quinta-feira, 8 de outubro de 2009

ALL ABOUT BETTE DAVIS - Parte IV


BETTE DAVIS E SEUS ÚLTIMOS ANOS NA WARNER BROS.

No final dos anos de 1930, Bette Davis encontrava-se no auge de sua carreira. Ainda assim, sua vida era desprovida de encanto, cheia de doenças, exaustão e depressão. Com dois Oscar ao seu favor, um número enorme de críticas elogiosas que a proclamavam a maior atriz do cinema, incontáveis artigos em revistas de cinema, a adoração de incontáveis fãs, era uma mulher cujo brilhantismo e agressividade a impediam de conseguir completa satisfação em seus relacionamentos.

Bette, durante um período de 1941, assumiu a prestigiosa posição de presidente da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas. De início foi empolgante, mas depois percebeu o seu erro. Ela não dispunha de tempo para cuidar dos assuntos da Academia. Tinha várias preocupações com o novo filme, além de enfrentar problemas de saúde. Ela entrou em confronto com os membros diretivos quanto a questões de orientação e se surpreendeu ao encontrar um clima bastante conservador e retrógrado nos altos escalões. Pediu demissão após os conflitos, e aparentemente parecia derrotada, mas após sua saída, suas sugestões foram estritamente acatadas.

Foto 1 - Bette no filme Now, Voyager (1942)

Em 1942, interpretou Charlotte Vale em Now, Voyager, uma mulher tímida e reprimida por uma mãe autoritária. Esta mesma mulher, após um tratamento psicológico torna-se autoconfiante e determinada, passando de uma mulher estranhamente feia para outra charmosamente bela. O estilo da produção é muito similar com Casablanca também rodado nesse mesmo ano. Chamo o filme de Bette da filmagem menos famosa de Casablanca que também foi produzida pela Warner Bros.. Este último se passa no Marrocos, já Now, Voyager tem algumas cenas do Rio de Janeiro. Por sinal, Bette dá uma ponta de guia turística da cidade maravilhosa. Não há dúvida de que foi um bom filme – ele foi bem feito, bem acabado, um trabalho de profissionais, peritos no assunto.

Hoje em dia, Now, Voyager é um clássico, uma obra-prima de sentimentalismo. O filme proporcionou nos tempos difíceis de guerra que uma mulher feia e reprimida pudesse através de tratamento psicológico e de um amante chegar a um estado sublime. Na bela cena final, podemos ouvir Bette dizer ao seu amante, “Por que pedir a lua? Temos as estrelas!” ("Oh, Jerry, don't let's ask for the moon... we have the stars"), isso é um apelo a tornar o público simpático ao longa e com pouca vontade de sair da sala de exibição. Ou seja, por que ser a esposa se era possível ser amante? Na vida, há sempre uma segunda escolha para tudo. A seguir, pode-se ver a cena a qual me refiro.


Todos os formidáveis recursos da época foram empregados na película, a música pulsante de Max Steiner, com ricas e doces melodias, mas acima de tudo, o desempenho dela, da Miss Davis. Bette possui uma energia, um ímpeto e um encanto que diálogo nenhum é capaz de derrotar. Parecendo acreditar no enredo, a estrela quase nos obriga a aceitá-lo. A palavra de ordem de Bette sempre foi superação, a cada filme melhorava. Até esse momento, Now, Voyager foi seu longa de maior sucesso. As garotas que se identificavam com ela (Charlotte Vale) passaram a enviar cartas ao monte para a estrela, e isso, rendeu a ela sua sétima indicação ao Oscar, sendo o record (igualado, mas não superado) de cinco indicações seguidas, no período de 1938 – 1942.

Curiosidade, isso eu não sabia. Bette era extremamente supersticiosa. Ninguém podia assoviar nem usar meias verdes em seu camarim. Se alguém derramava sal, ela precisava jogar sal por cima do ombro imediatamente. Vivia batendo em madeira. Nunca passava sob uma escada ou abria um guarda-chuva dentro de casa.

Foto 2 - A amiga e atriz Olivia de Havilland definindo Bette como um vulcão benévolo em constante erupção.

Em 1937, contracenou pela primeira vez com Olivia de Havilland que viria a se tornar uma grande amiga, o filme, It's Love I'm After. Trabalhariam juntas ainda em, The Private Lives of Elizabeth and Essex (1939), In This Our Life (1942), Thank Your Lucky Stars (1943) e Hush... Hush, Sweet Charlotte (1964). A seguir, pode-se ver o carinho que ambas sentiam por sua amizade anos depois.


O verão de 1942 foi o melhor período da vida de Bette – talvez a única época em que tenha conseguido satisfação e felicidade, tanto em nível pessoal quanto profissional. Neste período, ela tinha 34 anos, um casamento feliz com um homem a quem respeitava, conseguira um maravilhoso sucesso de bilheteria, estava envolvida no projeto da Cantina Hollywood, a saúde melhorava e estava com um temperamento bastante sereno. Mas toda essa boa fase logo viria a mudar. A Cantina Hollywood foi um projeto na época da guerra a fim de entreter os militares que nunca haviam tido contato com as estrelas do cinema. Bette em uma atitude patriótica também realizou propagandas (comerciais) que buscavam o apoio e solidariedade do povo norte-americano com a causa.

Em 1943, estrelou em Old Acquaintance, ao lado de um antigo desafeto, Miriam Hopkins. O filme tornou-se um grande sucesso junto ao público. Bette teve a competição ideal no conflito de personalidades que deu ao longa a atração de uma luta de egos. Todas as pessoas ligadas à indústria cinematográfica não deixaram de vê-lo. Sabia-se tanto a respeito das filmagens que se tornou um dos filmes mais comentados do ano. Sobre a cena que se pode ver abaixo, no dia de sua gravação foi difícil encontrar espaço no estúdio. Todos esperavam ansiosos pela cena. Mas Miriam sabia que era o ápice do filme para Bette, entretanto, esse ápice dependia dela. E é claro que ela não colaborou. E houveram várias tomadas. Miriam não lutava contra Bette, e fez corpo mole, literalmente. O que era impossível, já que Bette tinha que a sacudir e jogar no sofá. Mas mesmo assim, a cena ficou boa, e melhor ainda, é ver Miriam esperneando depois. A cena pode ser vista logo abaixo.


Foto 3 - Bette como Fanny Trellis em Mr. Skeffington (1944)

A oitava indicação de Bette ao Oscar veio em 1944 após interpretar Fanny Trellis, em Mr. Skeffington. Entretanto, a indicação não veio sem críticas. Bosley Crowther, o todo poderoso crítico de cinema do New York Times direcionou um ataque contra o filme, condenando-o assim como toda a interpretação de Bette. Ele julgou o caráter de Fanny insuportável e o desempenho de Bette excessivamente pedante. Em minha opinião então, isso significa que Bette acertou mais uma vez. Fanny era uma bela mulher que sempre chamou a atenção dos outros, fútil e em certos pontos desprezível, sempre foi rodeada de admiradores. Nunca consolidou nenhum relacionamento, nem mesmo com a sua filha. Por isso, nada mais normal que ela fosse e que Bette a interpretasse com pedantismo.

Foto 4 - Oscar de Bette por sua atuação em Jezebel (1938)

Bette diz que “Sempre me pareceu uma honra e gostei de receber prêmios. Sempre tive sorte com os prêmios. Gosto de mantê-los lustrados e exibidos em um lugar destacado. Os chamo de meu “sangue, suor e lágrimas” já que, sem dúvidas, é isso.” Realmente, lendo sua biografia, entendi porque chamava seus prêmios de seu “sangue, suor e lágrimas”.

Em 1946, o relacionamento de Bette com Jack Warner começava a declinar. O fato era que seus filmes já não rendiam os exorbitantes lucros de outrora. Além disso, uma nova indústria, mas implacável, era menos indulgente quanto ao comportamento das antigas estrelas.

Foto 5 - Bette no set de gravação de Beyond the Forest (1949)

Beyond the Forest (1949) foi uma experiência frustrante. Cansada da produção, Bette pediu várias vezes sua saída do filme. Mas Jack Warner não lhe dava atenção. Mas ela diz, “Se após várias demonstrações do que queria na carreira, e após 18 anos no estúdio, tinha que discutir sobre algo que não gostava era a hora de ir embora". Tinha um contrato por mais 10 anos, mas não hesitou, ligou para o Sr. Warner às 03:00 hs e pediu a rescisão do contrato, em troca, ficaria até o fim das gravações do filme. Ele aceitou.

Segundo muitos, Beyond the Forest, foi o início de uma nítida mudança em sua abordagem de interpretação, uma espécie de exagero de todos os elementos que a distinguiam como atriz. Esse filme provocou a ira dos críticos e consequentemente as piores críticas da sua carreira. “Se Bette Davis tivesse querido arruinar a sua carreira não podia ter escolhido jeito melhor.” Ou, “Bette Davis chegou num ponto da sua carreira na qual é melhor dar uma pausa e colocar na balança futuros projetos e sucessos passados.”

A realidade era evidente. Os filmes de Bette eram, no momento, mais dispendiosos de fazer que os das outras estrelas. Além disso, eles não vinham fazendo sucesso de bilheteria. E isso, era tudo o que importava em Hollywood. Ao pedir rescisão de contrato, foi dispensada sem qualquer hesitação. Bette protagonizou grandes sucessos na Warner, mais de 50 filmes e uma galeria incrível de importantes personagens, mas seu ciclo havia chegado ao fim. O novo período da vida de Bette Davis iniciava-se, e esse é o tema do nosso próximo post.

Para ver as outras partes: parte 1, parte 2, parte 3, parte 5, parte 6, parte 7

2 comentários:

Jobson disse...

Cara, muito legal seu blog, sou estudante de teatro e o trabalho de Bete Davis é motivo de alegria para muitos!

Santiago. disse...

Olá Macário!

Assim que tive contato com o trabalho da Bette Davis, fiquei completamente embasbacado pelo talento dela. Depois que conheci a sua história de vida, me apaixonei. E, atualmente, ela é inspiração e referência constante.

Abraços!

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