sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Restauração digital de From Here to Eternity (1953)

Você já deve ter visto essa cena clássica em algum lugar por ai. O filme é From Here to Eternity (1953) - A um passo da eternidade - e é ambientado em um campo militar norte-americano no Havaí em momentos antes do ataque a Pearl Harbor. O longa mostra o cotidiano do recruta Prewitt (Montgomery Clift) que é obrigado a lutar boxe pela sua companhia do exército, mesmo contra a sua vontade. Só que Prewitt não luta mais, e acaba sofrendo sanção dos outros soldados por conta disso. Quem tenta ajudá-lo é o sargento Warden (Burt Lancaster), só que este também já tem problemas suficientes ao se envolver com a mulher de seu superior, a linda Karen Holmes (Deborah Kerr), inclusive, são os dois que estão na foto do início do texto, e a cena pode ser vista logo abaixo. Mas, todo esse clima de animosidade e romance é alterado logo após o ataque a Pearl Harbor pelos japoneses.


Falando sobre a nova edição, o filme vem com uma recriação do ataque a Pearl Harbor combinado a uma sequência de documentário. Esta versão digital da Sony Pictures foi feita apenas a partir dos elementos originais ainda existentes apresentando um som original restaurado digitalmente. A película foi vencedora de oito Prêmios da Academia, incluindo, melhor filme e melhor direção (Fred Zinnemann). Além disso, o longa apresenta nada menos do que cinco nomeações para melhor performance, vencendo nas categorias de melhor atriz e ator coadjuvante (Frank Sinatra).

Para quem estiver em Beverly Hills, a exibição do longa será no dia 18 de novembro, às 19:30 hs, no Samuel Goldwyn Theater.

Para mais informações e para acessar a fonte, clique aqui.

Kramer versus Kramer (1979)

Kramer vs. Kramer (1979) é um filme essencial para todos aqueles que já passaram por momentos de separação dos pais. O filme retrata as mudanças sociais ocorridas nas últimas décadas, especificamente, a entrada das mulheres no mercado de trabalho, e os seus anseios de paridade com os homens. Contudo, ainda hoje, haverá quem pense que Joanna Kramer (Meryl Streep) é uma desnaturada por fazer o que fez, mas, em minha opinião, ela fez o que é comum muitos homens fazerem, e que por sua vez, é visto como normal. No entanto, isso ainda não é justificativa para seu ato.
Foto 1 - Joanna Kramer (Meryl Streep) e Billy em um momento de alegria no parque. Vale salientar que o longa possui belos momentos e uma belíssima fotografia.

Joanna tem sérias razões para dar cabo aos seus pensamentos. Em um relacionamento de 8 (oito) anos, vive em um ambiente onde o diálogo não é nem fundamental, nem levado a sério, e onde toda a família vive em pró de um único membro, Ted Kramer (Dustin Hoffman). Hoje em dia, o filme pode até parecer banal, visto que a sua problemática é mais aceita socialmente. Porém, nos final dos anos 70, o assunto ainda era visto como tabu, e daí talvez, advenha sua enorme repercussão no meio cinematográfico. A busca de Joanna Kramer girava em torno do seu desejo pela independência financeira e contra sua falta de vida social. Uma passagem, que pode ser lida logo a seguir, evidencia seu descontentamento com a vida que levava, e que era, e ainda é, similar a realidade de muitas mulheres.

Toda a minha vida me senti mulher de alguém ou mãe de alguém ou filha de alguém. Durante todo o tempo em que estivemos juntos, nunca soube quem eu era.

Joanna Kramer
Mas muitos não aceitam o fato dele ter tido uma grande repercussão (no Oscar de 1980, ele concorreu diretamente com o filme Apocalypse Now do Francis Ford Coppola). Kramer vs. Kramer foi premiando com 5 (cinco) oscars (Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Ator (Dustin Hoffman), Melhor Atriz Coadjuvante (Meryl Streep) e Melhor Roteiro Adaptado) e 4 (quatro) globos de ouro (Melhor Filme - Drama, Melhor Diretor, Melhor Ator - Drama (Dustin Hoffman) e Melhor Atriz Coadjuvante (Meryl Streep).

Foto 2 - Billy e Ted Kramer (Dustin Hoffman) fazendo rabanadas para o café da manhã. No longa, Ted luta desesperadamente atrás do tempo perdido, tentando se tornar um pai mais presente na vida do filho. Quem já viu o filme sabe do significado dessa cena.

Deixando todas as controvérsias (que na minha opinião não existem), não tenha dúvida que você verá um ótimo filme e um show de interpretação, principalmente nas cenas finais, do Dustin Hoffman, da sensacional Meryl Streep e um show a parte do pequeno Billy Kramer (Justin Henry). Segurem as lágrimas na cena do tribunal, onde tanto Hoffman, quanto Streep estão incríveis. Se me perguntassem o que é o filme em um frase, eu diria que ele mostra que nem tudo na vida é explicado, ou pode ser dito, de maneira dicotômica. Às vezes, um não, ou um sim, não são suficientes para expressar pensamentos ou responder perguntas.

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Kramer vs. Kramer, Estados Unidos - 1979. Dirigido por: Robert Benton. Com: Dustin Hoffman, Meryl Streep, Jane Alexander. 105 minutos. Gênero: Drama.
Nota: 9.0

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Boas cenas, belas músicas

Foto 1 - Cena do ataque com os helicópteros onde a trilha sonora é A Cavalgada das Valquírias

Chegou a vez de homenagear, nesta série do blog, um grande clássico do cinema. Aqui, a união do elemento musical e da composição visual fazem dessa cena uma das mais belas e inesquecíveis em se tratando de filmes de guerra. O filme em questão é Apocalypse Now (1979) do produtor de cinema Francis Ford Coppola. A película ambienta-se na Guerra do Vietnã e trata basicamente das vicissitudes do conflito. Ou seja, o que dizer ou fazer quando assassinos acusam assassinos? Este ao meu ver é o pricipal dilema apresentado pela trama. Nesse longa, de forma brilhante, o diretor consegue transitar cinematograficamente de situações de extrema calmaria para momentos de extremo caos. "É um ópera para os olhos". E falando em ópera, chegamos ao ponto que queremos. Na cena que pode ser vista logo abaixo, Coppola usa como trilha a Cavalgada das Valquírias de autoria do alemão Richard Wagner. O alinhamento dos helicópteros, o avançar milimetricamente relacionado com o mover das ondas, o ataque. Tudo isso está em perfeita harmonia com a composição que a música requer sendo ao mesmo tempo, fúria e leveza. E é por tudo isso que essa é a nossa sexta Boas cenas, belas músicas.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

U 2ube, uma parceria histórica

Foto 1 - Expectativa poucos minutos antes do show no site do youtube. Clique na imagem para ampliá-la.

Há pouco mais de uma hora acabou em Los Angeles mais um show da banda irlandesa U2 da turnê 360º, comentada neste blog. Só que dessa vez, a perfomance do quarteto pode ser vista ao vivo pelo buscador de vídeos mais popular do mundo, o youtube. Com músicas do novo trabalho, e claro, suas clássicas, Bono e seus fiéis escudeiros emocionaram o público presente no estádio, e os que acompanhavam via internet.

Foto 2 - Anúncio do show na página do U2 no youtube

Antes do início da apresentação, enquanto o grupo se encaminhava ao palco, ouvíamos ao fundo, a canção Space Oddity, uma clássica do David Bowie. Mas às 01:05, na madrugada do Recife, Larry Mullen Jr., o baterista do U2, entrava no palco e iniciava o show, empolgando o público com a primeira música da noite, Breathe que pertence ao mais recente álbum, No line on the horizon. Depois dessa, ouvimos Get on your boots, que tal como a terceira da noite - o hit Magnificent, também pertence ao novo trabalho deles. Nesse ínterim, Bono saúda algumas cidades do mundo e diz: 'What time is it in the world and where are we going?' Ele estava se referindo ao fato de que naquela noite a turne 360º do U2 estar atravessando as fronteiras de vários países em todos os continentes simultaneamente, alcançando milhares de pessoas ao redor do planeta.

Posteriormente, com novos arranjos vemos a perfomance de duas canções que levam a plateia ao delírio. Estamos falando de Mysterious Ways e Beautiful Day. O show estava apenas começando e eu já pensava: A única coisa ruim é que não posso sentir a vibe do Rose Bowl Stadium, mas a transmissão estava melhor do que ver o show da área VIP. Depois disso, a sexta canção - I still haven't found what I'm looking for - nela, o público canta com Bono, e é de arrepiar. Porém, mais emoções estavam para chegar, em seguida, ouvimos um cover da clássica Stand by me, se me permitem, o momento foi do caralho!

Depois, ouvimos Stuck in a moment, presente no trabalho da banda de 2000, apenas com o violão do The Edge. A oitava música é a que leva o nome do álbum - No line on the horizon -, depois dela ouvimos a empolgante Elevation, seguida de In a litte while que teve participação de um astronauta em órbita. A décima primeira canção foi Unknown caller do novo cd do U2. Enquanto isso, a participação dos telespectadores era intensa. O youtube em associação com o Twitter atualizava as postagens dos cadastrados que estavam vendo e comentando a apresentação. Os comentários não paravam de chegar, inclusive, com grande presença brasileira.

A décima segunda canção foi - Until the end of the world - e com ela, o show completava uma hora. E o que falar? Até o momento estava tudo perfeito, tanto a transmissão extraordinária do youtube, quanto a apresentação excitante e incrível dos irlandeses. Depois foi a vez de Unforgettable fire, que poderia muito bem ser utilizado para descrever a apresentação, Unforgettable show. O U2 mostrava mais uma vez porque é uma das maiores, se não a maior, banda em atividade do planeta.

Foto 3 - Imagem de divulgação na página do U2 na internet

Ainda ouviríamos, City of blinding lights, Vertigo e a saudação de Bono ao mexicanos, com um "Vamos muchachos, are you ready?" Em seguida seria a vez de novos e antigos sucessos, como, I'll go crazy - remix, Sunday Bloody Sunday, MLK, Walk on e One. Neste momento, eu já sabia que o U2 seria notícia nos jornais de todo o mundo nesta segunda por conta da apresentação histórica que estava fazendo.

Mais ainda não estávamos no fim, o grupo ainda tinha preparado mais quatro músicas. A incrível, Where the streets have no name, Ultraviolet, With or without you e a Moment of surrender. Moment of surrender foi a última canção, mas como o título sugere, o público já havia se entregue e chegado ao êxtase há bastante tempo. Nesse momento, era a plateia que iluminava o estádio com os seus celulares tornando a festa mais bela. Este foi o fim de mais um grande show desse quarteto com mais de 30 anos de estrada. Foi um grande e inesquecível concerto, com um pouco mais de duas horas de duração. Tudo isso que descrevi só foi possível graças a internet, e a vontade dos produtores do show do U2 e do youtube. Será essa uma possibilidade para os shows do futuro?

domingo, 25 de outubro de 2009

O escafandro e a borboleta (2007)

Logo na cena inicial do filme, nós percebemos que ele é dirigido para o telespectador. Por que digo isso? Quem você acha que a enfermeira avisa estar saindo de um sono profundo? O paciente (Jean-Dominique Bauby) ou nós mesmos? Para mim, o recado é para nós. "Mantenha os olhos abertos, abra bem os olhos!" Você tem dúvida de quem é o paciente?

Foto 1 - O Grito (1893) de Edvard Munch e um escafandro

A prisão do personagem, para ele mesmo, é o escafandro. Essa é uma analogia com a angústia moderna de muitas vezes se sentir incapaz de amar, de se expressar ou de conviver. Em O Grito, quadro do pintor norueguês Edvard Munch, percebemos o mesmo sentimento de claustrofobia do filme comentado aqui. Como reverter essa situação? A resposta dada pelo longa é que devemos recorrer a nossa humanidade, combinar nossa memória a nossa imaginação.

Em muitos momentos há uma identificação do que acontece com o ator principal e nossas vidas. Coisa do tipo, acorde, e vá viver! Sentimento do que poderia ter sido, mas que não foi. Algum momento que poderia mudar toda uma vida, mas que a exitação ou o medo do desconhecido acabou com a possibilidade. Isso fica bem evidente em uma das falas transcritas abaixo:
Hoje percebo que toda a minha existência é uma cadeia de pequenos erros. Mulheres que não fui capaz de amar, chances que não pude aproveitar, momentos de felicidade que deixei escapar. Uma carreira cujo resultado me era conhecido de antemão, mas que na qual fui incapaz de apostar e ser um vencedor. Estava cego ou surdo? Ou precisava de uma desgraça para ver meu verdadeiro ser?
A intenção deste post não é contar a história da película, mas apreender aquilo que ela possui de geral. As pessoas tem que aprender a se desprender de casos particulares, tanto no cotidiano, quanto na leitura de filmes. Exemplos às vezes são importantíssimos, mas não são suficientes para se compreender o nível macro de análise. Nesse sentido, para além do fato do Jean-Dominique Bauby, interpretado por Mathieu Amalric ter sofrido um acidente vascular cerebral que o deixou totalmente paralisado com exceção do seu olho esquerdo, há a beleza da superação de alguém que se comunica de uma forma lenta, silenciosa e bastante trabalhosa.

Já li por ai que a película torna-se lenta e desinteressante, na minha visão, essa é uma análise descuidada. Mesmo com um protagonista inerte por questões físicas e um repetição incrível do alfabeto, as técnicas cinematográficas utilizadas pelo diretor fazem o longa torna-se cada vez mais interessante. Por exemplo, o fechar e abrir do diafragma da câmera que proporciona a impressão da abertura e fechamento do olho esquerdo do "Jean-Do". Além disso, todas as intervenções do diretor para explicar acontecimentos do passado e as voz interna do protagonista, que fecha muitas vezes o raciocínio dos diálogos, são trabalhadas de maneira ágil e perspicaz por mais antagônico que isso possa parecer. Sutileza, é a palavra de ordem do longa, daí sua analogia com a borboleta. Assim, O Escafandro e a Borboleta (2007) é uma leitura sobre aprisionamento e liberdade, humanidade e imaginação. É um filme que ensina como se adaptar a um ambiente adverso, não sem tocar nas incertezas e frustrações que isso gera. Mostra que viver significa mais que um corpo em movimento, é imaginação, sonhos e ambições.

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P.S.: U2 nesta madrugada do domingo para a segunda no youtube. Mais informações sobre o show que será transmitido, clique aqui. Vídeo promocional da transmissão do show logo abaixo:

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Bastardos Inglórios (2009), a História do Cinema sendo escrita

Foto 1 - Tarantino e parte do elenco de Bastardos Inglórios (2009)

Hoje, eu vi a minha segunda boa surpresa do ano no campo do Cinema. Sem dúvida, a mais recente obra do Tarantino é um dos melhores filmes lançados em 2009. Uma coisa: Quem se importa se a trama segue ou não os manuais de História? Particularmente, não faço a mínima questão, se estivesse a fim de "veracidade" pegaria o velho livro do Eric Hobsbawm para ler. Entretanto, fui ao cinema sabendo que entraria mais uma vez em um mundo particular, onde figuram, Cães de Aluguel, Pulp Fiction, Kill Bill, dentre outros.

Saí do cinema pensando como foi em 1950 o lançamento do filme All About Eve e como era o Recife daquela época. Ou como reagiu o público ao ver A Clockwork Orange em 1971, Taxi Driver em 1976, ou Apocalipse Now em 1979, apenas para citar alguns expoentes da sétima arte. Após essa viagem, volto, e observo o trânsito da cidade às 20 horas da noite. E concluo, que apesar de tudo, prefiro viver nos dias atuais. Entretanto, a inquietação permanece, como as pessoas reagiram a atuação de Bette Davis em uma de suas melhores apresentações? Qual a reação dos espectadores diante do comportamento desviante da gang de Kubrick? Ou ainda, teria sido na estreia inesquecíveis a atuação de Robert De Niro, a trilha sonora de Bernard Herrmann e a direção de Scorsese? Como reagiu a crítica ao épico de Coppola e sua trilha sonora de primeira grandeza? Provavelmente nunca saberei, mas hoje, acredito ter visto o surgimento de um novo clássico da sétima arte à moda de Quentin Tarantino, é claro!

Diálogos inteligentes e atuações marcantes são os pontos fortes do longa. Cinismo, medo e vingança são as palavras-chave das interpretações, destaco, o Brad Pitt como o Tenente Aldo Raine e o Christoph Waltz como o Coronel Hans Landa, que sendo sincero, eu não conhecia. Mesmo sendo um filme onde a violência está presente e a morte é recorrente, ele nos faz sorrir. É isso mesmo, o grotesco ou as distorções que se distanciam da normalidade estão sempre suscetíveis ao cômico. O longa contém um humor negro e refinado que soa mais à ironia que ao deboche. Hitler e seus fantoches do primeiro escalão, como Joseph Goebbels, são tratados como pessoas mimadas e afetadas. A película de fato tem o propósito de por o dedo na ferida (quem viu Bastardos Inglórios sabe do que estou falando), sem falar da cena final, o ápice. Onde realmente é mostrado quem são os verdadeiros ratos correndo contra a morte em um porão.

Considero até o momento o melhor filme da temporada, inclusive, com as melhores atuações, tanto melhor ator (Brad Pitt), como melhor ator coadjuvante (Christoph Waltz), principalmente. Sem falar na originalidade do roteiro, teremos boas notícias no Oscar 2010, eu espero. Tarantino fez algo irretocável, onde o espectador consegue absorver o enredo, e não acha estranha as paradas para explicar a vida pregressa de determinados personagens, ou as setas que indicam alguém que merece ser destacado. O argumento é desenvolvido brilhantemente e mesmo o aparecimento repentino de novos personagens na trama não o tornam desfocado ou cansativo, seus pontos fortes são a coerência artística, a coesão narrativa e a beleza estética. As peças do seu quebra-cabeça se encaixam perfeitamente no que se refere à lógica cinematográfica.

De fato, é um diretor e roteirista mais consciente das ferramentas cinematográficas que possui. Não é novidade para ninguém a forma como ele costuma dividir suas películas, ou as interrupções que faz para explicar coisas, ou ainda, o tom sarcástico dos seus diálogos e o surgimento de personagens "quase que do nada", entretanto, tudo isso imprime sua marca no filme, mas tudo é feito com sutileza e sem excessos. Não há violência gratuita, nem diálogo impensado, sabemos que por trás disso há alguém mais experiente e maduro. Tudo isso significa que por mais paradoxal que possa ser, o longa do Tarantino, ao mesmo tempo que subverte a História ao seu bel-prazer em Bastardos Inglórios, faz História nas páginas douradas da sétima arte.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Nova maratona de cinema

Dessa vez é para os admiradores do cinema de animação. O II Festival Internacional de Cinema de Animação de Pernambuco ocorrerá entre os dias 18 e 22 de novembro, no Cine Teatro Apolo e no Cinema da FUNDAJ - Derby. Na programação está prevista a exibição de curtas metragens, curtas metragens infantis, longas metragens, videoclipes musicais de animação e filmes de animação publicitário. Para inscrições e mais informações, clique aqui. Observação: A programação ainda não foi divulgada no site.

sábado, 17 de outubro de 2009

Saramago mais ativo do que nunca

Saramago, em nova entrevista, atacou o poder da igreja e as novas forças políticas que ganham força na Europa. Não é novidade de sua crença no ateísmo, e de suas preocupações com o significado da democracia com a qual convivemos. Sobre sua entrevista, destaco alguns pontos. Ele chamou as opiniões da igreja católica de neomedievalismo universal e foi além,

"As insolências reacionárias da Igreja Católica precisam ser combatidas com a insolência da inteligência viva, do bom senso, da palavra responsável. Não podemos permitir que a verdade seja ofendida todos os dias por supostos representantes de Deus na Terra, os quais, na verdade, só tem interesse no poder", afirmou.

Todas as vezes que leio sobre suas críticas a respeito da religião ocidental penso no livro, O Evangelho Segundo Jesus Cristo (1991), onde fala o seguinte:

“O filho de José e Maria nasceu como todos os filhos dos homens, sujo do sangue de sua mãe, viscoso das suas mucosidades e sofrendo em silêncio. Chorou porque o fizeram chorar, e chorará por esse mesmo e único motivo.”

Quer desconstrução mais poética, bela e sensata da sacralidade em torno de Jesus? Só no mais recente livro do português que se chama Caim. Nele, os personagens são as figuras bíblicas de Caim que matou o irmão Abel, Deus e a Humanidade nas suas diferentes expressões.

Com relação a Política, alerta para o resurgimento de ações, no caso, neonazista pelo mundo, em especial, na Europa. Segundo ele,

"temos que nos preparar para enfrentar o ódio e a sede de vingança que os fascistas estão alimentando".

Fontes: 1 e 2.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Fernanda Montenegro

Ela é a única que me faz perder tempo vendo novela. Quer dizer, quando ela está, eu não perco tempo, eu ganho inspiração. Eu sei que ela não gosta de ser chamada de dama do teatro brasileiro, entretanto, gosta de ter seu trabalho reconhecido. Possui um repertório incrível de mulheres que vai do cômico ao transcedental. Dona de uma indicação ao Oscar em 1999 onde concorria com Meryl Streep, Cate Blanchett, Emily Watson, Gwyneth Paltrow (por ordem de excelência, sendo mais claro, em ordem decrescente de talento). Nesse mesmo ano, recebeu o Prêmio de Melhor Atriz do Ano pela National Board of Review (Associação Norte-Americana de Críticos de Cinema), juntando-se a atrizes como, Joan Crawford, Olivia deHavilland, Gloria Swanson, Grace Kelly, Ingrid Bergman, Elizabeth Taylor, Liv Ullmann e Meryl Streep. Recebeu também o Urso de Prata do Festival de Berlin por sua atuação em Central do Brasil. Abaixo pode-se ver o vídeo com a participação da atriz no Oscar 1999. Obs.: Até parecia que a Meryl Streep levaria mais um para casa.


Sem falar das suas atuações em Eles não usam black-tie, O auto da compadecida, Amor nos tempos do cólera, e claro, Central do Brasil. Esse breve post é para mostrar minha admiração por esta grande estrela do teatro que hoje completa 80 anos de puro sucesso e dedicação à arte de interpretar. Clique aqui, para ver o que ela anda fazendo no momento.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Luto é diferente de culpa

Foto 1 - Cena inicial do longa O Anticristo (2009)

*O comentário a seguir revela alguns pontos do filme.


Luto é diferente de culpa, essa foi a primeira coisa que pensei ao ver o choro de Charlotte Gainsbourg. O filme O Anticristo (2009) é uma tradução das realidades humanas. Ele incita questões como: Mais vale o prazer que a razão? Quais as consequencias de escolher o prazer a obrigação? Grande parte do longa você fica sem entender nada. Tudo se encaminha para um grande "pastelão". Mas, uma cena nos revela tudo. Toda a aparente loucura começa a fazer sentido. Descobrir que Charlotte tinha conhecimento que o filho acordava durante à noite e que o mais agravante, antes do suicídio do garoto, tinha o visto, mas preferiu o prazer a cuidar dele, muda completamente a interpretação sobre a trama.

O que é conviver com o sentimento de culpa? O casal interpretado por Charlotte Gainsbourg e Willem Dafoe vive em um ambiente bastante hóstil. Pelo mostrado, pouco dialogam e por isso, possuem vários segredos. Como por exemplo, Dafoe não sabia que a esposa não acabara sua tese, mesmo tendo criticado anteriormente, a relevância do trabalho. Ou seja, total indiferença frente ao sucesso dela. Além disso, é bastante arrogante, intelectualmente falando, apenas a razão explica a realidade, essa é a sua visão. Sabendo que podia ter evitado o acidente que ocasionou a morte do filho ela passa a se privar do prazer. É isso mesmo! O fato dela durante o filme mostrar-se uma compulsiva por sexo, não significa que sentia prazer com ele. Pelo contrário, tentava através dele escapar da dura realidade, pois no momento da morte do filho, eles estavam transando.

Depois disso, passa a se punir chegando à loucura. Todas as multilações que faz contra si e contra o marido é resultado da sua auto-sanção. Entre passagens onde é difícil distinguir se são reais ou imaginárias, vemos a imagem da dor, da angústia, do medo e da CULPA. Luto segundo o dicionário Sacconi é uma manifestação formal e convencional de tristeza ou pesar pela morte de uma pessoa. A mãe da qual falo nesse post tem uma dificuldade imensa de superar esse estado. Com uma bela fotografia durante a película, uma cena mostra o que acabo de escrever. É a cena em que ela tenta atravessar uma ponte, mas não consegue. Uma ponte como todo mundo sabe é uma construção sobre um curso de água (obstáculo) que permite a passagem de uma margem a outra. Figurativamente, a falta de capacidade em transpor este obstáculo indica que há algo de estranho nesse luto, que é normal, mas é um rito de passagem. Por isso, sua culpa, que segundo o dicionário Sacconi, e que é mostrado na película do Lars von Trier é um ato ou omissão que merece severo castigo ou rigorosa repreensão.

Ela é uma mãe relapsa que possuia a mania de calçar os sapatos do filho de forma trocada. Isso, provavelmete, há muito tempo, visto que a criança desenvolveu uma deformidade óssea em um dos pés. Uma hipótese é que era proposital, e que de fato, sua escolha pelo prazer já estivesse preanunciada. Isso fica evidente quando Defoe fala que muitas mulheres foram mortas no século XVI, mesmo sendo inocentes (isso porque o tema de estudo dela era o feminicídio). E logo depois disso, a sua esposa fala que as mulheres em natureza são falsas. Quando não olho a olho, pelas costas. Daí sua discussão sobre a natureza boa ou má da humanidade. Daí também o proposital nome do jardim, Éden, onde segundo a tradição judaico-cristã nasce o mal, e o pecado original.

Concordo que há alguns problemas no longa, principalmente, aos "acidentes" que ocorrem nele. Não há quem suporte a dor de ter o pênis praticamente esmagado, e a tíbia transpassada. Não há quem saísse se arrastando após isso, e ainda ter entrado em um buraco. Chegando no buraco, ele tem uma caixa de fósforos, como se fosse normal as pessoas andarem com isso. Entretanto, Lars von Trier mostra como o sentimento de culpa desemboca em eventos que ou levam à loucura ou à morte. Dor, angústia e luto são acentuados quando percebemos nossa culpa. Para além do caso específico do filme, sua realidade, há uma temática trazida à tona com um tom aparentemente nonsense, para quem quiser vê-lo assim. O Anticristo (2009) é a tradução não apenas da dor, mas da dor acentuada pela culpa. Não é um filme de terror, mas um longa que mostra os horrores humanos.

Para ler o livro do Friedrich Nietzsche que tem como título, o mesmo do filme, clique aqui.

Dia do Professor

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Maratona de Cinema

A 2ª edição do festival Janela Internacional de Cinema do Recife vai levar ao Cinema da Fundação e ao Cine-Teatro Apolo, entre sexta-feira (16) e sábado, 24 de outubro, a exibição de 150 filmes nacionais e internacionais, entre curtas e longas-metragens. Entre os longas está o novo filme do Almodóvar, Los Abrazos Rotos que será mostrado antes mesmo de entrar em cartaz nos cinemas comerciais da cidade. Abaixo, vinheta da mostra recifense.


Para ter acesso a programação do evento e obter maiores informações, clique aqui.

Fonte: Site pe360graus.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Los Abrazos Rotos, Caetano Veloso e Woody Allen

Depois de falar ontem sobre o filme Los Abrazos Rotos és que surge a seguinte notícia: Elenco de filme de Almodóvar reclama que filme não vai disputar Oscar. Tudo começou porque a Academia Espanhola de Cinema não colocou o filme do Almodóvar entre os três finalistas para concorrer a uma indicação ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Entretanto, ainda há esperança que o longa concorra ao prêmio, pois a mesma situação já aconteceu com o diretor, só que o ano era 2003, e a película, Fale com ela (2002). Com esse filme, Almodóvar foi indicado ao Oscar de Melhor Diretor, e levou o Oscar de Melhor Roteiro Original. Logo, vamos ter paciência!

Outra coisa que encontrei navegando pela net foi uma entrevista do Caetano Veloso sobre o diretor americano Woody Allen. Olha o tom da matéria: WOODY ALLEN É UM “CINEASTA PEQUENO”, “UM CARETA” DE “VISÃO ESTREITA” E “FRASES BRILHANTES”. ASSINADO: CAETANO VELOSO. Para ler entrevista, basta clicar no hiperlink.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

"Abraços Inglórios"

Pedro Almodóvar e Penelópe Cruz estão juntos divulgando o novo filme do diretor espanhol, estrelado pela melhor atriz coadjuvante de 2009, segundo o prêmio Oscar. "Abraços partidos" estreou domingo (11) no Festival de Cinema de Nova York. Na oportunidade, Almodóvar falou do seu projeto para um novo filme. Ele disse que já visitou algumas locações para o novo longa, mas que "ainda é muito cedo para falar sobre isso". "No ano que vem poderei dar mais detalhes", assegurou. Além disso, disse que Los Abrazos Rotos foi bem recebido pela crítica em Cannes e em Toronto. Entretanto, o diretor considera essa película mais complexa e menos acessível que Volver, por ex.. O filme deve estar estreando no final de novembro, aqui pelo Brasil. Abaixo pode-se ver o trailer.


Outra boa pedida, esse já acessível, é o novo longa do Quentin Tarantino. O nome, Bastardos Inglórios, dele, já ouvi duas boas recomendações de dois colegas. Essa semana devo estar indo vê-lo. O trailer já é bastante intrigante, você pode vê-lo logo abaixo. E clicando aqui, você pode ler uma entrevista com o diretor. Ele disse, "Uau! Esse cara é muito lindo!", referindo-se ao Brad Pitt.

domingo, 11 de outubro de 2009

ALL ABOUT BETTE DAVIS - Parte VII

BETTE DAVIS REPERCURTINDO AINDA HOJE


Bette Davis como todo grande astro não se reduziu a influenciar no âmbito apenas do Cinema. Seu modo de ser criou admiradores na música, e em todas as áreas da vida social. Vários artistas fizeram referência a essa dama do cinema mundial.

Bob Dylan admirava em Bette o modo como colocava suas mãos nos bolsos de trás das suas roupas enquanto interpretava, na música Desolation Row (And puts her hands in her back pockets Bette Davis style). O The Kinks, na música Celluloid Heroes, fala que devemos ficar de pé diante de Bette Davis porque ela teve uma vida solitária (But stand close by Bette Davis because hers was such a lonely life). Já Kim Carnes canta a beleza da expressividade dos olhos de Bette, em Bette Davis Eyes. E Madonna se junta a esse coro na música Vogue, dizendo a Bette Davis que nós a amamos.

Curiosidade. Descobri qual drink Bette Davis adorava. No vídeo abaixo vocês vão saber qual é, e como se faz ele.


Abaixo é possível ver um vídeo que a Meryl Streep fez homenageando Bette Davis. Ela conta que ter a oportunidade de ver Bette foi tornar um sonho em verdade. Para ela, Bette foi a maior atriz de todos os tempos. Fala sobre a briga de Bette com os estúdios por conta dos péssimos scripts que lhe eram dados para interpretar. Isso era prova da sua determinação. Quando recebeu a carta de Bette quase morreu, ela foi a sua inspiração. Por conta dos filmes clássicos de Bette Davis, Meryl Streep tornou-se quem ela é.


Com este último post encerro nossa semana comemorativa. Durante toda esta semana, passeamos pela vida, pelos filmes marcantes da sua carreira, pela repercussão da sua morte e do seu nome no meio artístico. A conclusão, é que a forma como ela encarou a vida foi admirável. E por isso foi e é inesquecível.

Para ver as outras partes: parte 1, parte 2, parte 3, parte 4, parte 5, parte 6

sábado, 10 de outubro de 2009

ALL ABOUT BETTE DAVIS - Parte VI

A REPERCUSSÃO DA MORTE DE BETTE DAVIS PELO MUNDO

Foto 1 - Bette repelindo os fotógrafos em sua viagem a Londres

Abaixo, vídeo exibido no dia 06 de outubro de 2009, lembrando os 20 anos da morte de Bette, no Em cima da hora da Globo news. A breve reportagem tem algumas imprecisões, mas o importante é que ela foi lembrada.


Clicando aqui, pode-se ver como a morte de Bette Davis foi anunciada há 20 anos atrás no Jornal Nacional. Mais uma vez, há uma série de imperfeições nas notícias relatadas. Por exemplo, dizer que o filme Jezebel (1938) se passava no Texas, quando na verdade passa-se no estado da Louisiana, na cidade de New Orleans. Depois diz que o último filme da estrela foi As baleias de outono, quando na verdade a tradução é, As baleias de agosto (1987), que mesmo assim, ainda não foi sua última película.

Já a repercussão da notícia na BBC News há 20 anos atrás foi assim:


Na ITN a notícia foi dada assim:


Já na Headline News pertencente a CNN:


Nos jornais e revistas pelo mundo ela também foi lembrada. No Brasil, tanto na Veja quanto no Jornal do Brasil.

Foto 2 - Notícia da morte de Bette no Jornal do Brasil

Foto 3 - Notícia da morte de Bette e sua carreira (com imprecisões) na revista Veja. Clicando na imagem é possível vê-la em tamanho maior.

Clicando aqui é possível ler matéria publicada no The New York Times (Bette Davis, a Queen of Hollywood, Dies at 81), e clicando aqui, matéria publicada no Le Monde (La mort de Bette Davis L'actrice américaine est décédée vendredi à l'âge de quatre-vingt-un ans, dans un hôpital parisien).

Para ver as outras partes: parte 1, parte 2, parte 3, parte 4, parte 5, parte 7

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

ALL ABOUT BETTE DAVIS - Parte V

BETTE DAVIS: SEUS ÚLTIMOS SUCESSOS E ÚLTIMOS ANOS DE VIDA

Foto 1 - Bette Davis com o então marido Gary Merrill e os filhos

Após sair da Warner Bros., aos 42 anos de idade, Bette ficou só pela primeira vez e com uma filha de dois anos. Na mesma época, divorciou-se do seu terceiro marido. Exatamente neste período propuseram a ela a personagem Margo Channing. O filme foi All About Eve e o ano 1950. Depois das filmagens Bette "fugiu" para o México com o ator Gary Merrill que viveu o diretor Bill Sampson no longa. Lá, eles adotaram duas crianças, mas depois de 10 anos juntos, seu quarto casamento também chegava ao fim.

Foto 2 - Cena do filme All About Eve (1950), Anne Baxter (Eve) e Bette Davis (Margo Channing)

Na véspera das filmagens de All About Eve, Edmundo Goulding, que dirigiu Bette em Dark Victory, telefonou para Mankiewicz e disse: “Ficou maluco, rapaz? Como pode contratar essa mulher? Ela o destruirá. Vai transformá-lo em pó bem fino e soprá-lo para longe. Você é um escritor, rapaz. Ela chegará ao set com uma resma de papel e com um lápis. Em seguida, reescreverá tudo. Então ela, e não você, dirigirá o filme. Anote bem minhas palavras.”

Mankiewicz conta que no primeiro dia de filmagem não tirou da cabeça as palavras de Goulding. Ele ajustou as antenas para captar possíveis avisos de tempestade. A Srta. Davis chegou ao set completamente vestida e maquiada, pelo menos, quinze minutos antes da hora marcada. Acendeu um cigarro e abriu o script – não, conforme notei imediatamente, na página da cena que filmaríamos naquela manhã. Seu desempenho foi perfeito. Cada sílaba foi perfeita. Não houve hesitação em busca de palavras. Ela assumira totalmente as falas – como Margo Channing. Eis o sonho de qualquer diretor: a atriz preparada.

Paralelamente ao seu novo casamento que, de forma surpreendente, a encheu de otimismo, Bette teve um triunfo no sucesso internacional de All About Eve. Sua interpretação de Margo Channing, a um só tempo extravagante, absurda, trágica e espirituosa, valeu-lhe os mais rasgados elogios que recebeu em muitos anos. Seu desempenho brilhantemente constante era o resultado de anos de refinamento técnico; acima de tudo, o desenvolvimento de uma vivência perspicaz e sábia, lapidada pela experiência. Margo Channing e All About Eve representaram o clímax da carreira de Bette Davis. É DE ABISMAR QUE ELA NÃO TENHA RECEBIDO O OSCAR PELO TRABALHO. Mas foi consolada pelo Prêmio do Círculo de Cinema de Nova York, pelo Prêmio dos Críticos de São Francisco, pelo Prêmio do Festival de Cannes como melhor atriz e pela nona indicação ao Oscar. Abaixo, pode-se ver uma das cenas clássicas do filme, quando Margo Channig diz: Fasten your seatbelts, it's going to be a bumpy night!


No dia da entrega do Prêmio Oscar todos aguardavam por uma notícia espetacular. Quando as palavras “E a vencedora do prêmio de melhor atriz é...” vieram pelo rádio, Bette levantou-se de um salto. Quando escutou a conclusão “Judy Holliday”, sentou-se bruscamente. Ela também concorria com Gloria Swanson por sua performance em Crepúsculo dos Deuses (1950), outro clássico e outra interpretação brilhante, e com Anne Baxter que fez o papel de Eve em All About Eve. Muito estranho o Oscar não ter ido para Bette ou Glória Swanson. Mais uma “brincadeira” do júri da Academia. Após ouvir o resultado, desempenhou diante de todos que estavam com ela o maior papel da sua vida, mentindo com consumada valentia: “Isso é ótimo! Ganhou uma novata! Eu não poderia estar mais satisfeita!” Ninguém acreditou nela, como também não acredito, e interpreto sua reação como possuindo um fortíssimo teor irônico.

Foto 3 - Bette Davis, ou melhor, Margaret Elliot passeando embriagada com Oscar

Depois do sucesso estrondoso de All About Eve os sinais de declínio eram visíveis. Nada mais ocorreu em sua carreira tirando fracassos melodramáticos e papéis secundários em filmes sem importância. Para os críticos um desses deprimentes exemplos é The Star (1953) que mostra a história de uma atriz decadente, reduzida a vender lingerie, discutir com a família e dirigir embriagada através de Beverly Hills, cenário do seu passado de glória. Isso foi um prato cheio para os críticos. Um convite para as críticas que afirmavam que ela era um fracasso por demais evidente. Escreviam coisas do tipo, “As orquídeas... os casacos de pele... as jóias... tudo que pertencia à estrela se foi... e nada restou... senão a mulher!” Qualquer semelhança com Crepúsculo dos Deuses (1950) acredito ser proposital. A única coisa boa, é que seu desempenho rendeu sua décima indicação ao Oscar de melhor atriz.

Foto 4 - Cartaz do filme The Catered Affair (1956)

Em 1956, The Catered Affair, foi mais um prova de fogo dada a atriz. Ela vivia a transição da juventude para a maturidade. O papel de mãe abandona qualquer característica romântica de papéis interpretados anteriormente. Adeus a mocinha romântica. Sua performance nesse filme continua sendo uma das suas realizações culminantes. Ela conseguiu controlar todos os seus maneirismos e problemas a fim de produzir um desempenho rigoroso e magnificamente realista. Nesse ínterim, doenças, problemas familiares e a morte da sua mãe Ruthie, tudo isso acontecendo numa época de pouca satisfação profissional. Trabalhava por muito menos dinheiro, e em filmes arriscados e de baixo orçamento.

Foto 5 - Glenn Ford e Bette Davis (nos extremos) numa cena do filme Pocketful of Miracles (1961)

Em 1961, aceita fazer Pocketful of Miracles, dirigido por Frank Capra, onde vivia Apple Annie. Glenn Ford que já trabalhara com Bette em A Stolen Life (1946) deu uma infeliz entrevista dizendo que o papel interpretado por Bette em Pocketful of Miracles a resgataria da obscuridade, e que ele colaboraria com isso. Bette leu a entrevista de Glenn e ficou furiosa como o diabo, conta Capra. Berrou para ele: “Quem esse filho da puta pensa que é para dizer que me ajudou a retornar! Eu nunca deveria ter voltado a Hollywood! Odeio vocês todos! E Apple Annie, acima de tudo! Aquele merdinha não me ajudaria a sair de um esgoto! Eu deveria estar doida quando voltei!” Não é preciso dizer que depois disso o clima nas filmagens ficou bastante pesado.

Foto 6 - Ruthie, mãe de Bette, e Bette

Nos últimos dias das filmagens de Pocketful of Miracles, Bette foi surpreendida pela morte súbita de Ruthie. Nos últimos anos, Ruthie afastara-se um pouco da vida da filha, mas a influência dominante da mãe na carreira dela persistia e jamais seria esquecida. Basicamente, o livro escrito por Bette, The Lonely Life trata da sua extraordinária mãe.

Foto 7 - Bette Davis, Jack Warner e Joan Crawford antes do início das filmagens de What ever happened to Baby Jane? (1962)

Em 1962, somos premiados com o filme, What ever happened to Baby Jane? O mesmo, a devolve ao estrelato e lhe custou a sua décima primeira indicação ao Oscar. O longa é a história de duas ex-atrizes infantis que residiam em Hollywood no começo da velhice. É estrelado por Bette Davis e Joan Crawford. Isso produziu um efeito impactante, um pacote eletrizante, carregado de energia e foi altamente sensacional. Para Robert Aldrich, o diretor do longa, Joan e Bette não tiveram brigas em Baby Jane. Comportaram-se com absoluta perfeição. Jamais deixaram escapar uma palavra abrasiva. Não tentaram roubar as cenas uma da outra.

Foto 8 - Robert Aldrich e Bette Davis discutindo cena do filme What ever happened to Baby Jane? (1962). Ensaio da cena em que Baby Jane "espanca" sua irmã Blanche. Atenção para a concentração de Bette.

O resultado foi que os desempenhos de Bette e Joan foram admiráveis sob todos os aspectos. Em vez de simples figuras grotescas, criaram personagens tocantes e convincentes. As cenas foram excepcionalmente interpretadas e dirigidas. O filme sustentou um clima de pesadelo cru, sem sentimentalismos, que se adequava perfeitamente a atmosfera de Hollywood. Lembrando que o filme foi gravado para a Warner Bros. o antigo estúdio de Bette. A seguir, Baby Jane (Bette Davis) cantando a música I've written a letter to daddy. Simplesmente, imperdível!


Curiosidade sobre Bette e Joan. Joan Crawford, bem como o seu rosto grande e imponente, usava pesados e ligeiramente ameaçadores agasalhos de pele. Tinha um ar intimidador que desafiava fortemente tanto amizade quanto inimizade. Crawford também nutria há anos um desejo secreto por Bette. A mais sofredora das estrelas do cinema adorava a maior atriz, tanto sexual como profissionalmente. Assim que chegou à Warner Brothers nos anos de 1940, passou a enviar perfumes, flores e cartas implorando que Bette fosse jantar com ela. Bette não gostava dessas gentilezas da colega e devolvia todos os presentes, agradecendo a consideração dela.

Provavelmete no intuito de promover o filme, Bette escreveu nos classificados de um jornal de Hollywood o seguinte anuncio:

Foto 9 - Anúncio publicado no The Hollywood Reporter em 1962

ARTISTA PROCURA EMPREGO. Americana, divorciada, mãe de três filhos (10, 11 e 15 anos). Trinta anos de experiência como atriz de cinema. Ainda em condições de movimentar-se e mais afável do que dizem os rumores. Procura emprego fixo em Hollywood. (Fartou-se da Broadway.) Respostas para: Bette Davis a/c Martin Baum, G.A.C. DÁ REFERÊNCIAS.

A opinião geral em Hollywood foi que isto significava que Bette estava arruinada. Mas não era muito bem isso. Felizmente, as excelentes críticas tanto para Baby Jane quanto para o livro The Lonely Life, seu livro de memórias, seguido pelo enorme sucesso comercial de Baby Jane, tornaram sem sentido os comentários negativos dos inimigos de Bette.

Tentando repetir o sucesso do filme What ever happened to Baby Jane?, Aldrich dirigiu Hush... hush, sweet Charlotte (1964) tentando juntar novamente Bette e Joan. Mas isso não foi possível e quem acabou ao seu lado foi sua amiga, Olivia DeHavilland e Joseph Cotten. É claro que o filme não chega nem aos pés do seu antecessor, mas tem boas participações dos experientes atores. Abaixo duas boas cenas do longa. Em ambos, pode-se ver estampado no rosto de Bette Davis (Charlotte) os sintomas da loucura, e no de Olivia DeHavilland (Miriam) o ódio que sente pela prima.



A verdade é que após seus últimos sucessos no começo dos anos de 1960, ela não logrou êxito em nenhum outro projeto no cinema... Tentou várias vezes voltar ao teatro, mas sentia-se nervosa e pouco confiante. Entretanto, havia formado um público que independentemente do que fizesse a seguia e a aplaudia chegando a causar inveja no restante do elenco. A plateia chegava ao êxtase quando a via interpretar!

Foto 10 - Bette Davis como Mrs. Taggart em The Anniversary (1968)

Um filme que ainda não vi, mas que sinto vontade de assistir é The Anniversary (1968). Ele conta a história de uma mãe terrível, grosseira, possessiva e maníaca. Nesse papel, Bette usa uma venda no olho esquerdo o que acentua seu caráter extravagante e excêntrico, mas que ela detestava ter que usar. Detalhe, a cor da venda varia de acordo com a cor da roupa. Só a cena em que Bette desce a escada é imperdível, ela é o exemplo de que nem todas as mães vão para o céu. Ver trailer a seguir.


Foto 11 - Bette Davis como Bette Davis

Até seu último ano de vida ela trabalhou. Seus dois últimos longas, que preciso ver, são: The Whales of August de 1987 e Wicked Stepmother de 1989. Já nos últimos anos de vida, dizia: “Gosto de trabalhar. Acho que por isso continuo viva. De vez em quando tem um papel e digo: Quem dera tivesse uns 40 anos a menos para poder fazê-lo. Foi incrível que uma tímida garota de Boston tivesse uma vida assim.”

Bette ainda conservou seu senso de humor. Ao completar 70 anos recebeu os amigos com o rosto pintado de preto empunhando um banjo. Em 1977, recebeu o prêmio por realização em vida atribuído pelo American Film Institute. Em 1989, após ser homenageada na Espanha em um festival, teve problemas de saúde. Debilitada para enfrentar uma longa viagem até os Estados Unidos, viajou até a França. Pouco tempo depois, no dia 06 de outubro de 1989 viera a falecer.

Foto 12 - Lápide de Bette Davis onde pode ser lido o seu epitáfio: She did it the hard way. Clicando na foto, pode-se ver a foto maior.

Seu epitáfio é o seguinte: “She did it the hard way”. Sem dúvida, isso resume a história de vida dela. Ela percorreu o caminho que escolheu para sua vida de maneira dolorosa e difícil. A vida não lhe foi fácil e o sucesso nem sempre bateu à sua porta. Durante toda essa semana, resumi a difícil trajetória dessa grande estrela do cinema americano, que em pouco tempo, se tornou para muitos, e para mim, na primeira dama da sétima arte. Sua saída do seio de uma família puritana do estado de Massachusetts, sua entrada para cursos de teatro, as recusas. Ao seu lado, sua mãe divorciada, que muitas vezes de maneira compulsiva e instintiva seria capaz de matar e morrer para que a filha chegasse ao estrelato. Aliado a isso, uma irmã que sofria de transtornos mentais, e precisava de cuidados especiais. Tudo isso, os esforços da mãe, a saúde frágil da irmã, as recusas e o difícil caminho para entrar no teatro inicialmente, aumentavam sua ânsia de aperfeiçoamento e sua persistência atrás do sucesso. Vencedora duas vezes do Oscar, o maior prêmio da Academia Americana de Cinematografia, ostenta 11 indicações, sendo uma delas, sem estar nos boletins de voto. Durante muito tempo foi a recordista em indicações, hoje, superada por Katharine Hepburn com 12 indicações e Meryl Streep com 15 indicações ao prêmio.

Bette nunca possuiu a beleza de outras atrizes, mas sempre foi dona de um talento nato e em constante aperfeiçoamento. Tornou-se detentora de um vasto repertório com grandes interpretações e grandes papéis ao longo da carreira. Desde mocinhas dominadoras e maniqueístas a mulheres maduras e em crise, com ênfase para os seus dois últimos sucessos, All About Eve (1950) e What ever happened to Baby Jane? (1962). Observação, em um desses dois últimos deveria ter levado o Oscar de melhor atriz. Ela foi a prova viva de que perseverança e busca noite e dia por um objetivo faz você alcançá-lo. Entretanto, essa procura incessante teve um preço. No seu caso, no final dos anos de 1940, já era reconhecidamente a maior atriz do cinema mundial, mas esse posto alcançado precisava ser mantido. E foi, só que ao custo de não gozar de uma vida particular tranquila. Sempre em relacionamentos turbulentos, e tendo sempre que arcar com elevados custos de vida seja seu ou de seus familiares, não parava um minuto de trabalhar. E isso se refletia na sua saúde bastante frágil. Em um mundo de resultados como era o da indústria cinematográfica de Hollywood houve épocas em que chegou a fazer cinco filmes seguidos em apenas um ano, tudo isso sem férias ou descanso. Também criou muitas inimizades, a título de grande rainha do cinema, mandava e desmandava nas produções. Certos diretores e atores a odiavam, pois com ela, não havia moleza, era uma grande profissional. Mesmo aparentemente sendo muito séria possuía um humor sagaz bastante aguçado, além de um coração prestativo para aqueles que se demonstravam interessados em progredir. Fez amigos, mas sua lista de inimigos não era pequena.

Foi uma mulher batalhadora que cuidou bem do seu espaço, inteligente e forte. Lutou por seus direitos e arrematou uma multidão de fãs, dentre eles, esse que vos fala. Segundo ela mesma, “Foi incrível, que uma tímida garota de Boston, tivesse uma vida assim.” E eu agradeço por ela ter vivido, e por ela ter se entregado tão sagazmente à arte de interpretar. Há 20 anos que ela nos deixou, mas para os apreciadores do bom cinema, a impressão é que ela está viva, acessível através de seus filmes que nunca deixarão de ser exibidos na televisão, nas coleções de DVD ou nas biografias escritas ao seu respeito. E esse culto em torno do nome de um artista é reservado apenas àqueles que aqui pisaram e conseguiram deixar sua marca. E que marca ela nos deixou!

Todos os textos dessa série especial foram baseados no documentário, Bette Davis: A Basically Benevolent Volcano (1983) e no seguinte livro biográfico: HIGHAM, Charles, 1931-; MATTA, Luiz Horacio da.. Bette Davis. Rio de Janeiro: F. Alves, 1983, ((Coleção Presença)).

IMPORTANTE: Grande parte das imagens que constam nesse especial foram coletadas do google imagens. Por favor, se alguém achar que a imagem foi tirada do seu blog, entre em contato que eu dou os créditos, ou ponho até o logo do tal blog na foto.

No fim de semana, encerrando essa semana comemorativa, pretendo postar alguns vídeos coletados da internet, onde se pode observar como seu nome, ainda hoje em dia, repercute.

Para ver as outras partes: parte 1, parte 2, parte 3, parte 4, parte 6, parte 7

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

ALL ABOUT BETTE DAVIS - Parte IV


BETTE DAVIS E SEUS ÚLTIMOS ANOS NA WARNER BROS.

No final dos anos de 1930, Bette Davis encontrava-se no auge de sua carreira. Ainda assim, sua vida era desprovida de encanto, cheia de doenças, exaustão e depressão. Com dois Oscar ao seu favor, um número enorme de críticas elogiosas que a proclamavam a maior atriz do cinema, incontáveis artigos em revistas de cinema, a adoração de incontáveis fãs, era uma mulher cujo brilhantismo e agressividade a impediam de conseguir completa satisfação em seus relacionamentos.

Bette, durante um período de 1941, assumiu a prestigiosa posição de presidente da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas. De início foi empolgante, mas depois percebeu o seu erro. Ela não dispunha de tempo para cuidar dos assuntos da Academia. Tinha várias preocupações com o novo filme, além de enfrentar problemas de saúde. Ela entrou em confronto com os membros diretivos quanto a questões de orientação e se surpreendeu ao encontrar um clima bastante conservador e retrógrado nos altos escalões. Pediu demissão após os conflitos, e aparentemente parecia derrotada, mas após sua saída, suas sugestões foram estritamente acatadas.

Foto 1 - Bette no filme Now, Voyager (1942)

Em 1942, interpretou Charlotte Vale em Now, Voyager, uma mulher tímida e reprimida por uma mãe autoritária. Esta mesma mulher, após um tratamento psicológico torna-se autoconfiante e determinada, passando de uma mulher estranhamente feia para outra charmosamente bela. O estilo da produção é muito similar com Casablanca também rodado nesse mesmo ano. Chamo o filme de Bette da filmagem menos famosa de Casablanca que também foi produzida pela Warner Bros.. Este último se passa no Marrocos, já Now, Voyager tem algumas cenas do Rio de Janeiro. Por sinal, Bette dá uma ponta de guia turística da cidade maravilhosa. Não há dúvida de que foi um bom filme – ele foi bem feito, bem acabado, um trabalho de profissionais, peritos no assunto.

Hoje em dia, Now, Voyager é um clássico, uma obra-prima de sentimentalismo. O filme proporcionou nos tempos difíceis de guerra que uma mulher feia e reprimida pudesse através de tratamento psicológico e de um amante chegar a um estado sublime. Na bela cena final, podemos ouvir Bette dizer ao seu amante, “Por que pedir a lua? Temos as estrelas!” ("Oh, Jerry, don't let's ask for the moon... we have the stars"), isso é um apelo a tornar o público simpático ao longa e com pouca vontade de sair da sala de exibição. Ou seja, por que ser a esposa se era possível ser amante? Na vida, há sempre uma segunda escolha para tudo. A seguir, pode-se ver a cena a qual me refiro.


Todos os formidáveis recursos da época foram empregados na película, a música pulsante de Max Steiner, com ricas e doces melodias, mas acima de tudo, o desempenho dela, da Miss Davis. Bette possui uma energia, um ímpeto e um encanto que diálogo nenhum é capaz de derrotar. Parecendo acreditar no enredo, a estrela quase nos obriga a aceitá-lo. A palavra de ordem de Bette sempre foi superação, a cada filme melhorava. Até esse momento, Now, Voyager foi seu longa de maior sucesso. As garotas que se identificavam com ela (Charlotte Vale) passaram a enviar cartas ao monte para a estrela, e isso, rendeu a ela sua sétima indicação ao Oscar, sendo o record (igualado, mas não superado) de cinco indicações seguidas, no período de 1938 – 1942.

Curiosidade, isso eu não sabia. Bette era extremamente supersticiosa. Ninguém podia assoviar nem usar meias verdes em seu camarim. Se alguém derramava sal, ela precisava jogar sal por cima do ombro imediatamente. Vivia batendo em madeira. Nunca passava sob uma escada ou abria um guarda-chuva dentro de casa.

Foto 2 - A amiga e atriz Olivia de Havilland definindo Bette como um vulcão benévolo em constante erupção.

Em 1937, contracenou pela primeira vez com Olivia de Havilland que viria a se tornar uma grande amiga, o filme, It's Love I'm After. Trabalhariam juntas ainda em, The Private Lives of Elizabeth and Essex (1939), In This Our Life (1942), Thank Your Lucky Stars (1943) e Hush... Hush, Sweet Charlotte (1964). A seguir, pode-se ver o carinho que ambas sentiam por sua amizade anos depois.


O verão de 1942 foi o melhor período da vida de Bette – talvez a única época em que tenha conseguido satisfação e felicidade, tanto em nível pessoal quanto profissional. Neste período, ela tinha 34 anos, um casamento feliz com um homem a quem respeitava, conseguira um maravilhoso sucesso de bilheteria, estava envolvida no projeto da Cantina Hollywood, a saúde melhorava e estava com um temperamento bastante sereno. Mas toda essa boa fase logo viria a mudar. A Cantina Hollywood foi um projeto na época da guerra a fim de entreter os militares que nunca haviam tido contato com as estrelas do cinema. Bette em uma atitude patriótica também realizou propagandas (comerciais) que buscavam o apoio e solidariedade do povo norte-americano com a causa.

Em 1943, estrelou em Old Acquaintance, ao lado de um antigo desafeto, Miriam Hopkins. O filme tornou-se um grande sucesso junto ao público. Bette teve a competição ideal no conflito de personalidades que deu ao longa a atração de uma luta de egos. Todas as pessoas ligadas à indústria cinematográfica não deixaram de vê-lo. Sabia-se tanto a respeito das filmagens que se tornou um dos filmes mais comentados do ano. Sobre a cena que se pode ver abaixo, no dia de sua gravação foi difícil encontrar espaço no estúdio. Todos esperavam ansiosos pela cena. Mas Miriam sabia que era o ápice do filme para Bette, entretanto, esse ápice dependia dela. E é claro que ela não colaborou. E houveram várias tomadas. Miriam não lutava contra Bette, e fez corpo mole, literalmente. O que era impossível, já que Bette tinha que a sacudir e jogar no sofá. Mas mesmo assim, a cena ficou boa, e melhor ainda, é ver Miriam esperneando depois. A cena pode ser vista logo abaixo.


Foto 3 - Bette como Fanny Trellis em Mr. Skeffington (1944)

A oitava indicação de Bette ao Oscar veio em 1944 após interpretar Fanny Trellis, em Mr. Skeffington. Entretanto, a indicação não veio sem críticas. Bosley Crowther, o todo poderoso crítico de cinema do New York Times direcionou um ataque contra o filme, condenando-o assim como toda a interpretação de Bette. Ele julgou o caráter de Fanny insuportável e o desempenho de Bette excessivamente pedante. Em minha opinião então, isso significa que Bette acertou mais uma vez. Fanny era uma bela mulher que sempre chamou a atenção dos outros, fútil e em certos pontos desprezível, sempre foi rodeada de admiradores. Nunca consolidou nenhum relacionamento, nem mesmo com a sua filha. Por isso, nada mais normal que ela fosse e que Bette a interpretasse com pedantismo.

Foto 4 - Oscar de Bette por sua atuação em Jezebel (1938)

Bette diz que “Sempre me pareceu uma honra e gostei de receber prêmios. Sempre tive sorte com os prêmios. Gosto de mantê-los lustrados e exibidos em um lugar destacado. Os chamo de meu “sangue, suor e lágrimas” já que, sem dúvidas, é isso.” Realmente, lendo sua biografia, entendi porque chamava seus prêmios de seu “sangue, suor e lágrimas”.

Em 1946, o relacionamento de Bette com Jack Warner começava a declinar. O fato era que seus filmes já não rendiam os exorbitantes lucros de outrora. Além disso, uma nova indústria, mas implacável, era menos indulgente quanto ao comportamento das antigas estrelas.

Foto 5 - Bette no set de gravação de Beyond the Forest (1949)

Beyond the Forest (1949) foi uma experiência frustrante. Cansada da produção, Bette pediu várias vezes sua saída do filme. Mas Jack Warner não lhe dava atenção. Mas ela diz, “Se após várias demonstrações do que queria na carreira, e após 18 anos no estúdio, tinha que discutir sobre algo que não gostava era a hora de ir embora". Tinha um contrato por mais 10 anos, mas não hesitou, ligou para o Sr. Warner às 03:00 hs e pediu a rescisão do contrato, em troca, ficaria até o fim das gravações do filme. Ele aceitou.

Segundo muitos, Beyond the Forest, foi o início de uma nítida mudança em sua abordagem de interpretação, uma espécie de exagero de todos os elementos que a distinguiam como atriz. Esse filme provocou a ira dos críticos e consequentemente as piores críticas da sua carreira. “Se Bette Davis tivesse querido arruinar a sua carreira não podia ter escolhido jeito melhor.” Ou, “Bette Davis chegou num ponto da sua carreira na qual é melhor dar uma pausa e colocar na balança futuros projetos e sucessos passados.”

A realidade era evidente. Os filmes de Bette eram, no momento, mais dispendiosos de fazer que os das outras estrelas. Além disso, eles não vinham fazendo sucesso de bilheteria. E isso, era tudo o que importava em Hollywood. Ao pedir rescisão de contrato, foi dispensada sem qualquer hesitação. Bette protagonizou grandes sucessos na Warner, mais de 50 filmes e uma galeria incrível de importantes personagens, mas seu ciclo havia chegado ao fim. O novo período da vida de Bette Davis iniciava-se, e esse é o tema do nosso próximo post.

Para ver as outras partes: parte 1, parte 2, parte 3, parte 5, parte 6, parte 7