algumas, e outras pouco conhecidas do repertório do Powell, como Sermão e Alodê. Não deixem de procurar mais informações sobre estes excelentes trabalhos, e se por acaso eles tiverem de show agendado nas suas cidades, não deixem de conferir.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Aos velhos tempos...


sábado, 26 de junho de 2010

MTV Unplugged com Phoenix

Estando, no momento, em baixa como o mundo da sétima arte, eis que me aparece esse MTV Unplugged do Phoenix, banda francesa, que já foi destaque aqui do chá de poejo. A seguir, vídeo da música - Long Distance Call. Para ver o unplugged completo, clique aqui.

sábado, 5 de junho de 2010

Cartola: música para os olhos (2006)

O que Ismael Silva, João da Baiana, Pixinguinha, Nelson Sargento, Xangô da Mangueira, Donga, Carlos Cachaça, Tia Ciata, Nelson Cavaquinho, Heitor dos Prazeres, Aracy de Almeida, Elizeth Cardoso, Elza Soares, Zé Keti, Nara Leão, Clementina de Jesus, Paulinho da Viola, Beth Carvalho e Hermínio Belo de Carvalho, apenas para citar alguns, tem a ver? Qualquer um que conhece minimamente a música popular brasileira sabe a resposta. Quem não sabe, que fique sabendo, é o amor pelo samba. E mais do que isso, foram nomes que fizeram parte da vida do Cartola de alguma forma.

Todas essas pessoas são citadas no documentário, Cartola: música para os olhos, que conta a história de vida do sambista mangueirense, ao mesmo tempo em que vários sambas e sambistas são apresentados. A estratégia do diretor talvez se justifique pelo fato de que a vida do Cartola se confunde com a própria história do surgimento e consolidação do samba enquanto elemento cultural brasileiro. Nesse sentido, defende-se a tese de que a história do ethos carioca equivale ao desenvolvimento do samba, seja ele o jeito boêmio ou malandro. Sem falar do fato das escolas de samba, os berços dos bambas, terem contado a história do Brasil em uma época em que se buscava uma identidade para o país. Um exemplo disso são os enredos sobre história do Brasil tratados pela ótica dos negros, vide, por exemplo, os desfiles do Salgueiro do final dos anos de 1950 e início de 1960.

No entanto, no filme também tem espaço, claro, para o protagonista Cartola. A película que é “regada” pelas belíssimas composições de sua autoria, narra entre outras coisas da sua vida, o seu encontro com Dona Zica. Fato marcante também é a passagem pela casa de samba ZiCartola que reuniu, na década de 1960, a nata dos sambistas cariocas. Enfim, são contados momentos desde o seu nascimento até a sua morte em 1980. O ostracismo vivido nos anos de 1950 e o ressurgimento do poeta que foi um dos fundadores da Mangueira nos idos de 1960.

Com relação a críticas negativas, tenho duas. A primeira é sobre o áudio. É verdade que a história é muitas vezes contada pelos próprios personagens da trama, e isso foi conseguido através de arquivos pessoais, e de gravações feitas há muitos anos. No entanto, não são justificativas para a má qualidade sonora, muitas vezes o que está sendo dito não é compreensível. E a segunda, é sobre a estratégia não muito boa de utilizar trechos de outros filmes para ilustrar momentos da história brasileira, achei que eles mais atrapalham do que ajudam. Entretanto, nada disso tira o brilho da produção, aliás, com relação à primeira crítica, chama atenção para uma melhor conservação do acervo cultural brasileiro. Enfim, é esse é um daqueles filmes essenciais para quem gosta de música brasileira. É a história de um brasileiro comum, que por uma daquelas coisas inexplicáveis tornou-se um dos maiores poetas populares, para alguns, o maior.

Para ver o site do filme, clique aqui.
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Cartola - Música para os olhos, Brasil - 2006. Dirigido por Lírio Ferreira e Hilton Lacerda. 85 minutos. Gênero: Documentário, Biografia.
Nota: 8.0

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Parabéns pelos 105 anos!

Hoje é um dia especial para todos fanáticos torcedores do Sport Club do Recife. Há exatos 105 anos, em 13 de maio de 1905, Guilherme de Aquino reunia, no Recife, ardentes seguidores fundando uma nação de vencedores. Apesar de ainda precisar melhorar em muitos setores da sua administração, e ai sim, entrar para o hall dos grandes clubes brasileiros, os incansáveis rubro-negros não cansam de dizer: Sport, uma razão para viver! Parabéns pelos 105 anos de existência, porque esse é o Sport que emociona, é o Sport que a gente ama!

domingo, 9 de maio de 2010

A Single Man (2009)

Um dia pode mudar o resto da nossa vida? A resposta é clara e óbvia. Sim! A sensação de vazio e do voar dos dias às vezes nos faz subestimar a importância que alguns minutos podem ter. Não é difícil, em algumas circunstâncias, termos que decidir ou mostrar nosso potencial em rápidos 15 minutos. E o resultado produzido neste curto período repercutirá sobre o que faremos nos próximos 2, 3 ou 4 anos. Pois bem, em A Single Man (2009) vivemos com George (Colin Firth) 1 dia de sua vida e descobrimos seu pesadelo, sua paixão e seu desafio. Seu pesadelo é lembrar-se da morte do companheiro (Jim), sua paixão foi o seu companheiro Jim (Matthew Goode) com quem viveu durante 16 anos, e o seu desafio é cometer o seu tão planejado suicídio.

George está morrendo por dentro – essa percepção é ajudada pelo belíssimo trabalho de arte do longa -, mas não se permite externalizar isso. Nem mesmo para sua melhor amiga, Charlotte (Julianne Moore), com quem na juventude teve um affair. Além disso, parece que ele não é um gay assumido, até porque estamos falando da Califórnia de 1962. Ou seja, ele tem um autocontrole que no contexto o torna cada vez mais sufocado. Ele não consegue se envolver com mais ninguém, nem mesmo de forma casual. Até que tem um tipo de situação atípica em um encontro que não foi programado com um de seus alunos (Kenny) que por coincidência se parece muito com ele. Kenny parece ter se envolvido com uma amiga, tal como George, mas que parece nutrir algum tipo de paixão pelo mestre.

A história que é contada em flashbacks é tomada por sentimentalismos. E esse último ponto para mim, é o que faz a película perder força. Esse ingrediente faz o drama se tornar em um dramalhão. Gosto muito de ver atores em cenas fortes que exigem grande capacidade cênica, mas convenhamos que a esfera criada de – ai meu Deus, vou me matar! – torna maçante alguns momentos do filme, até porque é evidente que ele não concretizará o ato. No entanto, um ponto muito positivo e que não deixa a trama descambar totalmente, é a atuação do Colin Firth e do elenco de apoio. Os momentos de cumplicidade de Firth e Moore são belíssimos – ajudados ainda mais pela maravilhosa voz da Etta James –, tal como o momento em que ele tem conhecimento da morte de Jim. Firth consegue mergulhar psicologicamente em um personagem pouco comum no cinema de maneira primorosa.

Em suma, A Single Man (2009) está longe de ser um clássico, no entanto, é uma aula de bom gosto. Dirigido pelo Tom Ford, cada figurino, cada plano e cada ator parece ter sido escolhido a dedo e com bastante esmero. No entanto, o excesso de sentimentalismo da trama prejudica o desenvolvimento do filme que se torna cansativo no tocante ao dilema do protagonista entre continuar a viver ou cometer suicídio. Sobre o excesso de artificialidade imposta pelo diretor que muitos andam criticando não são problemas para mim, em minha ótica, eles nos ajudam a entender o estado espiritual do protagonista e cria um clima cult interessante.

Para ver o site oficial do filme, clique aqui.
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A Single Man (Direito de Amar), Estados Unidos - 2009. Dirigido por Tom Ford. Com: Colin Firth, Julianne Moore, Nicholas Hoult, Matthew Goode. 101 minutos. Gênero: Drama.
Nota: 8.5

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Alice in Wonderland (1951)

Nota:

Essa postagem foi originalmente publicada por mim com o título de “Mas eu não quero ver gente maluca”, em 2009, quando eu ainda escrevia no “mão no teto e chão no pé”. Nessa versão, agora presente no chá de poejo, mudei o título e cortei algumas passagens.
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Você já imaginou um lugar onde flores pensam que você é uma erva daninha, lagarta faz o estilo fumante-intelectual, um coelho apressado corre porque está atrasado, um gato fica sobre sua própria cabeça, chaleiras cantam, urubus são guarda-chuvas, corujas têm pescoço de sanfona e maçanetas falam? Pode acreditar, esse lugar existe! Pelo menos, em “Alice no País das Maravilhas (1951)”.Esse é um filme clássico que muitos devem ter assistido quando eram crianças. Sem dúvida, ter contato com essa obra da Disney é submergir e brincar com a imaginação.

Alice é uma garota chateada com seu cotidiano sem grandes emoções. Para ela, sua vida é um livro sem figuras. Acredito que os psicanalistas adorariam ter uma paciente aos moldes de Alice. O filme antes de tudo é uma estética associada à psique da protagonista (que não é tão protagonista). Ou seja, o que vemos é um determinado imaginário extraído de um sonho, sem necessariamente, importar coisas como, coerência, significados racionais e adequação.

Mas nem pense que nesse mundo surreal – literalmente – há apenas devaneios. O real também está no nonsense. O encontro de Alice com a lagarta é um deles. Incessantemente, a lagarta pergunta à Alice: Quem é você? Ora, em minha perspectiva, isso pode ser interpretado, na passagem, tanto como um artifício para desqualificar a fala da menina, ou seja, um instrumento de poder, como uma indagação reflexiva sobre a existência dela. Aqui, o autoritarismo perde espaço para uma ação fenomenológica. A lagarta, na verdade, pergunta à Alice, como é que ela se percebe no mundo. E é a própria inquiridora que dá a resposta ao se transformar em borboleta.

Em um caminho tortuoso, regado a explicações incompletas e conclusões precipitadas, temos um segundo momento que merece destaque. O primeiro encontro de Alice com o gato de Cheshire inicia-se com uma pergunta simples: Qual caminho devo tomar? O gato caminha em uma linha tênue entre loucura e lucidez, é ele que alerta a garota da insanidade dos outros, e dá pistas de como sobreviver neste ambiente. Veja se isso não é a vida real. 1) Estar com os outros, e discordar minimamente deles; 2) Tentar não irritar as pessoas; 3) Elogiá-los; e 4) Se adequar ao local, ou seja, nunca tente inovar muito em circunstâncias estranhas. Seguindo essas quatro regras, você sempre será bem quisto, no entanto, não será você mesmo.

Mas ainda não é esse o ponto. O mais interessante nesse encontro, é como o gato transmite a ideia de escolha associada a de responsabilidade individual. Se não se sabe qual caminho tomar, é porque não se sabe para onde ir, uma ótima definição para o que chamamos de “indecisão”. A seguir, uma pequena transcrição da conversa que se refere a esse debate que estamos tendo.

Alice: Eu só queria saber que caminho tomar.
Gato: Isso depende do lugar aonde quer ir.
Alice: Realmente não importa.
Gato: Então não importa que caminho tomar.

Enfim, para além de um filme infantil, “Alice no País das Maravilhas (1951)” traz bons pensamentos nada infantis. Diferentemente, de outros filmes com a marca Disney, este além do seu pouco ou nenhum comprometimento com a realidade, mostra que para um filme ser bom, não é preciso: 1) Que ele gire em torno de um grande propósito ou dilema, e/ou 2) Que haja uma lição de moral a ser apreendida ao longo dele. Quem não o viu depois de adulto, que o veja!
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Alice in Wonderland (Alice no País das Maravilhas), Estados Unidos - 1951. Dirigido por Wilfred Jackson, Hamilton Luske e Clyde Geronimi. Com: Verna Felton, Kathryn Beaumont, Richard Haydn. 75 minutos. Gênero: Animação, Fantasia, Musical.
Nota: 10.0

quinta-feira, 6 de maio de 2010

PENTACAMPEÃO!

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Alice in Wonderland (2010)

É sempre difícil analisar um filme quando temos por referência outro que possui o mesmo enredo. É impossível não fazer comparações, e por isso, esse texto está cheio delas. Aqui é preciso dizer que o filme do diretor Tim Burton traz novas dimensões e a história é contada de forma mais “redonda” do que aquele produzido pela Disney em 1951. O que quero dizer com isso? Ao mesmo tempo em que entendemos um pouco da vida de Alice (por ex., a sua pseudo-festa de noivado com um engomadinho que é um baita de um chato), e de como algumas pessoas da sua vida “real” se parecem com personagens do seu “sonho”, perdemos os insights nonsenses presentes no da Disney.

Dessa vez, temos atores que chamam atenção, se não pela performance, pelo menos pela beleza como Anne Hathaway, Mia Wasikowska, Helena Carter e Johnny Depp, em contrapartida, temos um ambiente hostil e árido, com pouca vida e poucas cores. É um filme para adultos? Bom, nessa nova aventura de Alice, ela tem um objetivo do qual não compartilhava em 1951. A saber, ela deve livrar o “mundo subterrâneo” – porque agora é advogado que tal mundo existe de fato, e ele só é “país das maravilhas” para a própria Alice – da tirania da rainha de copas. Ou seja, a garota – não, ela não é mais uma garota, mas sim, uma jovem adolescente – é uma espécie de “escolhida”, uma heroína (observação para seu traje de guerreira medieval nas cenas finais).

Talvez para justificar a ida de um público maior aos cinemas, os produtores optaram por dar um toque de aventura na trama. Sinceramente, não acho que caiu bem. Além disso, quem não sabia que na batalha Alice não seria a vencedora? Regra do cinema mainstream: Os protagonistas sempre vencem e nunca morrem. E o “quase clima de romance” entre Alice e o Chapeleiro Maluco? Beira ao piegas. Fora o renascer da jovem após sair do mundo subterrâneo, dizendo as verdades do mundo a todos, e transformando-se numa “mulher de visão e de negócios”.

É verdade que algumas mensagens ainda são transmitidas na película. Como o fato de enfatizar a perda paulatina de imaginação à medida que crescemos. No entanto, momentos essenciais são perdidos no ar, tal como o encontro de Alice com o gato ou com a lagarta. Aliás, eles existem, mas os temas são superficialmente abordados – será que em prol do grande público? Nada contra releituras, contanto que elas sejam boas, e não sei se esse é o caso de Alice no País das Maravilhas (2010). Por isso, continuo preferindo aquele mundo “onde flores pensavam que você é uma erva daninha, lagarta fazia o estilo fumante-intelectual, um coelho apressado corria porque estava sempre atrasado, um gato ficava sob sua própria cabeça, chaleiras cantavam, urubus eram guarda-chuvas, corujas tinham pescoço de sanfona e maçanetas falavam.

Certa vez quando escrevia no “mão no teto e chão no pé”, escrevi sobre o Alice no País das Maravilhas (1951), posteriormente pretendo postar esse texto aqui no chá de poejo. Para ver o site oficial do filme, clique aqui.
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Alice in Wonderland (Alice no País das Maravilhas), Estados Unidos - 2010. Dirigido por Tim Burton. Com: Anne Hathaway, Mia Wasikowska, Helena Carter, Johnny Depp. 108 minutos. Gênero: Aventura, Fantasia.
Nota: 7.0

O chá de poejo é um novo membro da SBBC

É com grande satisfação que anuncio o fato do chá de poejo, a partir de agora, fazer parte da SBBC (Sociedade Brasileira de Blogueiros Cinéfilos). Agradeço a todos que votaram em meu blog pela confiança, e juro, que apesar do tempo escasso, estar sempre emitindo minha opinião neste espaço, participar das atividades da SBBC, e estar por dentro do que meus colegas tem escrito ultimamente. Afinal de contas, neste blog, o Cinema está em primeiro lugar.

sábado, 17 de abril de 2010

Shutter Island (2010)

Curar alguém considerado socialmente louco é possível? Realmente, não faço a mínima ideia. No entanto, transformar alguém em louco, é totalmente razoável. E se a intenção do Martin Scorsese era essa, ele conseguiu, pelo menos comigo. Há muito tempo não ficava confuso ao ver um filme. Explico-me melhor. Às vezes a confusão acontece porque não se compreende a trama, como quando vi The Doom Generation do Gregg Araki, outras vezes, a confusão significa imersão total na obra, ou seja, a “mão invisível” do diretor atua sobre o espectador, e ele fica atordoado, com dúvidas. Essa última descrição cabe perfeitamente em Shutter Island, o novo longa do Scorsese.

Quem está em teste, quem está sendo procurado, quem é que precisa decifrar o “enigma da esfinge”, nós ou o Teddy Daniels (Leonardo DiCaprio)? Scorsese retrata a psique humana como há muito tempo eu não via, para ser mais preciso, desde Persona do Ingmar Bergman. Acredito que a fonte inicial do diretor, recém premiado com o Prêmio Cecil B. DeMille da HFPA, foi um filme dos anos de 1960 – The Manchurian Candidate – se puderem, dêem uma espiada nele. Além disso, que trabalho de cinematografia, posso citar a cena inicial com o barco saindo do nevoeiro, e aquela ilha rochosa ao fundo, beira ao poético, fora o acompanhamento sonoro. No mais, várias são as leituras sobre a película (Shutter Island), visto que vemos, ao menos, dois filmes diferentes, com dois protagonistas distintos. Inicialmente, pensamos em manipulação, em seguida, que os loucos são ótimos atores. E nesse contexto não há espaço para juízos de valores ou regras morais, além de que, o que é moral para os viventes naquele manicômio?

Não sei se o DiCaprio poderá evoluir mais do que isso, mas que ele já não é mais o mesmo de Diamante de Sangue, isso ele não é. Você o viu atuando neste filme? Nessa época sim, ele era um desastre! Isso confirma a minha hipótese de que um bom diretor exerce uma influência inimaginável sobre o ator. Em nenhum outro momento da sua carreira, eu o vi adentrando tão profundamente em um labirinto tal qual o do minotauro. Ele percorre um caminho que por mais cartesiano que queira ser, não consigo descrever linearmente. Quer dizer, até consigo, mas as nuances narrativas só o ator consegue nos transmitir, e acredito que ele consegue fazer isso. Se ele era o mais indicado para o papel, ai já é outra discussão.

Sobre o final que alguns julgam previsível, eu digo: previsível é uma ova! Aquele desfecho é o que explica o que de fato aconteceu durante todo o tempo sem que percebêssemos. De fato, eu estava tanto quanto o Teddy no mundo dos sonhos. Os parâmetros iniciais que para nós pareciam ser verdadeiros, viram poeira tal como na cena em que DiCaprio abraça a esposa e ela vira cinzas. Chega um momento que perdemos as referências do que é lucidez ou delírio no protagonista. Estamos presos com Teddy em um horror psicológico onde o real é apenas um detalhe, e o imaginado ou a loucura - como preferirem - é o predominante. Não sei se fui ingênuo, só sei que em mim os mistérios da ilha surtiram efeito.

Para ver o site oficial do filme, clique aqui.
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Shutter Island (Ilha do Medo), Estados Unidos - 2010. Dirigido por Martin Scorsese. Com: Leonardo DiCaprio, Mark Ruffalo, Ben Kingsley, Max von Sydow, Michelle Williams, Patricia Clarkson. 138 minutos. Gênero: Drama, Suspense.
Nota: 9.4

quarta-feira, 14 de abril de 2010

O Flamengo é...

É mesmo Globo, que novidade, hein?!

O Flamengo é pentacampeão brasileiro. (ponto final) 1987 é do Sport Club do Recife. (ponto final) Agora, a imprensa e o próprio clube carioca podem continuar repetindo a mesma mentira de sempre. No entanto, também podem se contentar, afinal de contas, o título é rubro-negro, só que tem como mascote um leão.

Para informações oficiais, clique aqui. O link leva diretamente ao site da CBF, onde é possível realizar o download da decisão final da entidade.

domingo, 11 de abril de 2010

Coisas de Norma Desmond


Frases inesquecíveis do filme "Sunset Boulevard - 1950" quase todas ditas pela sua protagonista Norman Desmond (Gloria Swanson).

1. "Madame is the greatest star of them all." (Max Von Mayerling)

2. "I am big. It's the pictures that got small."

3. "No-one ever leaves a star. That's what makes one a star."

4. "We didn't need dialogue. We had faces! There just aren't any faces like that anymore. Maybe one. Garbo."

5. "Great stars have great pride."

6. "Why do they beg me for my photographs? Why? Because they want to see me, ME, NORMA DESMOND!"

7. "And who've we got now? Some nobodies!"

8. "Stars are ageless, aren't they?"

9. "You see, this is my life! It always will be! Nothing else! Just us, the cameras, and those wonderful people out there in the dark!... All right, Mr. DeMille, I'm ready for my close-up."

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Boas cenas, belas músicas


Não há nada para dizer que a própria cena já não diga. Essa é a representação máxima do poder que o Cinema tem sobre os espectadores. Por que mesmo sabendo se tratar de uma ficção nos emocionamos? Estamos sendo "manipulados", a priori, temos consciência disso, mas é comum nos deixar levar pelas "mãos invisíveis" do diretor. Essa é a magia que só a sétima arte consegue produzir!

Cena do filme "Cidade dos Sonhos" de 2001, dirigido por David Lynch.
Música "Crying", escrita por Roy Orbison e Joe Melson e interpretada por Rebekah Del Rio.

domingo, 4 de abril de 2010

O Mistério do Samba (2008)

Acredito que uma das inquietações de quem ouve sambas antigos é entender como aquelas canções foram criadas. Pois saiba, que verdadeiros clássicos da Música Popular Brasileira, são originários das rodas de bambas, lá dos subúrbios, principalmente, cariocas. Da mesma forma que Cartola canta em "Sala de Recepção", eu digo e pergunto, "Habitada por gente simples e tão pobre. Que só tem o sol que a todos cobre. Como podes, Mangueira, cantar?" Pois bem, você retira Mangueira, e poe Portela que o resultado será o mesmo.

Para tentar compreender a realidade e o poder criativo do samba, a cantora Marisa Monte, entra no cotidiano da comunidade e agremiação carnavalesca Portela, umas das mais tradicionais do carnaval carioca, situada na zona norte, no bairro de Oswaldo Cruz. A gravação do documentário durou dez anos, e começou quando Marisa Monte resolveu resgatar sambas esquecidos para seu disco "Tudo Azul". Nos 88 minutos do documentário, alguns elementos constitutivos do samba nos são revelados pelos compositores da escola. Dentre eles, pode-se citar a melancolia, os amores, a tristeza e a realidade da comunidade.

É bonito ver os velhos rostos do samba, já que atualmente, só vemos artistas, que só aparecem uma vez no ano nas quadras das escolas de samba. É como diz um samba-enredo do Império Serrano: "Super Escolas de Samba S/A. Super-alegorias. Escondendo gente bamba. Que covardia!" Ao contrário disso, os roteiristas tem a nítida intenção de mostrar as raízes do samba, e é por isso que vemos Monarco, Tia Surica, Tia Eunice, Dona Áurea, e alguns mais conhecidos, como Paulinho da Viola e Zeca Pagodinho. Como diria Chico Buarque, em "Chão de Esmeraldas", "É a realeza dos bambas que quer se mostrar." Nada mais, nada menos que a Velha Guarda da Portela. O Mistério do Samba é um documentário recomendadíssimo para todos que gostam do bom samba de raíz, e para aqueles que também não tem tanta aproximação com o gênero musical, pois as composições que ouvimos são realmente de extrema beleza.
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O Mistério do Samba, Brasil - 2008. Dirigido por Carolina Jabor e Lula Buarque de Hollanda. Com: Marisa Monte, Paulinho da Viola, Zeca Pagodinho, Velha Guarda da Portela. 88 minutos. Gênero: Documentário - Musical.
Nota: 10.0

quinta-feira, 25 de março de 2010

Sei lá Mangueira

"Sei lá Mangueira" é o nome da canção que Paulinho da Viola junto com Hermínio Bello de Carvalho fizeram homenageando a Estação Primeira de Mangueira. Ela também foi responsável por deixar os componentes da Portela enciumados e mote para tempos depois, o mesmo Paulinho da Viola compor "Foi um rio que passou em minha vida", música que conta como ele se apaixonou e se tornou portelense. Essa música lançada no carnaval de 1970, antes da entrada da Portela na passarela do samba, foi um dos momentos mais emocionantes para ele. Por conta do precário sistema de som daquele tempo, em determinado momento, o som desapareceu, mas a música já tinha caido no gosto do povo. Então, como em ondas, cada vez mais, todos a cantavam na avenida, e isso se tornou um fato inesquecível para um dos grandes poetas da Portela. Abaixo, veja os vídeos das duas canções citadas nesse texto.


Se eu for falar da Portela...

Como diria o Monarco da Portela na música "Passado de Glória": "Se for falar da Portela, hoje não vou terminar". Por isso, vou me restringir a colocar um vídeo da belíssima canção "Quantas Lágrimas" de um dos maiores compositores portelenses, Manacéia. Abaixo, além de ver a Velha Guarda da Portela, também vemos o Paulinho da Viola, e o próprio Manacéia.

terça-feira, 16 de março de 2010

The Ten Commandments (1956)

Um filme clássico é reconhecido por vários motivos, dentre eles, sua grandiosidade, seu enredo, seus atores, sua direção, os momentos inesquecíveis. Certa vez, li um texto do Italo Calvino (1993), Por que ler os clássicos, e uma das razões que o autor dá é: "Os clássicos são aqueles livros dos quais, em geral, se ouve dizer: "Estou relendo... " e nunca "Estou lendo... "" (p. 9). Substitua livros por filmes, e o resultado será o mesmo. Lembro de ter visto Os dez mandamentos ainda criança, e sendo sincero, nem sabia quem era o Cecil B. DeMille, e muito menos, qual era a sua importância para o cinema. No entanto, a sensação de embasbacamento diante da dimensão daquelas tomadas, e daqueles efeitos e paisagens foi tão arrebatador ao ponto de ficar impressa na minha memória. Instigado pelas reflexões do Martin Scorsese, em documentário que comentei no post abaixo, decidi rever tal película, e me vi novamente inspirado pela leitura que tinha feito no início da minha graduação: "Toda releitura de um clássico é uma leitura de descoberta como a primeira" (Calvino, 1993, p. 11).

Desta vez, um pouco mais amadurecido, percebi uma série de contrastes, e o esmero das mãos geniais de um diretor de visão. Coisas como a maestria que é produzida a cena inicial, para não citar tantas outras, onde os judeus puxam aquela enorme esfinge, e nós somos conduzidos a ver e interpretar a cena da forma como o diretor quer. Ou ainda, observar a manifestação da diferença de poder, apenas por uma comparação visual de tomadas. Ou seja, de um lado, a fábrica de gerra do faraó, por outro, uma simples caravana de israelitas. Além disso, é notável o seu trabalho e sua atenção aos pormenores. As tomadas podem ser em grandes planos, mas as particularidades e individualidades conseguem se sobressair em cenas com grandes multidões. Da mesma forma que as composições dos cenários, e as posições dos personagens são estritatemente planejadas e com uma razão de ser. Um clássico se faz com esmero, estudo, pesquisa, dedicação, cobrança e perfeccionismo.

Quem dá vida aos personagens, são artistas de ponta. Citando apenas dois, Charlton Heston (Moisés), o mesmo de Ben-Hur (1959) e Anne Baxter (Nefertiti), a mesma de All About Eve (1950). O meu destaque é para a última, que em matéria de sensualidade e cinismo está bem em todas as cenas que faz desse gênero. Já o ponto positivo do Heston é que ele consegue envelhecer com o personagem, claro, ajudado pela pesada maquiagem. Além disso, participa de algumas das cenas mais memoráveis do Cinema, como a da abertura do Mar Vermelho, ou aquela em que conduz os dez mandamentos. Um clássico também se faz com atuações, personagens e momentos marcantes.

DeMille sabia que um verdadeiro espetáculo por si só, nunca faria um grande filme. Por isso, gastava muito tempo trabalhando na dramaturgia e na composição das cenas, do que na planificação de efeitos fotográficos. Seus filmes, produzidos em CinemaScope, que na época eram tidos como feitos para as massas alienadas que não estavam antenadas com a produção européia, escondia muitas facetas para ser considerado grande. Visto que para ele, Os dez mandamentos seria o maior filme produzido até então, com a maior quantidade de recursos (humano, monetário, tempo, tecnológico...) gastos. E sua promessa tornou-se realidade. Com cinco anos de produção, figurinos extravagantes, cenários perfeitos, atuações marcantes, direção milimetricamente pensada, entra para o hall dos grandes épicos do Cinema mundial.

Pode-se comparar DeMille com o James Cameron, em alguns aspectos. O primeiro, muitas vezes visto como megalomaniaco (como o segundo), por conta do tamanho das suas produções, e carrasco (como o segundo) pelo minunciosismo, esmero e seriedade que impunha a aqueles que com ele trabalhava. No entanto, sabia que nada disso era suficiente se não tivesse em seu alicerce um bom roteiro, defendido por bons atores. Ou seja, ele era adepto das inovações tecnológicas, não da técnica pela técnica. Podemos dizer o mesmo do segundo? Acredito que não. Avatar, por exemplo, também teve um tempo impar de incubação, cerca de dez anos, utilização de tecnologia de ponta, tinha tudo para se tornar um grande Filme (repare o f maiúsculo). Qual argumento é defendida pelo enredo? Quais os momentos dramáticos vividos por seus personagens? Qual a intensidade dessas atuações? Para mim, Cameron faltou as aulas onde se discutiu Cecil B. DeMille, ou o
D.W. Griffith. Não tenho dúvida que Cameron nunca será esquecido, tal como seu filme, o resultado que eles alcançaram foram indiscutivelmente satisfatórios diante da indústria cinematográfica, mas o seu caráter inovador é técnico, onde está a evolução na linguagem ou na forma de conduzir o capital humano?

É por isso que termino com as palavras do Calvino (1993, p. 15), "É clássico aquilo que persiste como rumor mesmo onde predomina a atualidade mais incompatível." Não à toa DeMille até hoje é cultuado, e seus filmes revistos, quase sessenta anos depois de produzidos. Seus códigos continuam a influenciar, seu estilo continua a ser reinventado, e sua linguagem permanece iluminando jovens diretores e apreciadores da sétima arte. É realmente um sonho passar quase quatro horas admirando cada instante de Os dez mandamentos, a cada cena percebemos os momentos de pura invenção e dedicação de seu diretor.

Referência Bibliográfica:
CALVINO, I. (1993). Por que ler os clássicos. (trad) Nilson Moulin, Companhia das Letras, SP.
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The Ten Commandments (Os Dez Mandamentos), Estados Unidos - 1956. Dirigido por Cecil B. DeMille. Com: Charlton Heston, Yul Brynner, Anne Baxter, Yvonne De Carlo, Vincent Price. 220 minutos. Gênero: Épico, Drama.

Nota: 10.0

sexta-feira, 12 de março de 2010

A Personal Journey with Martin Scorsese Through American Movies (1995)

Uma Viagem Pessoal com Martin Scorsese pelo Cinema Americano, poderia muito bem para mim, ser: Uma Aula sobre o Cinema Americano com Martin Scorsese. Em quase 4 (quatro) horas de duração, ele fala sobre os gêneros que de algum modo o influenciaram enquanto diretor. Seja o faroeste, os musicais, os filmes de gangster ou os noir. No documentário, ele também avalia a técnica e a mudança das ideias no cinema e do fazer cinema. Ou seja, a mudança do filme de 35 mm para o de 70 mm, a transição do cinema mudo para o falado, ou ainda, do preto e branco para o advento do technicolor. Além de discutir os grandes idealizadores clássicos, D.W. Griffith e Cecil B. DeMille.

Divide ainda os diretores em dois grupos, o dos "contrabandistas" e o dos "iconoclastas". No primeiro, cita King Vidor e Howard Hawks, onde ambos trabalhando dentro do esquema imposto pelos grandes estúdios, realizaram projetos altamente pessoais e de estilos incomparáveis. Já no segundo, cita Erick von Stroheim, que foi engolido pela indústria, e outros que tiveram mais sucesso, como Kubrick e Cassavetes. Estes últimos, romperam com o sistema de produção da época, e foram reconhecidos por isso.

Enfim, o documentário está dividido em três capítulos,
subdividos em várias outras partes. É algo indispensável para aqueles que querem entender o Cinema, e em especial, o americano clássico que influenciou os trabalhos de Scorsese. São verdadeiras aulas de cinematografia e dão luz a várias produções desse diretor. Então, incrementando, é fundamental para quem quer conhecer o cinema americano clássico, e é essencial para entender os filmes realizados por esse diretor norte-americano. É claro que essa breve resenha não contem todas as nuances tratadas no documentário, apenas introduzi algumas questões de maior relevo. Por isso, vale a pena dar uma olhada em todo o trabalho.
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A Personal Journey with Martin Scorsese Through American Movies (Uma Viagem Pessoal com Martin Scorsese pelo Cinema Americano), Estados Unidos e Reino Unido - 1995. Dirigido por Martin Scorsese e Michael Henry Wilson. Com: Francis Ford Coppola, Brian De Palma, Frank Capra, Clint Eastwood, George Lucas, Arthur Penn, Billy Wilder. 225 minutos. Gênero: Documentário.
Nota: 10.0

quarta-feira, 10 de março de 2010

A Lady Rouge Marion Cotillard

Veja abaixo o segundo vídeo da campanha das bolsas "Lady Dior" da marca Dior (é óbvio). A atuação é da Marion Cotillard, nele ela canta a música "The Eyes of Mars", especialmente composta pelo pessoal do Franz Ferdinand. No vídeo, a atriz atua como "Lady Rouge", e a francesa está com um look vermelho de impressionar qualquer marmanjo.


A seguir, é possível ver o primeiro vídeo, onde ela interpretou a "Lady Noir". Nesse, a inspiração surgiu de Hitchcock. Ela me fez lembrar as atrizes clássicas do cinema americano. Não à toa é tida como uma das grandes atrizes da atualidade.


Deverá haver ainda um terceiro vídeo, onde ela viverá a "Lady Blue".

segunda-feira, 8 de março de 2010

Comentando outros aspectos da noite no teatro Kodak

Foto 1 - O palco estava azul, mas a noite foi mesmo de Guerra ao Terror

Esse post tem a função de repercutir, não mais os vencedores da noite, mas alguns momentos que chamaram a atenção.

Nessa edição do Oscar, achei o seu formato legal. Houve o tão sonhado dinamismo com dois anfitriões que em alguns momentos não eram tão engraçados, mas sempre bem afiados. Acho que nunca vou esquecer o que disse o Steven Martin sobre Avatar no final da premiação, pegando na mão da Bigelow que estava com dois Oscars.

Foto 2 - Michelle Pfeiffer no Oscar 2010

Mas nem tudo foram flores. Não gostei daquela apresentação de dança de rua para mostrar os indicados a Melhor Trilha Sonora. No entanto, achei de bastante bom gosto o momento em que os indicados a atores e atrizes principais foram apresentados. Sobre isso, é preciso enfatizar a beleza ofuscante da Michelle Pfeiffer naquele vestido vermelho; o discurso da Oprah Winfrey elogiando a Sidibe, dizendo que há pouco tempo atrás, ela era uma jovem que trabalhava para pagar seus estudos, e que pouco tempo depois, na noite do Oscar, concorria numa das principais categorias ao lado da Meryl Streep; uma coisa que disse o Peter Sarsgaard com relação à Carey Mulligan, que o bom dela ser jovem, é que nós espectadores, teriamos uma longa carreira de sucesso para acompanhar... e eu concordo com ele; por fim, teve o Stanley Tucci para falar da Streep, a qual chamou de melhor atriz dos nossos tempos. E como falar isso já não é mais novidade, ele brincou dizendo que iria começar uma campanha para estabelecerem um teto de indicações. O máximo passaria a ser 16 (dezesseis), ou seja, o número de indicações que a atriz possui. Porque, ela é muito egoísta, em quase todos os Oscars ela está, e é uma papa prêmios.

Após esse momento de descontração, e emoção, veio o Seann Penn que apresentaria a vencedora do Oscar de Melhor Atriz. Só que antes do anuncio, ele fez uma crítica, dizendo que várias atrizes merecedoras de estar entre as cinco indicadas a melhor atriz, há um longo tempo não eram incluidas na seleção final. Além disso, disse que por essas e outras é que nunca se tornou membro oficial da Academia, provavelmente, ele passará um bom tempo de molho.

Foto 3 - Kathryn Bigelow recebendo seu segundo Oscar da noite das mãos do Tom Hanks

Também foi engraçado ver a desorientação da Bigelow que após receber o Oscar de Melhor Direção, ainda saindo do palco, foi surpreendida com o anuncio de que Guerra ao Terror também vencera em Melhor Filme.

Foto 4 - Homenagem da Academia ao John Hughes

Houve também uma justa homenagem ao John Hughes, que contou com a presença do Matthew Broderick e do Macaulay Culkin (o cara está muito bizarro).

Foto 5 - A Meryl Streep estava belíssima, mas não foi dessa vez que ela recebeu seu terceiro Oscar

Outra decepção da noite, mas esta pré anunciada, foi a vitória da Bullock em cima da Streep. Sobre a primeira, fez até um discurso bacana, sobre a última, continua a luta dela para conseguir o tão almejado terceiro Oscar. Vale dizer que ela estava linda com aquele vestido branco.

Só mais uma coisa, eu preferia, e ainda prefiro, o and the Oscar goes to...

Agora a vida volta ao normal depois de todas essas premiações que culminam com a entrega dos Oscars. Poucas foram as surpresas, como sempre, houve ganhadores merecidos, outros nem tanto. No entanto, acredito que o saldo foi positivo, e agora, já fico contando os dias para a próxima temporada de prêmios no cinema.

Comentando alguns dos vencedores do Academy Awards 2010

Foto 1 - Kathryn Bigelow com seus dois Oscars, um como melhor diretora, e outro pelo melhor filme do ano

Primeiro, vou falar da minha única surpresa, ela aconteceu na premiação de Preciosa: Uma História de Esperança na categoria de Melhor Roteiro Adaptado. Aqui, eu previa a vitória de Amor sem Escalas de olhos fechados, não só prevendo o que possivelmente ocorreria, mas por convicção pessoal.

Nas outras categorias principais, não tivemos nenhuma surpresa, pelo menos, não aconteceu nenhuma zebra.

Como Melhor Ator, Ator Coadjuvante e Atriz Coadjuvante, venceram os esperados que também eram as minhas apostas, e aqueles que achava justo que vencessem. Como Melhor Atriz, levou a Sandra Bullock, o que não foi surpresa para mim, já que ela foi a minha aposta, no entanto, não foi a minha escolha, qualquer outra teria mais consistência artistica para ganhar. Meu voto "ideológico", digamos assim, era para a Meryl Streep.

Na categoria de Melhor Roteiro Original, utopicamente, esperava que os acadêmicos reconhecessem, já que não como melhor filme, ou diretor, Bastardos Inglórios como possuindo o melhor enredo do ano, mas... O vitorioso foi Guerra ao Terror que, de fato, teria sido uma escolha mais sensata nas minhas previsões. Confesso que aqui houve uma precipitação na minha escolha.

Mas o melhor da noite ainda estava para acontecer. Como disse o Steven Martin no final da premiação, que o show tinha sido tão longo que Avatar parecia ocupar um lugar no passado. Ele chegou a essa conclusão, após as sucessivas vitórias de Guerra ao Terror, durante a noite, mas principalmente, nas categorias de Melhor Direção, e logo após, Melhor Filme. O filme do Cameron que aparentava ser o bicho papão da 82ª edição do Oscar, não passou de motivo para gozação, todos sempre tinham uma piada que envolvia os Na'vis outrora tão assustadores. A verdade é que depois do anuncio da Barbra Streisand, dizendo que finalmente tinha chegado o momento, já sabiamos da vitória da Kathryn Bigelow, e posteriormente, do seu filme, Guerra ao Terror (esse fato vale um outro post depois, sobre o que a Academia pode ter sinalizado com essa escolha).

Analisando os vencedores, e principalmente, o triunfo de Guerra ao Terror, o Oscar desse ano, foi bastante satisfatório para mim. Agora, alguém pode me dizer por que Avatar levou Melhor Fotografia?

O resultado dos melhores do ano no chá de poejo

O chá de poejo divulga os melhores de 2009 na opinião dos visitantes do blog. Na votação desse ano, os votantes tiveram a oportunidade de selecionar, em um primeiro momento, os cinco melhores da temporada, para que em seguida, escolhessem os melhores do ano em sete categorias. Lembrando que nem sempre os indicados coincidem com os indicados ao Oscar, já que aqui, quem manda é você. Inclusive, os resultados, em algumas categorias, não coincidem com o da cerimônia que aconteceu ontem no Teatro Kodak. Veja abaixo os resultados dos melhores do chá de poejo, e ao lado da estatueta do Oscar, o vencedor da categoria, segundo o Academy Awards:



Guerra ao Terror


Bastardos Inglórios




Sandra Bullock



Meryl Streep






Mo'Nique


Mo'Nique




Jeff Bridges


Jeff Bridges







Christoph Waltz


Christoph Waltz





Guerra ao Terror



Bastardos Inglórios





Kathryn Bigelow



James Cameron