Eu preciso iniciar esse post, dizendo que assisti ao filme duas vezes, para que os meus preconceitos não interferissem em minha opinião. Dito isso, e sabendo que é por esse longa que a Sandra Bullock está concorrendo ao Oscar, é necessário salientar que esse prêmio é dado para aqueles que se destacaram durante o ano anterior, sem levar em consideração a contribuição do profissional para o Cinema.
Michael Oher (Quinton Aaron), um garoto pobre, oriundo de uma família totalmente fragmentada e considerado "fugitivo" pelo Estado, tem um talento nato propiciado pelo seu porte físico - é um excelente jogador de futebol americano. Após entrar para uma escola religiosa particular, vê sua vida mudar de rumo, graças a ajuda da Leigh Anne Touhy (Sandra Bullock). Esta última, que em uma decisão instintiva (se é que isso existe), resolve oferecer sua casa para o garoto dormir durante uma noite, sem saber que isso não alteraria apenas a vida dele, como a sua própria. Com problemas de adaptação e socialização, "Big Mike" durante anos, nutriu um sentimento de auto-proteção e de desconfiança perante os outros. No entanto, naqueles em quem confia, passa a ser capaz de protegê-los como a coisa mais preciosa que pode haver. Inclusive, essa sua característica é hiperpotencializada na película, a fim de nos convencer dessa sua qualidade. Algumas coisas parecem ser absurdas, mas tudo bem.
Esse, portanto, é o enredo dirigido por John Lee Hancock. É preciso dizer, que em muitos momentos, há uma forçação de barra. Em si só, a temática já é comovente, e ainda com o auxílio de certas tomadas, e de determinadas trilhas sonoras, o ambiente fica bem mais propício a explosão de emoções. Um bom exemplo para isso, é a cena em que toda a família reunida, pergunta ao rapaz se ele, em outras palavras, quer ser adotado. Com isso, quero dizer que há um maniqueísmo no roteiro, que além disso, é bastante previsível. Para mim, o único momento lúcido e difícil de ser antecipado, são as primeiras cenas. Onde não se sabe porque o Oher está sendo interrogado. No mais, a película é muito superficial, mesmo tratando de temas bem sérios. Além disso, há coisas improváveis como: alguém deixar um total desconhecido dormindo no sofá da sala de sua própria casa, ou, uma galega rica desafiando um traficante sem que nada aconteça a ela. Bom, em The Blind Side tudo isso é possível e acontece.
O momento mais esperado é o de analisar as atuações, e em especial uma, a da Sandra Bullock. Mas antes disso, quero chamar atenção, para o pequeno S.J. Tuohy (Jae Head), que está bem engraçado, e convincente no papel do caçula, que quer "pegar carona" no sucesso do novo irmão (Michael Oher). Já este último, vivido pelo Quinton Aaron, que divide as principais atuações com a Bullock, não está mais que modesto. Realmente, se não fosse o seu tamanho, passaria incrivelmente desapercebido. No entanto, a Bullock está, de fato, muito bem como a dondoca loira, mas nada que justifique tanta mídia e prêmios. Parece que depois de anos, ela acertou no papel. Mas ainda acho que não foi uma atuação dramática muito profunda em nuances e facetas. Não a vejo como melhor do que nenhuma das indicadas ao Oscar 2010, mas espero que ela continue progredindo. Comparada às outras atrizes, sua atuação não é muito significativa, mas analisando suas performances anteriores, é um grande salto.
The Blind Side está longe de ser um grande filme de drama, gênero ao qual ele pretende pertencer. Tudo é muito facilitado para o jovem Michael, não há um grande conflito, e os que aparecem são insípidos, facilmente resolvidos e pouco problematizados. Como síntese de episódios traumáticos e trágicos, tirando o início pouco desenvolvido pelo roteiro, The Blind Side não tem nada. As únicas coisas que o fazem "respirar", é a sua grande bilheteria nos Estados Unidos, e a indicação da Bullock ao Oscar de Melhor Atriz. Se não fosse isso, estaria fadado ao esquecimento.
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The Blind Side (Um Sonho Possível), Estados Unidos - 2009. Dirigido por John Lee Hancock. Com: Sandra Bullock, Kathy Bates. 128 minutos. Gênero: Drama, Esporte.
Nota: 6.5