domingo, 25 de outubro de 2009

O escafandro e a borboleta (2007)

Logo na cena inicial do filme, nós percebemos que ele é dirigido para o telespectador. Por que digo isso? Quem você acha que a enfermeira avisa estar saindo de um sono profundo? O paciente (Jean-Dominique Bauby) ou nós mesmos? Para mim, o recado é para nós. "Mantenha os olhos abertos, abra bem os olhos!" Você tem dúvida de quem é o paciente?

Foto 1 - O Grito (1893) de Edvard Munch e um escafandro

A prisão do personagem, para ele mesmo, é o escafandro. Essa é uma analogia com a angústia moderna de muitas vezes se sentir incapaz de amar, de se expressar ou de conviver. Em O Grito, quadro do pintor norueguês Edvard Munch, percebemos o mesmo sentimento de claustrofobia do filme comentado aqui. Como reverter essa situação? A resposta dada pelo longa é que devemos recorrer a nossa humanidade, combinar nossa memória a nossa imaginação.

Em muitos momentos há uma identificação do que acontece com o ator principal e nossas vidas. Coisa do tipo, acorde, e vá viver! Sentimento do que poderia ter sido, mas que não foi. Algum momento que poderia mudar toda uma vida, mas que a exitação ou o medo do desconhecido acabou com a possibilidade. Isso fica bem evidente em uma das falas transcritas abaixo:
Hoje percebo que toda a minha existência é uma cadeia de pequenos erros. Mulheres que não fui capaz de amar, chances que não pude aproveitar, momentos de felicidade que deixei escapar. Uma carreira cujo resultado me era conhecido de antemão, mas que na qual fui incapaz de apostar e ser um vencedor. Estava cego ou surdo? Ou precisava de uma desgraça para ver meu verdadeiro ser?
A intenção deste post não é contar a história da película, mas apreender aquilo que ela possui de geral. As pessoas tem que aprender a se desprender de casos particulares, tanto no cotidiano, quanto na leitura de filmes. Exemplos às vezes são importantíssimos, mas não são suficientes para se compreender o nível macro de análise. Nesse sentido, para além do fato do Jean-Dominique Bauby, interpretado por Mathieu Amalric ter sofrido um acidente vascular cerebral que o deixou totalmente paralisado com exceção do seu olho esquerdo, há a beleza da superação de alguém que se comunica de uma forma lenta, silenciosa e bastante trabalhosa.

Já li por ai que a película torna-se lenta e desinteressante, na minha visão, essa é uma análise descuidada. Mesmo com um protagonista inerte por questões físicas e um repetição incrível do alfabeto, as técnicas cinematográficas utilizadas pelo diretor fazem o longa torna-se cada vez mais interessante. Por exemplo, o fechar e abrir do diafragma da câmera que proporciona a impressão da abertura e fechamento do olho esquerdo do "Jean-Do". Além disso, todas as intervenções do diretor para explicar acontecimentos do passado e as voz interna do protagonista, que fecha muitas vezes o raciocínio dos diálogos, são trabalhadas de maneira ágil e perspicaz por mais antagônico que isso possa parecer. Sutileza, é a palavra de ordem do longa, daí sua analogia com a borboleta. Assim, O Escafandro e a Borboleta (2007) é uma leitura sobre aprisionamento e liberdade, humanidade e imaginação. É um filme que ensina como se adaptar a um ambiente adverso, não sem tocar nas incertezas e frustrações que isso gera. Mostra que viver significa mais que um corpo em movimento, é imaginação, sonhos e ambições.

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P.S.: U2 nesta madrugada do domingo para a segunda no youtube. Mais informações sobre o show que será transmitido, clique aqui. Vídeo promocional da transmissão do show logo abaixo:

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