terça-feira, 20 de outubro de 2009

Bastardos Inglórios (2009), a História do Cinema sendo escrita

Foto 1 - Tarantino e parte do elenco de Bastardos Inglórios (2009)

Hoje, eu vi a minha segunda boa surpresa do ano no campo do Cinema. Sem dúvida, a mais recente obra do Tarantino é um dos melhores filmes lançados em 2009. Uma coisa: Quem se importa se a trama segue ou não os manuais de História? Particularmente, não faço a mínima questão, se estivesse a fim de "veracidade" pegaria o velho livro do Eric Hobsbawm para ler. Entretanto, fui ao cinema sabendo que entraria mais uma vez em um mundo particular, onde figuram, Cães de Aluguel, Pulp Fiction, Kill Bill, dentre outros.

Saí do cinema pensando como foi em 1950 o lançamento do filme All About Eve e como era o Recife daquela época. Ou como reagiu o público ao ver A Clockwork Orange em 1971, Taxi Driver em 1976, ou Apocalipse Now em 1979, apenas para citar alguns expoentes da sétima arte. Após essa viagem, volto, e observo o trânsito da cidade às 20 horas da noite. E concluo, que apesar de tudo, prefiro viver nos dias atuais. Entretanto, a inquietação permanece, como as pessoas reagiram a atuação de Bette Davis em uma de suas melhores apresentações? Qual a reação dos espectadores diante do comportamento desviante da gang de Kubrick? Ou ainda, teria sido na estreia inesquecíveis a atuação de Robert De Niro, a trilha sonora de Bernard Herrmann e a direção de Scorsese? Como reagiu a crítica ao épico de Coppola e sua trilha sonora de primeira grandeza? Provavelmente nunca saberei, mas hoje, acredito ter visto o surgimento de um novo clássico da sétima arte à moda de Quentin Tarantino, é claro!

Diálogos inteligentes e atuações marcantes são os pontos fortes do longa. Cinismo, medo e vingança são as palavras-chave das interpretações, destaco, o Brad Pitt como o Tenente Aldo Raine e o Christoph Waltz como o Coronel Hans Landa, que sendo sincero, eu não conhecia. Mesmo sendo um filme onde a violência está presente e a morte é recorrente, ele nos faz sorrir. É isso mesmo, o grotesco ou as distorções que se distanciam da normalidade estão sempre suscetíveis ao cômico. O longa contém um humor negro e refinado que soa mais à ironia que ao deboche. Hitler e seus fantoches do primeiro escalão, como Joseph Goebbels, são tratados como pessoas mimadas e afetadas. A película de fato tem o propósito de por o dedo na ferida (quem viu Bastardos Inglórios sabe do que estou falando), sem falar da cena final, o ápice. Onde realmente é mostrado quem são os verdadeiros ratos correndo contra a morte em um porão.

Considero até o momento o melhor filme da temporada, inclusive, com as melhores atuações, tanto melhor ator (Brad Pitt), como melhor ator coadjuvante (Christoph Waltz), principalmente. Sem falar na originalidade do roteiro, teremos boas notícias no Oscar 2010, eu espero. Tarantino fez algo irretocável, onde o espectador consegue absorver o enredo, e não acha estranha as paradas para explicar a vida pregressa de determinados personagens, ou as setas que indicam alguém que merece ser destacado. O argumento é desenvolvido brilhantemente e mesmo o aparecimento repentino de novos personagens na trama não o tornam desfocado ou cansativo, seus pontos fortes são a coerência artística, a coesão narrativa e a beleza estética. As peças do seu quebra-cabeça se encaixam perfeitamente no que se refere à lógica cinematográfica.

De fato, é um diretor e roteirista mais consciente das ferramentas cinematográficas que possui. Não é novidade para ninguém a forma como ele costuma dividir suas películas, ou as interrupções que faz para explicar coisas, ou ainda, o tom sarcástico dos seus diálogos e o surgimento de personagens "quase que do nada", entretanto, tudo isso imprime sua marca no filme, mas tudo é feito com sutileza e sem excessos. Não há violência gratuita, nem diálogo impensado, sabemos que por trás disso há alguém mais experiente e maduro. Tudo isso significa que por mais paradoxal que possa ser, o longa do Tarantino, ao mesmo tempo que subverte a História ao seu bel-prazer em Bastardos Inglórios, faz História nas páginas douradas da sétima arte.

4 comentários:

Fernando Império disse...

Engraçado, o amigo que assistiu o filme comigo disse a mesma coisa quando saímos do cinema: "acabamos de assistir um clássico da sétima arte." Acho cedo para dizer isso, mas COM TODA CERTEZA é o melhor filme da temporada.

Podíamos fazer um lobby do tipo: Academia entrega logo o oscar de coadjuvante pra Hanz Landa... pra mim ele tá imbátivel... levantei da poltrona do cinema com essa certeza, hehehe.

Belo blog, parabéns!
Abs.

Kamila disse...

Santiago, em primeiro lugar, parabéns pelo blog. Maravilhoso! Virei aqui mais vezes. :-)

Em segundo lugar: "Bastardos Inglórios" vai se tornar mesmo um clássico da sétima arte. Além de um filme de alta qualidade técnica, tem excelente roteiro, um diretor no seu auge e um elenco espetacular - especialmente Waltz.

Só não diria que o filme é uma surpresa, até porque sempre espero essa qualidade dos filmes do Tarantino! :-)

Girabela disse...

Rodrigo, assino embaixo em tudo o que você escreveu. E faço questão de ratificar: Christoph Waltz foi realmente incrível.


Abraços,
Gabriela

Santiago. disse...

Fernando,
é verdade, algo só se torna clássico com o passar do tempo, mas Bastardos possui muitos dos requisitos para receber esse título. E sobre o Christoph Waltz, já estou me tornando repetitivo, mas o cara merece mesmo. Há tempo não vejo um coadjuvante assim, ainda mais, sendo um desconhecido, pelo menos para mim. No mais, volte sempre por aqui.

Abraço.

Kamila,
é, acho que fui infeliz ao usar a palavra "surpresa". Na verdade, não a empreguei no sentido de que não esperava um bom filme do Tarantino. Deveria ter dito apenas que ele é o melhor filme do ano até o momento. No mais, valeu pelo comentário, e volte sempre que quiser.

Abraço.

Gabriela,
você tem toda a razão também. O cara está incrível. Temos que fazer o que o Fernando sugeriu, um lobby para a Academia entregar logo o Oscar dele.

Abraço.

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